O aviso do dia

A ler, este texto de José Adelino Maltez, no blog Sobre o tempo que passa...


Portugal, onde sociedade civil sempre significou sociedade das ordens e onde pluralismo sempre quis dizer a manutenção das mesmas, corre o risco de assistir a sucessivos confrontos dos gestores do aparelho de Estado com aquilo que Sócrates qualifica como corporações, sem reparar como os efectivos grupos de pressão entraram em regime de clandestinidade. Portugal precisa urgentemente de dignificar os tradicionais grupos que nos deram identidade e que não podem ser confundidos com a face oculta da política.

Precisamos da tropa, não para se fazer um 28 de Maio ou um 25 de Abril, não para que os sargentos e esparsos oficiais organizem uma conspiração que leve Machado Santos a resistir na Rotunda, mas para que o grupo mais treinado nas técnicas e na deontologia de defesa da independência nacional constitua o último quadrado da nossa resistência. Se os senhores políticos e ministros pensam que engoliram as reivindicações dos militares, voltando demagogicamente o povo contra estes pretensos privilegiados, os senhores políticos e ministros não têm competência. O Portugal contemporâneo deixará de o ser se não se entenderem os gritos de revolta do sentinela, alerta!

Precisamos de magistrados, até porque sem partido dos becas não haveria liberalismo em Portugal e não podemos ter que continuar assentes nos erros de comunicação de uma dessas pessoas que não têm jeito para ministros, dado que não podemos confundir as férias judiciais com a falta de um global sentido de reforma do aparelho processual, só porque não há por aí um José Alberto dos Reis e quando poucos têm a coragem de dizer que, o 28 de Maio, a Ditadura Nacional e o Estado Novo foram, nestes domínios, bem mais reformistas do que a democracia, desde um Manuel Rodrigues a um Antunes Varela. E valia mais reconhecermos que a democracia não tem que continuar a pagar a factura dos erros cometidos por Laborinho Lúcio, ou a ter a ilusão de pôr na cadeira ministerial o candidato autárquico Negrão. Quando Maria José Morgado ainda tem muito para dizer e Celeste Cardona fez estágio no Ministério da Justiça para ser administradora da Caixa Geral de Depósitos, podemos concluir como este regime desprezou o sentido mobilizador do Estado de Direito.

Publicado por josé 15:11:00  

6 Comments:

  1. Anónimo said...
    Polícias e militares nas ruas, aparelho judicial em greve. Foi para isto que os portugueses deram o poder absoluto ao PS? Apetece-me dizer que é bem feito para quem votou nesta tralha.

    Mas como eu prezo este país, rezo que Março chegue depressa para que Portugal deixe de ter um Presidente desaparecido em "acção". Como é óbvio irei votar em Cavaco Silva. Nunca foi cavaquista, mas neste momento não há mais nenhum político com prestígio suficiente a quem se possa ter um mínimo de respeito.

    Os portugueses perderam o respeito ao governo. Desde militares a polícias, estamos a assistir à insubordinação da sociedade contra um governo, a quem já não se reconhece autoridade moral para tomar medidas difíceis. Precisamente porque não confia que as medidas difíceis vão resultar, e porque percebe que por detrás do discurso do sacrifício esconde-se muita corrupção ao mais alto nível, envolvendo a reorganização do modelo energético do país e o plano de investimentos públicos anunciados.

    Há cinco anos que se fala em sacrifícios, e no entanto o Bloco Central não sabe patavina do que está a fazer, e os portugueses cada vez vivem pior. Não é de admirar que muita gente comece a não querer apertar mais o cinto.

    Trata-se de confiança, sim senhor. Confiança que os portuguese já não têm neste governo. Por isso, revoltam-se.
    Anónimo said...
    Tretas.

    Alguma vez no regime do Estado Novo (o tal do Antunes Varela)algum político ou autarca, ou militar, respondeu em tribunal por irregularidades cometidas ou crimes no exercício das suas funções? Nada, ZERO!!!

    E neste regime democrático, não há dezenas de autarcas e de políticos nas barras dos tribunais e até condenados? HÁ, MUITOS.

    Portanto, este post vale nada, é poeira.
    josé said...
    Espero que o próprio autor do postal, se aqui aparecer, lhe responda, caro anónimo.
    Se o não fizer, alinhavarei também as minhas impressões. A discordar de si.
    Anónimo said...
    O Anonymous, o maior cego é aquele que não quer ver. Ta a ver.
    Anónimo said...
    Quanto à justiça - e pelo que sei e vou ouvindo - assino por baixo. A.Varela foi o responsável pela construção dos melhores e mais duradouros tribunais portugueses, para além de ter ajudado a fazer um código civil que, pese embora alguns compreensíveis arcaísmos, permanece como exemplo da melhor técnica jurídica.
    Compare-se, aliás, as poucas polémicas que suscita o CC quando comparado com o problemático Código de Processo Penal sobre o qual ninguém se entende ou a igualmente nefasta reforma do Código de Processo Civil nos anos 90.
    Há que dizê-lo. A justiça tem sido mal servida pelos políticos nos últimos anos e, há que dizê-lo também, pelos seus próprios agentes.
    Anónimo said...
    Diz o observer "Os portugueses perderam o respeito ao governo". E argumenta com o protesto de uma série de gente (aqui reduz a sociedade a militares e polícias, mas adivinha-se que gostaria de falar de outros mas não se lembra bem de quem).

    Há várias atitudes que se pode ter perante um cenário destes.
    Pode-se ser carneiro, esquecer a inteligência e o juizo crítico, e dizer "se protestam é porque o governo é mau".
    Se optar por esta, Méééééé para si.
    Diz também que nunca foi cavaquista. Imagina-se então, pelo apreço que demonstra pelos protestos, que foi um dos que andou a mostrar o rabo a Cavaco Silva, e que em última análise com os seus protestos o levou ao clima de tabu e fuga do PSD.
    Mais uma vez para si, Méééééé Méééééé.

    Pode ainda optar por outra atitude, um pouco mais difícil, mas muito estimulante: tentar formar uma opinião.
    O processo é simples: ver cada uma das medidas, tentar percebê-las, perceber se fazem ou não sentido, e depois então optar por apoiar as medidas ou os protestantes.

    É mesmo mais difícil esta opção, e compreendo que por vezes seja mais fácil largar uns quantos Méééééé Méééééé.

    Quanto a mim, e tomando como exemplo a famosa "condição militar" , só posso perceber esta histeria da parte de quem nunca pôs os pés num quartel ou da parte de quem nunca de lá quer sair.

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