A virtude de saber decidir...

... não é o forte deste Governo. À força de se querer renegar a herança do “diálogo” que Guterres levou ao extremo, com os resultados que se conhecem, parece ter havido uma aposta clara na colagem a uma atitude mais afirmativa e levemente autocrática, ao estilo de Cavaco Silva. Sem sucesso.

Numa altura que Portugal está num ponto decisivo quanto a vários e avultados investimentos públicos o Ministro da Economia deslocou‑se à Ordem dos Economistas para, falar sobre a economia portuguesa, e justificar a melhor forma que permita à mesma sair da grave situação em que se encontra.

E para o governo, a questão é simples. No curto prazo o crescimento da economia portuguesa será sustentado pelo investimento público, independentemente dos efeitos colaterais, da qualidade e da racionalidade que o mesmo possa empreender. No longo prazo, a fórmula de sucesso, é o plano tecnológico.

Várias vezes Manuel Pinho estabeleceu analogias entre a Coreia (um bom exemplo) e Portugal, entre os quilómetros de auto-estrada que a Espanha têm e Portugal não têm, ou entre o TGV Espanhol, que curiosamente os espanhóis assumem não conseguirem rentabilizar e a necessidade de Portugal também possuir, sob pena de ficar ainda mais periférico. Ora mal de quem pensa, que o simples facto de se investir em rodovia e ferrovia, por si só garante robustez no crescimento e sustentabilidade no desenvolvimento.

Argumentos substanciais nem um. Não só isso como ficou sem resposta a maioria das perguntas que foram colocadas ao Ministro sobre a Ota e o TGV, os dois projectos mais proeminentes do plano de investimentos do Governo. O investimento público é de facto essencial a qualquer economia, mas não o pode ser a qualquer preço, sendo ponto assente que a economia portuguesa não precisa de mais investimento público... apenas e só de melhor investimento público.

Entre outras coisas, Manuel Pinho recorreu a manobras evasivas quando confrontado com um desafio para, à semelhança do que o próprio Ministro disse ter encontrado na Internet sobre o plano de investimentos espanhóis, publicar no portal do governo, os estudos que sustentam a decisão do governo em fazer avançar a OTA. Assistindo-se, portanto, a uma situação sui generis em que o Governo defende o investimento em grande obras públicas independentemente da sua racionalidade económica, que se recusa a discutir e que toma como dogma.

As medidas que de facto deveriam motivar o governo, as verdadeiras reformas estruturais, que deveriam ser bandeira, de um governo que se auto intitulou de diferente. Essas ficaram escondidas. E o futuro de Portugal passa pela reforma da educação, quer ao nível do financiamento, quer pela ligação entre universidades e mercado de trabalho de forma eficiente, evitando que o Estado gaste fundos em cursos que o mercado já não absorve. Passa por assumir que a pré falência da segurança social é um dado assumido, em 2020 o défice entre pensões e contribuições será quase de 10 % do PIB. Dois exemplos de como a dimensão dos problemas são manifestamente perigosos, para não se actuar de imediato, e de forma concertada.

Ora o governo, cometeu um enorme erro de análise. Sustenta as medidas com vista ao crescimento económico, e este até pode de facto acontecer, tal a dimensão do apoio financeiro que será criado, mas de alguma forma, poderá o plano tecnológico resolver os problemas estruturais da economia portuguesa, e permitir o seu desenvolvimento?

Esperava-se bem mais do titular da pasta da Economia, que saiu das Novas Fronteiras do PS com o rótulo de salvador da pátria.

artigo de opinião publicado hoje no Independente

Publicado por António Duarte 18:25:00  

4 Comments:

  1. Anónimo said...
    Mas afinal, que obra tem o Manuel Pinho? Da colheita especial do Socrates, o pobre diabo, não diz coisa, com coisa e mostra-se caninamente, domaod pelo Socrates
    Para que vai servir este ministro de economia, que não sei quantos ministros de economia contrariam!
    Anónimo said...
    No Estado, MP deixou obra na gestão da dívida pública, na equipa de Braga de Macedo. O que então foi feito criou a folga de juros que no tempo de Guterres foi tão mal aproveitada. Pense-se o que se pensar do MP que faz agora como Ministro da Economia, esse mérito é preciso reconhecer-lho. Tivéssemos nós muita gente com obra que se comparasse!
    Anónimo said...
    Corrijo gralha: do que MP faz agora como Ministro ...
    Anónimo said...
    O problema maior não está no Pinho.

    Mas,

    http://img40.imageshack.us/img40/2700/humdeldem4gy.jpg

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