A virtude de saber decidir...
sexta-feira, julho 29, 2005
... não é o forte deste Governo. À força de se querer renegar a herança do “diálogo” que Guterres levou ao extremo, com os resultados que se conhecem, parece ter havido uma aposta clara na colagem a uma atitude mais afirmativa e levemente autocrática, ao estilo de Cavaco Silva. Sem sucesso.
Numa altura que Portugal está num ponto decisivo quanto a vários e avultados investimentos públicos o Ministro da Economia deslocou‑se à Ordem dos Economistas para, falar sobre a economia portuguesa, e justificar a melhor forma que permita à mesma sair da grave situação em que se encontra.
E para o governo, a questão é simples. No curto prazo o crescimento da economia portuguesa será sustentado pelo investimento público, independentemente dos efeitos colaterais, da qualidade e da racionalidade que o mesmo possa empreender. No longo prazo, a fórmula de sucesso, é o plano tecnológico.
Várias vezes Manuel Pinho estabeleceu analogias entre a Coreia (um bom exemplo) e Portugal, entre os quilómetros de auto-estrada que a Espanha têm e Portugal não têm, ou entre o TGV Espanhol, que curiosamente os espanhóis assumem não conseguirem rentabilizar e a necessidade de Portugal também possuir, sob pena de ficar ainda mais periférico. Ora mal de quem pensa, que o simples facto de se investir em rodovia e ferrovia, por si só garante robustez no crescimento e sustentabilidade no desenvolvimento.
Argumentos substanciais nem um. Não só isso como ficou sem resposta a maioria das perguntas que foram colocadas ao Ministro sobre a Ota e o TGV, os dois projectos mais proeminentes do plano de investimentos do Governo. O investimento público é de facto essencial a qualquer economia, mas não o pode ser a qualquer preço, sendo ponto assente que a economia portuguesa não precisa de mais investimento público... apenas e só de melhor investimento público.
Entre outras coisas, Manuel Pinho recorreu a manobras evasivas quando confrontado com um desafio para, à semelhança do que o próprio Ministro disse ter encontrado na Internet sobre o plano de investimentos espanhóis, publicar no portal do governo, os estudos que sustentam a decisão do governo em fazer avançar a OTA. Assistindo-se, portanto, a uma situação sui generis em que o Governo defende o investimento em grande obras públicas independentemente da sua racionalidade económica, que se recusa a discutir e que toma como dogma.
As medidas que de facto deveriam motivar o governo, as verdadeiras reformas estruturais, que deveriam ser bandeira, de um governo que se auto intitulou de diferente. Essas ficaram escondidas. E o futuro de Portugal passa pela reforma da educação, quer ao nível do financiamento, quer pela ligação entre universidades e mercado de trabalho de forma eficiente, evitando que o Estado gaste fundos em cursos que o mercado já não absorve. Passa por assumir que a pré falência da segurança social é um dado assumido, em 2020 o défice entre pensões e contribuições será quase de 10 % do PIB. Dois exemplos de como a dimensão dos problemas são manifestamente perigosos, para não se actuar de imediato, e de forma concertada.
Ora o governo, cometeu um enorme erro de análise. Sustenta as medidas com vista ao crescimento económico, e este até pode de facto acontecer, tal a dimensão do apoio financeiro que será criado, mas de alguma forma, poderá o plano tecnológico resolver os problemas estruturais da economia portuguesa, e permitir o seu desenvolvimento?
Esperava-se bem mais do titular da pasta da Economia, que saiu das Novas Fronteiras do PS com o rótulo de salvador da pátria.
artigo de opinião publicado hoje no Independente
Publicado por António Duarte 18:25:00
4 Comments:
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Para que vai servir este ministro de economia, que não sei quantos ministros de economia contrariam!
Mas,
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