o advento do sexto poder
domingo, agosto 14, 2005
Uma alminha está sempre a aprender. Depois do status quo, e da comunicação social indígena, terem dado como consumados a Ota e o TGV, depois do sistema ser forçado a recuper o tema, a reboque da sociedade civil, em ebulição na blogosfera e arredores, eis que duas luminárias, regressadas directamente de Marte, hoje, no DN declaram a recessão... na blogosfera política lusitana. Mais que rídiculo o exercício é revelador, e sintomático. Sintomático de um certo mal estar, e de uma certa forma de ver o mundo, que mudou, definitivamente. A blogosfera deixou de ser uma forma chique de uma minoria/classe, política, intelectal ou jornalística, falar, e mandar recados, de sí para sí, deixou de ser uma mera feira de vaidades onde fulano ou beltrano, famoso, ou pretendendo sê-lo, se punha em bicos de pés e partilhava com a plebe o que lhe ia na mioleira, desparasitou-se, para seu benefício (e prejuízo, por exemplo da TV, onde os contribuintes pagam o inenarrável "A Revolta dos Pastéis de Nata"). A blogosfera deixou de ser um mero trampolim para se conseguir um lugarzinho ao sol, seja na TV, ou num qualquer pedaço de papel, e amadureceu. Não pretende substituir ninguém, mas já é insubstituível. Aqueles que deviam vigiar os que nos governam, a imprensa, falharam, tornaram-se , no geral, autistas , distantes e arrogantes quando não prepotentes, muitos passaram a fazer política em vez de escrever sobre política , a criar em vez de relatar. Não só precisam de ser vigiados , como precisam que lhes recordem as realidades do mundo à sua volta, um mundo do qual muitas vezes estão à margem. Como já foi dito, muito bem, aqui os blogues poderão e deverão desempenhar -- também em Portugal -- um papel de watchdog, i.e. de watch blog (guardiães ou protectores contra desperdícios, perdas, ou práticas ilegais), nesse âmbito, uma das suas funções fundamentais será colocar questões e exigir respostas que contribuam para a transparência política e jornalística, gerar informação que contribua para o melhor funcionamento dos mecanismos de accountability. Porque no fundo o que começa a contar, finalmente, é o valor do que se diz, se é verdade, se não é, se tem valor, se não tem, e não, apenas, o quem diz. Não perceber isto é não perceber nada, ou então falamos de pura desinformação.
Publicado por Manuel 04:16:00
O comentário blogueiro, mesmo quando jocoso, satírico ou simplesmente estúpido, diz bem do verdadeiro pulsar das gentes e do que lhes vai na alma, na mente ou simplesmente na vida.
Cada elemento de informação blogueira é importante, quer pelo que diz, quer pelo que deixa entrever.
Começamos a ter sinais (apenas sinais, entenda-se) da situação do tempo da outra senhora e do seu lápis azul.
Ou seja: A censura actual vem travestida e com pés de veludo; mas ela existe.
A lixiviação das mentes também existe, numa tentativa de branqueamento das perversões e estupidificação dos cidadãos.
E é aqui que entram os blogs, uma espécie de casamento entre o divã do dr. Sigmund Freud e o mercado do Bolhão, com oferta variada de tudo-e-mais-que-fosse e peixeiras aguerridas em defesa das suas verdades.
Funcionam ainda como planos do contraditório, tribunas dos palradores mais conceituados, dos formadores de opinião ou simplesmente do Zé-Maria-Pincel-cuja-opinião-também-conta.
É um verdadeiro instrumento de democracia directa.
Em todo o caso, tem funcionado muito bem como "ameaça bombista".
Resta saber se tem, efectivamente, capacidade de desconstrução construtiva.
Eu acredito que sim: Os blogs são o que deles fizermos.
Já tenho dúvidas quanto à efectiva implementação do desiderato governamental anunciado de levar a net ao lar de cada cidadão português, pois começam a aperceber-se das reais potencialidades da informática no plano do exercício dos direitos de cidadania e de intervenção directa na vida política.
Como também permite uma espécie da democracia directa, dando voz a cada cidadão, sem ponta de discriminação em função de sexo, idade, crença religiosa, estupidez congénita ou qualquer outra.
A propósito de censura, os blogs têm por vezes um não-sei-quê da antiga revista à portuguesa, mas em tanta subtileza.
Para mim isto depende. Uma série de blogs que apareceram durante a guerra do Iraque e que já desapareceram felizmente tinham como objectivo a autopromoçao e usaram o blog para conseguir um objectivo. Isso nao é o verdadeiro pulsar de nada. Faz parte da parvónia e de lambe-botas.
Retirado do Comentário de "xavier".
Comentário lúcido.
Algo a que assistimos diáriamente nas nossas TVs (deixei de ler Jornais), especialmente da boca de políticos "encartados".
Ele não pode parar.
Touché.
Mas gostaria de lançar outra questão. Será que todas as pessoas que escrevem em blogues o poderiam fazer sem ser sob a capa do anonimato? Não me parece. As denúncias podem ser feitas na blogosfera, mas têm que ficar anónimas sob pena de represálias.
Eu não sou do tempo da censura política. Mas conheço bem a censura económica.