o estad(i)o social

Enquanto por cá, alguns, irresponsáveis, ululam com os resultados, presumível nó cego, das legislativas alemãs, convinha ver um pouco mais além, porque o que está em causa não é apenas o 'Estado Social', e, mesmo que o fosse, mesmo assim a magnitude das reformas a que Schroeder se propôs não tem nada a ver - rigorosamente n-a-d-a - com as mudanças tibias que por cá, se diz, que se irão fazer, não se sabe é quando. Atentemos pois nesta sondagem, à boca da urna, referenciada pelo Pedro Magalhães. Em suma, não terá sido tanto a habilidade ou não da senhora Merkel a decidir dos resultados mas a insegurança individual face aos resultados das reformas, num eleitorado alemão que não tendo grande ilusões no SPD (reconhece-se mais nas propostas económicas da CDU...) se sente mais seguro com este. No fundo, se todos reconhecem a necessidade de reformas, uma boa parte tem medo de ser atingido por estas, daí o voto no... SPD. Se acrescentar-mos a isto os resultados esmagadores na política externa obtidos pelo SPD, que terão pouco a ver com o Iraque e afins e mais com uma visão de 'grande Alemanha', simpática para muitos egos saudosistas, temos um coktail interessante, e péssimo para a Europa, e quem diz para a Europa, diz para todos nós.

Ainda sobre a senhora Merkel, o seu problema não foi a falta de telegenia, a indumentária, não foram as propostas, foi só e apenas um - não era 'política', na acepção helénica do termo, e aprendeu a sê-lo, à pressa, tarde e a más horas. As ilações retirei-as ainda ontem, e, era bom que por cá muito aprendiz de feiticeiro, daqueles que pensam que bastam duas ou três boas ideias, uma cara larocas, e uma máquina oleada por trás, meditasse profundamente nelas. A política é uma arte, e a habilidade, o instinto não se compram, aperfeiçoam-se, mas na essência, ou se tem, ou se não tem.

Publicado por Manuel 12:28:00  

2 Comments:

  1. Anónimo said...
    O resultado eleitoral foi péssimo para a Alemanha e para o resto da Europa. E eu não sou euro-entusiasta. Mas também não é muito surpreendente o impasse, quer pelas razões expostas pelo autor deste tópico, quer pelo facto de este acto eleitoral ter sido antecipado pelo Chanceler para apanhar a CDU impreparada.

    A candidatura de Angela Merkel a Chanceler não teve a unanimidade dentro do partido, e foi mesmo "sabotada" já em campanha eleitoral pela CSU e Edmund Stoiber. Aqueles comentários politicamente incorrectos de Stoiber contra os alemães da antiga RDA foram de propósito. Com mais tempo, a CDU poderia apresentar como candidato a Chanceler um Ministro-Presidente de um Estado Federado, com outro peso no partido, que Merkel não tem por nunca ter ganho uma eleição.

    Agora, desta enorme trapalhada, espero que resulte pelo menos o afastamento de Schröder como Chanceler. Seria inaceitável a sua continuação no poder após 7 anos de incompetência e oportunismo, sem precedentes na Alemanha do pós-guerra. Deverá ser Angela Merkel, ou quem a CDU indicar, a formar o governo com o SPD. Ganharam por pouco, mas ganharam. De resto, o SPD também só teve mais 6 mil votos que a CDU em 2002.
    Anónimo said...
    Este artigo no WSJ explica alguns do falhanços de Merkel.

    http://www.opinionjournal.com/
    diary/?id=110007280

    Ver a disparidade do voto entre o Ocidente e o Leste no link abaixo. Ou como aqueles que construiram o Modelo Social Alemão estavam dispostos a reformá-lo.

    http://medienkritik.typepad.com/


    lucklucky

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