a mula da mercearia
terça-feira, agosto 02, 2005
O Dr. Marques Mendes, mal, muito mal, classificou como um "acto descarado de saneamento político" a substituição de quatro membros da administração da Caixa Geral de Depósitos (CGD) anunciada ontem pelo Ministério das Finanças, mais, em declarações ao "Diário Económico", o líder do principal partido da oposição considera que "esta decisão só se explica por uma vontade insaciável de controlar todos os centros de poder", adiantando que, "estando em causa a Caixa Geral de Depósitos e a sua relevância no sistema financeiro português, a decisão assume uma particular gravidade". Marques Mendes afirma ainda que a reformulação da CGD é um reflexo do "carácter de autoritarismo e da arrogância do primeiro-ministro e do seu Governo". Errado, redondamente errado, e ao lado da verdadeira questão. A CGD é um banco público, detido exclusivamente pelo Estado, e com um peso significativo no subsistema bancário e na economia em geral, logo, formalmente, nada mais natural que possa e deva existir uma relação de confiança política entre o Governo e a Administração da CGD, já que em boa medida as acções da administração, para lá da gestão corrente, s(er)ão também uma materialização das políticas do governo. Foi sempre assim, e vai continuar, com as regras presentes, a ser assim. Chorar pelo Dr. Vitor Martins, o saneado, certamente com uma indeminização milionária, nos moldes em que foi feito é pois dispensável, até porque tem subjacente uma certa visão de "partilha" de lugares, de bloco central, perfeitamente dispensável. A verdadeira questão não é pois a substuição de Vitor Martins, nem sequer a subida, normal nestes tempos, do Dr. Vara, esse esteio da inteligentzia socialista, a administrador da CGD, a verdadeira e única questão é o timing e o arrazoado atabalhoado apresentados pelo novo ministro das finanças e o que isso implica e revela. Recorde-se que este, há meia dúzia de dias no cargo, tinha garantido, genericamente, uma continuidade das políticas, de rigor, do crucificado Campos e Cunha, recorde-se que e em relação a estas não haveria divergências entre o Ministério das Finanças e a Administração de Vitor Martins pelo que, é bom de ver, estas só surgiram com a entrada em cena de Teixeira Santos. Se somar-mos a isto os grandes investimentos que Teixeira Santos se comprometeu a caucionar de cruz, que motivaram a saída de Campos e Cunha, está encontrada uma das grandes razões que "fragilizaram, objectivamente, a imagem interna e externa da actual administração, bem como a relação de confiança que deveria existir entre ela e o accionista", do comunicado exarado pelo Ministério das Finanças. Teixeira Santos pretende usar, e pelos vistos Vitor Martins - bem - foi contra, o arcaboiço financeiro da CGD como suporte para engenharias financeiras megalómanas, de viabilidade mais que duvidosa, na certeza de que a banca privada só vai quando e aonde tem a certeza de não perder, ora, com a CGD, o Estado, dono e patrão, já não precisa de fiador. É tão somente isto que está em causa, e não é pouco. Devendo a CGD cumprir e executar as políticas económicas do Governo, até numa óptica normalizadora e reguladora do mercado, até onde é que o Estado, o Governo, pode ir na utilização que faz dos recursos da CGD, que podem aliás por em causa a sua estabilidade futura ? Isto é o importante, isto é o crucial, e mereceria até um comentário do Presidente da República, se tivessemos um, o resto são meras questões de mercearia.
Publicado por Manuel 13:06:00
bruno
E deve dizer-se que a tem feito muito bem...certamente com a ajuda de amigos preciosos que nunca se recusam a ajudar, pois solidariedade, em certos clubes, quer dizer amigo dos amigos. Os italianos, aliás, foram quem inventou o conceito, dando-lhe forma através de uma organização sem grandes formalismos notariais: "cosa nostra" é o nome que lhe deram. Mafia, outros lhe chamam.
Por cá, não é preciso tanto, pois já temos Lojas que cheguem.
E no fundo, vai dar tudo ao mesmo: sendo dos "nossos", merece protecção. Há quem chame a isso nome mais feio: nepotismo. Que vem de nepote, palavra italiana para "sobrinho" e que por isso remete para os tios que como se sabe são muitas vezes padrinhos.
Mas isto é paleio de despeitados, invejosos e ressabiados. Enfim, de recalcados e por isso desprezível.
Porque há sempre a justificação mais consentânea: é dos nosssos; precisamos dele;é fiel e poderemos sempre contar como a sua lealdade;não interessa a sua competência, mas a sua presença em votação;é amigo do seu amigo e se lhe perguntarem por quem vota, dirá sempre: pelo clã! E se lhe perguntarem quais os valores prevalecentes, responderá: a solidariedade e a liberdade!
E se tudo isto estiver enquadrado pela legitimidade democrática do voto ninguém pode dizer mais do que isto: "Armando Vara nomeado para administrador da CGD."
É o que o Público faz hoje.
Pode é perguntar-se: como é que se chegou a isto?!
Mas qual é a admiração?
Afinal ele é menos que aquele tipo (passou-me o nome), ele é agora presidente das "mercearias" de gazolina, esse chegou a Governador Civil e era condutor de ambulâncias lá na terra dele.
Vou já a correr inscrever-me no PS. Pode ser que tenha sorte já que não me sai o Euromilhões.