Pese embora a minha pouca apetência para consumismo, há um a que tenho enormes dificuldades em resistir – o merchandising de museus, salas de espectáculos, edifícios históricos, festivais e outros acontecimentos. Ele é em forma de lápis, borrachas, marcadores de livros, canecas, tapetes para o rato (só deste artigo conto já a aquisição de 4, tendo apenas 1 computador à secretária). Tudo somado, em €(s), representa uma boa parte da fatia da minha despesa pessoal em artigos supérfluos, para além da escassez de espaço que tanta talha provoca. Por haver muitos como eu, este tipo de comércio ganhou tal importância em quantidade e diversidade que se tornou num recurso fundamental para o desenvolvimento das actividades que dão suporte ao comércio da sua imagem, ao ponto de em casos como museus* já se ter prescindido de cobrar a visita à entrada por se ter concluído que sem a cobrança a afluência de público é muito superior, sendo a quebra desta receita compensada e superada pelas vendas suas lojas e serviços de hotelaria. Este é um nicho de negócio que se desenvolveu ou inspirou na actividade religiosa, tendo sido a igreja católica a primeira a dar-se conta que a imagem dos seus produtos – santinhos e afins – poderia ser explorada com ânimo de lucro. Esta prática comercial é hoje em dia comum em quase todo tipo de eventos e organizações, tendo inclusive observado na última Festa do Avante que a obra artística de Álvaro Cunhal e a imagem que é alusiva ao PCP e à Festa foram postas a render em diferentes suportes que iam desde a agenda, à t-shirt, passando pelo tapete para o rato e outras modalidades inventadas há muito.

Posta a introdução, e atendendo a que sou um consumidor compulsivo de merchandising cultural e uma vítima em potência do ganância de um gestor do sector, venho encarecidamente agradecer ao engº Couto dos Santos, administrador liquidatário da sociedade Casa da Música não ter tornado esta em mais um antro de consumo, evitando-se assim o risco de os muitos milhares que já lá se deslocaram para assistir a espectáculos ou simplesmente conhecer a obra de Ren Koolhaas caírem na tentação de adquirir o seu souvenir, podendo o contributo desta receita para a instituição ser obtida via orçamento de Estado.

* Sobre os museus portugueses, recomenda-se a visita assídua ao Formiga Bargante, talvez o blogue mais bem (in)formado sobre o que se passa no meio e aquele que produz a melhor informação.

Publicado por contra-baixo 08:55:00  

2 Comments:

  1. Anónimo said...
    Não sei se os portuenses terão muito interesse em adquirir réplicas em miniatura da Casa da Música para pisa-papéis.
    Era interessante se nos concertos se pudessem também vender CDs dos músicos que actuam. Eu teria comprado alguns do Andreas Scholl.

    José Manuel
    floreseabelhas said...
    Merchandising na Casa da Música?! Para que tal acontecesse - goste-se ou não - era necessária a existência de uma noção mínima de marketing cultural, o que nao se verifica. O departamento respectivo foi completamente esvaziado, parece que em nome do lema "os nossos amigos vão para os lugares dos outros, mesmo que não percebam nada do assunto".

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