"Cães de Guarda"
sábado, agosto 20, 2005
João Pedro Henriques no Glória Fácil resolve dissertar sobre o novo papel da blogosfera e antevê o apocalipse. Até cita, em sua defesa, as Leis de Murphy, imaginem. O arrazoado de João Pedro Henriques é globalmente mesmo uma demonstração cabal das tais Leis, imaginam-se todos os disparates que se podem dizer sobre determinada matéria e vem logo o JPH, acrescentar mais alguns. Primeiro, indigna-se por o Paulo Gorjão ter usado a expressão watchdog, que terá no inglês um sentido mais leve que em português, i.e. o JPH, qual francês, não consegue usar expressões inglesas (com o seu significante original) sem as traduzir e a tradução (dele e literal) dá-lhe a volta ao estómago. Avante, depois, lançado cola-se a David Justino e antevê...
uma profusão de “mini-brothers” sedentos de denúncia e imaginando-se como guardiães de uma moral pública em acelerada degradação". E isto sendo ainda mais preocupante "quando alguns desses guardiães se manifestam sob a capa do anonimato, permitindo-lhes vasculhar, acusar, lançar suspeições, escrever as maiores barbaridades, sem que daí decorra o normal e saudável exercício da responsabilidade cívica e em alguns casos criminal". Em suma, é preciso ter sempre em conta que "a blogosfera é também, infelizmente, um extenso rol de casos de propagação de boatos, de lançamento de graves suspeições e de acusações muitas delas infundadas. Nela encontramos as expressões dos sentimentos mais mesquinhos, da ignorância militante e arrogante dos que se julgam tão conhecedores de tudo e mais alguma coisa.Demagogia pura e dura. Nenhum dos perigos que inumera começou na blogosfera, ou é especifico da blogosfera, todos existem há dezenas, centenas ou milhares de anos. Se JPH tem alguma coisa contra a natureza humana, de permeio que deixe a blogosfera em paz.
Mas continua...
Um dia, daqui a uns anos, todos os cidadãos terão computador; E, logo, um blogue. Todos poderão contar tudo a toda a gente - anonimamente ou não. Big blogger is watching you. Estamos a criar um monstro. O mais monstruoso de todos os monstros: inorgânico, popular, ingénuo, finalmente a voz ao povo - um idiota útil de massas. Aproveitemos, portanto, enquanto a coisa não é assim. Tenho uma certeza: quando for será demasiado tarde. E quando for não nos aperceberemos - por isso é que será demasiado tarde."e é o dislate total. É que os monstros, os totalitarismos, tem sempre uma cabeça, um (epi)centro, e a net, é - por definição - acéfala e descentralizada, a antitese, portanto, de qualquer sistema totalitário, sendo, pois, impossível alguém contaminar a net toda, ao mesmo tempo, com informação ou ruído falsos, porque sendo um espaço de liberdade há sempre alguém que não se conforma, mais, a credibilidade na net, ganha-se, conquista-se e perde-se, exactamente da mesma forma que em qualquer outro layer comunicacional, e é independente da questão do anonimato, ou alguém acha que um leitor mete no mesmo saco um texto escrito aqui, que estamos a fazer três anos, com um percurso e uma história, e um outro escrito num blog criado ontem pelo Sr. Joaquim das Iscas, de Vila Flôr ? Pior ainda, João Pedro Henriques dá-se ares ao pior do pedantismo ao longo da história. Antes dele, outros vieram que defenderam que a Biblia só podia ser lida, e interpretada, por alguns, antes dele, outros vieram que defendiam que só alguns deveriam saber ler, era perigoso, antes dele, outros vieram com Indexes, e com a Inquisição, porque eles é que sabiam o que era o bem e o mal, antes dele, uns podiam governar, os outros não, antes dele, uns podiam pensar, e publicar, outros não, nada de novo portanto, mesmo nada. Nem nisto o João Pedro Henriques consegue ser minimamente original. Mas prossegue...
Acrescento agora: há-de sempre haver alguém (no plural ou no singular) disponível para usar com as piores intenções possíveis toda informação (a errada mas também a verdadeira) que contra uns e outros for aqui despejada. Estarei a fazer filmes? Talvez. Mas a verdade é que sigo há muito tempo, e sem razões para mudar de ideias, uma versão pessoal da velha lei de Murphy: tudo o que pode correr mal corre certamente pior.
Não sejamos ingénuos, como me parece que o Paulo Gorjão (bloguitica.blogspot.com) está a ser ao afirmar que "salvo excepções pontuais, quem não tem credibilidade não tem audiência". As excepções, sendo "pontuais", são graves e até já foram mais (o "caso" Muito Mentiroso") podendo perfeitamente poder voltar a sê-lo. Eu não subestimaria as "excepções pontuais".É ele que não é ingénuo, é ele que é iluminado. O ponto não é as 'excepções', como lhe chama, terem ou não, num primeiro instante, audiência, o ponto é essas "excepções" serem na hora rapidamente identificadas, denunciadas e desmontadas pelo resto do ecosistema. Mais, sobre o "muito mentiroso" não se seja demagógico, aquilo pouco ou nada tem a ver com a blogosfera, foi uma operação clássica de desinformação muito bem montada, profissional, por terra ar e mar, onde, e ao mesmo tempo, aterravam - dadas aos 'amigos' - nas redações e nos sítios do costume versões em papel, estas iam parar também à net, para criar momentum, para pressionar os tais amigos a dar corda. Continua e diz que "Um único blogue javardo pode condicionar toda uma campanha eleitoral ou um determinado momento político, como já aconteceu. E ninguém na blogosfera pode fazer nada contra isso, pelo menos em tempo útil." mas, infelizmente, não esclarece. Esquece-se, por exemplo, que no calor do FreePort, quando nas redações se hesitava sobre o destaque e o tom a dar à coisa já nos blogs, neste por exemplo, se ía pondo o fenómeno no seu devido lugar. Certamente, um mero detalhe. João Pedro Henrique termina, num post cujas ilustrações recomendo porque presumo representativas de um certo estado de alma, a afirmar que...
Além do mais, a questão não é de "audiência" - que é escassa, apesar do crescimento do fenómeno blogosférico nacional - mas sim de "influência". Como bem explicou o Filipe Santos Costa, no DN, "os blogues de política são bastante lidos nas redacções dos media tradicionais e, desta forma, condicionam em certa medida o olhar da comunicação social". Por outras palavras: os blogues falam para poucos mas falam para quem tem influência, para quem os pode ampliar nos tais 'media' tradicionais. E nos 'media' tradicionais há quem saiba distinguir o trigo do joio e quem não saiba (ou não queira, tanto faz). Um único blogue javardo pode condicionar toda uma campanha eleitoral ou um determinado momento político, como já aconteceu. E ninguém na blogosfera pode fazer nada contra isso, pelo menos em tempo útil.
Ao contrário do Paulo Gorjão parece-me que a blogosfera não tem, de facto, nenhum "mecanismo de auto-regulação". Não o lamento nem deixo de lamentar. Constato o facto. Como, em questões de blogosfera, sou absolutamente liberal - contra "auto-regulações" e "códigos éticos" e regulamentos afins - assumo o meu conformismo. Limito-me, de vez em quando, a mandar para a casota os "manueis" desta vida. Não vejo outro caminho.
Convém que a blogosfera nacional não leve demasiado a sério o seu poder político - porque é disso que se trata -, pelo menos para já. Não é por ter forçado o ministro Mário Lino a pôr cá fora um estudo sobre a Ota que se deve embandeirar em arco. Falta ainda muito caminho para se chegar ao panorama norte-americano. Mais do que auto-organização (que na blogosfera é um conceito sem qualquer sentido, absolutamente contra-natura), o que falta é persistência ou mesmo um certa capacidade para se tornar obsessiva (até à náusea) com determinados assuntos. Sendo que, neste caso da Ota, concordo totalmente com o Paulo Gorjão quando ele refere como decisivo o papel de Pacheco Pereira no processo (e, lá está, é de poder político que se fala).registo que não lê blogs por aí além, muito menos jornais, muito menos faz cobertura política, a sério. A ironia, profunda, é que João Pedro Henriques não se coibe de perorar que "é persistência ou mesmo um certa capacidade para se tornar obsessiva (até à náusea) com determinados assunto" o que faz falta aos blogs. É que é isso que tem faltado à imprensa tradicional, de que ele faz parte, para quem tudo é efemero, espuma, passageiro, e que que começa a aparecer, para ficar, na blogolândia, que não deixa morrer este ou aquele tema, que obriga à sua recuperação, já aconteceu, até que as coisas tenham um desfecho. É que essa mesma persistência que JPH diz ser fundamental é a mesma que ainda há pouco ele via como monstruosa e geradora de desgraça e caos. E depois, escapa-lhe que se há jornalistas que prepublicam em blogs os resultados das suas investigações o fazem também (e convinha discutir porquê) para ganhar espaço para as poderem publicar nos locais onde trabalham, mas enfim...
Penso o mesmo quanto à capacidade para fazer a imprensa publicar notícias que nascem na blogosfera. Se fizermos bem as contas, são muito poucas, pelo menos no que toca a notícias de dimensão nacional. E, nesta contabilidade, não vale tomar em conta notícias investigadas por jornalistas que as antecipam nos seus blogues e só depois as publicam nos órgãos onde trabalham (como já aconteceu).
Nada, portanto, que se compare, de longe sequer, ao caso Dan Rather. Aliás, bem pelo contrário: a blogosfera política passa 99,9 por cento do seu tempo a transcrever notícias e comentar notícias dos 'media' tradicionais, não acrescentando rigorosamente nada de noticioso que não se saiba já (veja-se o tratamento luso-blogosférico do "mensalão").
Não subestimo a capacidade de "agenda setting" dos blogues. Mas também não sobrevalorizo. Limito-me a constatar que - pelo menos por enquanto - se há "agenda setting" é dos 'media' para os blogues e não o contrário. Haja calma.
Publicado por Manuel 17:47:00
quanto a si, Manuel, queira dirijir-se sem mais delongas para o pénis. isto é, vá pró caralho!!!
best regards for both
guessuai_m