Sud Express

João Morgado Fernandes, lança-se numa cruzada, perigosa diga-se de passagem, no que a aplicação de dinheiros públicos diz respeito, e no efeito do investimento público na economia.



Em primeiro lugar, França e Espanha vivem em campeonatos económicos completamente diferentes dos nossos. Portugal a muito custo conseguiu apresentar um plano de investimento de 25 Mil Milhões. A Espanha conseguiu 220 mil milhões. É impossível querer comparar o quadro económico de Espanha com Portugal. Infelizmente a França assemelha-se a Portugal no que à dimensão do défice diz respeito.

O problema de Portugal, não passa necessariamente pela construção do TGV, ou pelo menos nos moldes que Barroso primeiro, Mexia depois e agora Sócrates defendem. O projecto Português do TGV é um embuste barato – que nos sairá caro - , sobretudo se pensarmos que não existe qualquer trabalho conjunto entre Portugal e Espanha nesta matéria. A Espanha na semana passada lançou o TGV com linha mista, o que impede as velocidades de ponta que Portugal internamente defende.



Talvez o JMF, não se recorde. Em meados da década de 90, prometeram-nos que com o investimento público que se geraria na Exposição Universal de 1998, o país sairia do marasmo económico, que as políticas económicas não conseguiam fazer sair. Hoje 8 anos depois, a Expo 98, é uma verdadeira bolsa imobiliária, que de facto cria empregos, mas cria muitas mais mais-valias imobiliárias que em nada ajudam o Estado Português, a recuperar o investimento ali realizado.

Em 1998, quando ganhamos desconfiadamente a organização de um campeonato da Europa de futebol, também tínhamos um défice real acima do permitido. Mesmo assim, achamos que estava na hora de promover o país de uma forma que jamais tinha sido realizada, e nada como erguer obra em 10 estádios ao mesmo tempo. Um país rico sem dúvida, que conseguiu em escassos 200 metros construir 2 estádios novos, dada a falta de entendimento entre Sporting e Benfica, e o facto de o Estado, esse mesmo Estado achar estar rico. O Euro 2004 passou, e o emprego gerado por esse evento dilui-se na crise. Hoje dos 10 clubes beneficiados com estádios, 2 jogam na liga de honra, 1 está quase falido, e 4 tem assistências médias inferiores a 5000 pessoas. Há autarquias impedidas de se endividarem nos próximos 20 anos, dado o elevado serviço da dívida do estádio.

É certo, que se o Estado não tivesse realizado a Expo 98 e o Euro 2004, o país poderia estar menos “visível” lá fora, mas é indiscutível, que as finanças públicas estariam mais aliviadas de pagamentos futuros. O mesmo raciocínio é válido para as SCUTS, ou para aquela reforma do Excel chamada hospitais S.A.

Com o TGV é a mesma coisa. O erro não é o projecto, mas quer JMF queira quer não, o barómetro de qualquer investimento público, é a qualidade do seu retorno, em linguagem técnica, há quem lhe chame TIR. Os estudos do TGV, mesmo que jamais lhes tenha deitado um olho, são fáceis de perceber e apreender. Hoje e perante a procura interna ferroviária exercida, há duas conclusões importantes:

1. A ligação Lisboa-Porto será rentável dada a procura hoje realizada, e a incapacidade da ligação aérea em competir em termos de preços com a ferrovia. Mas, e porque há sempre um mas, para o TGV ser rentável, a ligação da REFER/CP Lisboa-Porto em Alfas Pendulares, passará a dar prejuízo técnico, apenas e porque é impossível duplicar a procura pela ferrovia. Grosso modo dá-se lucro á RAVE, e aumenta-se o prejuízo da CP.

2. A ligação Lisboa-Madrid – a única que é manifestamente exequível – será rentável até ao dia, em que uma operadora low cost passa a operar Lisboa-Madrid com preços na casa dos 60 euros. Exactamente porque o país não tem capacidade de gerar e recriar procura.

Percebe-se o dramatismo de JMF. Foi exactamente a falta de uma estratégia concertada com base na resolução do verdadeiro problema da economia portuguesa, que nos conduziu até ao ponto de não retorno que hoje e muito dificilmente conseguiremos abandonar. Infelizmente ele ainda não percebeu qual é o problema da economia portuguesa. Não é o défice, ao contrário do que se possa pensar. O défice é uma consequência, de um conjunto de erros, onde a execução do TGV se incluirá.

O investimento público apesar de poder gerar os cash flow esperados, devido as externalidades que possui não é automaticamente rentável nem as suas vantagens automaticamente assumidas por serem mais difusas. Mesmo assim, o efeito multiplicador do investimento público só seria totalmente assimilado pela economia, se existisse uma política monetária individualizada para cada Estado-Membro.

De qualquer forma, e em jeito de desafio, deixo ao JMF, a explicação do seguinte facto.

Se o investimento público em projectos como o TGV é a solução, como se pode explicar, que tendo a despesa pública portuguesa nos últimos 20 anos passado de 44,7 % para 66,7 % do PIB , e a dívida pública esteja a rondar os 70 % do PIB, mesmo assim sejamos o 17º país de uma Europa a 25, e estejamos há 3 anos em recessão técnica, com um desemprego cada vez mais perto dos 10 %, e com um sistema de segurança social em pré-falência ?


Nota : Não vale responder, que foi por termos cruzado os braços.

Publicado por António Duarte 15:23:00  

3 Comments:

  1. Anónimo said...
    Não faça tantos sublinhados, o post fica cansativo de ler!
    Anónimo said...
    Prefiro uma boa VAL (com análise de sensibilidade e imprecisão) à TIR...
    Anónimo said...
    Parabéns António, pela sua análise.
    Mas eu penso que não vale a pena tentar convencer alguns - nomeadamente um sector da actual maioria que nos governa.
    eles aprenderam pela cartilha marxista, depois leram à pressa o Keynes, não o entendendo na sua totalidade, pois não vêm que uma coisa é o impacto do investimento público numa economia fechada (em que se estimula a oferta doméstica) outra é-o numa economia aberta como a nossa (onde o impacto imediato vai ser no agravamento das contas externas).
    Na essência eles não entendem o que é a uma economia de mercado, nem o que é globalização da oferta e da procura.
    Assim, acho que é uma perda de tempo tentar explicar-lhes o que não querem entender.
    Só é pena é que o nosso País vai pagar por estes erros, fazendo com que as gerações futuras fiquem ainda mais pobres.

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