Quando tudo se desmorona
sexta-feira, setembro 02, 2005
A calamidade causada pelo furacão Katrina trouxe à superfície as divisões raciais e de classe que continuam a ser uma característica da sociedade norte-americana.
Se é verdade que as câmaras de televisão podem distorcer a verdade ao concentrarem-se num aspecto de uma realidade mais vasta, em Nova Orleães não se pode contornar o facto de serem negros e pobres a esmagadora maioria dos deslocados que não têm para onde ir.
Centenas, senão milhares, de norte-americanos de todas as raças perderam os seus haveres e familiares em várias zonas do Alabama e Mississipi, mas são as imagens da cidade de Nova Orleães com milhares de negros isolados, desesperados e em alguns casos a pilharem lojas, farmácias e lojas de armas de fogo que têm enchido os noticiários das cadeias de televisão, fazendo lembrar cenas até agora vistas em locais distantes como a Libéria.
Isto reflecte claramente a pobreza da população negra nas grandes zonas urbanas dos Estados Unidos, tornada mais visível em Nova Orleães por ser uma das cidades norte-americanas onde a maioria da população é negra e onde 33 por cento da população total vive na pobreza.
"Nova Orleães é uma cidade dividida em duas: uma relativamente rica, pequena, e bonita, que é predominantemente branca, e outra que é pobre, grande e feia e é quase totalmente negra", escreveu o comentarista Eugene Robinson.
Dados estatísticos indicam, com efeito, que 67 por cento por cento da população de Nova Orleães é de raça negra. Das sete zonas mais afectadas pelas inundações, cinco são de maioria negra e a pobreza, aí, abrange 34,6% da população, segundo as estatísticas oficiais.
Estes números, no entanto, não reflectem os altos níveis de pobreza em certos "bairros negros" da cidade afectados pelas cheias. Na zona central da cidade (Central City) que está debaixo de água, 87 por cento da população é de raça negra e 50 por cento vive na pobreza.
in Portugal Diário
São situações como esta que me fazem recordar o que aconteceria num caso de calamidade total imaginada por José Saramago em «O Ensaio Sobre a Cegueira», sem dúvida o seu melhor livro. Quem já leu, por certo se recorda. Quem ainda não leu, deve fazê-lo rapidamente. É universal e obrigatório.
Nem simpatizo com a figura, mas enquanto escritor tem méritos indiscutíveis. Há três ou quatro obras dele que me marcaram profundamente: além de «O Ensaio Sobre a Cegueira», também o «Memorial do Convento» e «O Ano da Morte de Ricardo Reis» são livros magníficos. É, sem dúvida, um caso em que o escritor se sobrepõe, em muito, ao homem.
Publicado por André 17:19:00
6 Comments:
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By George Neumayr
Published 9/2/2005 12:12:28 AM
New Orleans has one of the highest murder rates in the country. By mid-August of this year, 192 murders had been committed in New Orleans, "nearly 10 times the national average," reported the Associated Press. Gunfire is so common in New Orleans -- and criminals so fierce -- that when university researchers conducted an experiment last year in which they had cops fire 700 blank rounds in a neighborhood on a random afternoon "no one called to report the gunfire," reported AP.
New Orleans was ripe for collapse. Its dangerous geography, combined with a dangerous culture, made it susceptible to an unfolding catastrophe. Currents of chaos and lawlessness were running through the city long before this week, and they were bound to come to the surface under the pressure of natural disaster and explode in a scene of looting and mayhem.
Like riotous Los Angeles since the 1960s, New Orleans has been a wasteland of politically correct dysfunction for decades -- public schools so obviously decimated vouchers were proposed this year (and torpedoed by the left), barbaric gangster rap culture no one will confront lest they offend liberal pieties, multiculturalist frauds who empower no one but themselves, and cops neutered by the NAACP and ACLU.
Criminals have ruled New Orleans for some time, convincing many members of the middle class, long before the hurricane, that the city was unlivable. In 1994, New Orleans was the murder capital of America. It had 421 murders that year. Criminologists predicted 300 murders this year, a projection that now looks quite conservative.
Criminals dominate their neighborhoods to the point that people don't even call in crimes. The district attorney's office, tacitly admitting that the city's law-abiding citizens live in fear, has taken the "unusual" step of establishing a local witness protection program to encourage the reporting of crime, reports AP.
According to the New Orleans Police Foundation, most murderers get off -- only 1 in 4 are convicted -- and 42 percent of cases involving serious crimes since 2002 have been dropped by prosecutors.
Meanwhile, cops, when they can get away with it, have been living out of town. It is far too scary for them and their families. New Orleans Police officers are required to live in the city but many ignore this residency requirement, according to the Times-Picayune. The paper discovered that many top-ranking New Orleans cops lived in the suburbs and that most cops, both black and white, wanted the residency requirement rescinded.
For reasons of political correctness -- critics of law enforcement say lifting the residency requirement will mean more white cops eager to brutalize residents of the inner city and fewer black cops understanding of them -- the residency requirement remains, though cops breaking the rule told the Times-Picayune that it seriously hurts recruitment. It also -- this is particularly evident in Los Angeles where cops involved in the Ramparts scandal turned out to be ex-criminals -- distorts recruitment.
If the New Orleans Police Department has appeared feeble during the chaos -- and in some cases complicit in it -- policies like the residency requirement explain the breakdown. (Perhaps another factor that has rendered the NOPD feckless in the face of a rising murder rate is the criticism of its handling of a minority Mardi Gras.) Americans who have seen cops join in the looting ask: Why are police officers behaving like criminals? Well, because PC police departments like the NOPD hire them. Aggressive, let's-just-meet-the-quota-style affirmative action has become the door through which criminals enter the police academy.
More than the physical foundations of New Orleans will need to be rebuilt over the next few years. Its politically correct culture in which pathologies are allowed to fester in the name of "progress" forms much of the debris that must be cleared away if civilization is to return to New Orleans. A city which boasts as one of its businesses memorial "death t-shirts" -- clothing made popular by the frequency of gangland slayings in New Orleans that say things like, "Born a Pimp, Died a Playa" -- was headed for collapse even without a hurricane, and had become, as the exodus of cops illustrates, unlivable.
Conservative black leaders have been mau-maued into silence whenever they tell the truth about this barbarism and call for dramatic reform. But they are the ones who must lead the city now, and the phonies at organizations like the NAACP who despite all their rhetoric haven't done a thing to help the black underclass should step aside. Hurricane Katrina has made vivid the civilizational collapse they have long tried to conceal.
George Neumayr is executive editor of The American Spectator.
lucklucky
Interessante a atribução da culpa às organizações para a defesa dos direitos dos negros e dos direitos civis, e a desculpabilização da polícia que se nega a cumprir a lei, e que se entretem com experiências de tiro com pólvora seca, na zona pobre da cidade, para testar o nível da resposta dos cidadãos.
Não me parece que o artigo seja condescendente para a polícia. E note-se que a polícia lá não é centralizada como cá. São os estados e as cidades que as formam e contractam.
Nova Orleans é uma cidade corrupta.
E quando se tem polícias a assaltar lojas 2 dias depois do furacão fica claro que algo não está bem.
lucklucky
lucklucky
A comida armazenada pode ter ficado inatingivel.