recalcamentos

Emagrecer depois de amigo ser é dizer não
Henrique ser ou não Henrique ser é a questão
Enriquecer depois de Henrique ser é o perdão?

Banda do Casaco, LP Dos benefícios de um vendido no reino dos bonifácios, 1974.




Recalcamentos há muitos e sobre estes assuntos da corrupção em larga escala, ainda mais!…

Hoje, o Expresso traz uma notícia sobre um denúncia, bem recalcada, de um director da DCICCEF da PJ, o organismo mais vocacionado para a repressão recalcada do fenómeno. Diz o juiz (?!) Mouraz Lopes que...
O excesso de poder dos funcionários das câmaras municipais que trabalham anos a fio na mesma função e as relações privilegiadas destes com empresários e construtores civis são os principais focos de corrupção nas autarquias.
Continua a notícia, dizendo que há 350 inquéritos pendentes na PJ sobre corrupção e peculato em autarquias e a maioria envolve funcionários superiores e vereadores. E Mouraz Lopes (?) esclarece que...
São normalmente funcionários superiores em que os autarcas acabam por confiar quase cegamente. E adquirem grande poder de decisão, apresentando os dossiês prontos a assinar aos vereadores e presidentes.
Sobre a investigação, acrescenta a notícia que...
é quase sempre demorada. Em muitos casos é necessário proceder a uma técnica de investigação chamada “following paper trial” , de extrema complexidade, que consiste em seguir o percurso do dinheiro. “ Quando nos deparamos com sociedades off shore chegamos a estar seis meses à espera de respostas das autoridades dos paraísos fiscais onde estão sedeadas.”

É isto, o recalcamento do juiz (?) Mouraz Lopes e da PJ?!

Não sei bem. Apenas sei que não há resultados visíveis, palpáveis nesta investigação de “seguir o rasto dos papéis”. Como se adivinha, é investigação desecretária e por isso, há de facto um recalcamento que advém da frustração de ver pouco ou nada a fazer-se com eficácia e profissionalismo, como deve ser. Para não falar na impressão difusa de que se trata de caça ao gambuzino ou mesmo de cerco ao jaquinzinho com redes esburacadas.

Por outro lado, Vasco Pulido Valente (outro grande recalcado), na sua crónica do Público, diz que...
a coisa começou com a Europália, uma exibição inútil para `afirmar Portugal na Europa`. Veio a seguir o Centro Cultural de Belém, para o dr. Cavaco receber os colegas com a devida pompa e que hoje vegeta tristemente, abandonado e meio falido. Veio também a Lisboa, Capital da Cultura, uma salada sobre o medíocre que não deixou vestígio. Veio a Expo'98 que não ´salvou`a Lisboa orientale nos deu um monte de arquitectura extravagante, sem uso concebível. Veio o Porto, Capital da Cultura , com uma Casa da Música duvidosa e caríssima. E veio o Euro`2004 com a sua dezena de estádios que ainda hoje estão por pagar e quase todos sem gente.”
É este recalcamento espelhado nestas denúncias cruas que incomoda os “instalados” e os “conformados”, como um certo comentador J. que assim o parece entender.

E que fazer deste conformismo e desta anomia rompante e anestesiante?!

Chamar-lhe também recalcamento?! É uma tentação

Porque efectivamente o é. Recalca-se então, nesse caso, a consciência da mediocridade que conduz a decisões desastrosas para todos nós. Recalca-se ainda a consciência que evidencia à saciedade a existência de inúmeros desvios às normas e regras e que nem são detectadas pelas fiscalizações, pois para isso há peritos, cadernos de encargos e folhas de obras, para além dos sempre necessários autos de medição.

A PJ e o DCIAP e o MP são as instâncias encarregadas em Portugal de descobrir quem come do orçamento do Estado, sem pagar o respectivo custo e sem contrapartidas legítimas. Mas quem denuncia estas práticas e aponta o dedo à tendência anómica érecalcado!

O recalcamento advém ainda de haver alguém que se recusa a admitir que “está tudo bem” e que a corrupção é um mito, como dizia o tal advogado da PMLJ, Leite de Campos. As críticas ao restaurante Eleven ou aos dinheiros a rodos para avenças (hoje o Expresso confirma algumas avenças da GALP a certos advogados), são tomadas como vindas de ressabiados, invejosos, malevolentes, cínicos, numa palavra - Recalcados! E , de facto, ninguém verdadeiramente se incomoda, pelo que o ápodo tem algum cabimento.

Pelos vistos, a PJ tem 350 Inquéritos para investigar “problemas” autárquicos, mas de investigação confessadamente difícil. O DCIAP nem se sabe bem ao certo quantos tem deste tipo. Alguma vez teve inquéritos a envolver ministérios e ministros e direcções gerais? Dirigentes e tesoureiros de partidos? Presidentes de bancos? Notáveis de empresas públicas? Será preciso responder ou também isto soa a recalcamento?! Porquê continuar a insistir em estatísticas com a apanha do carapau de gato quando os tubarões nos invadem as costas tranquilas e ameaçam comer o que resta de dignidade e de indignação?

Negar a corrupção e remeter o fenómeno para as fímbrias do recalcamento, torna tudo mais fácil e cor de rosa (et pour cause).

Se entendermos os negócios do grande dinheiro como decorrentes de costumes e práticas tão correntes que a troca de malas com dinheiro, entre empreiteiros responsáveis políticos e/ou funcionários, assume contornos de normalidade e vulgaridade, tudo fica bem melhor e mais sossegado.

Se entendermos os negócios das obras públicas, das grandes adjudicações de empreitadas ou encomendas, como fazendo parte daquele modo de entender o mundo e a vida “como sempre o foi” e por isso aceitarmos como normalíssimo que quem decide em nome do Estado receba contrapartidas pessoais em bens ou serviços, fica tudo bem mais tranquilo.

O contrário cria grandes recalcamentos, derivados ainda uma vez mais e por último, da frustração de ver os valores que contam a inverterem-se e passarem a anti-valores.

É isso que os J. comentadores pensam, provavelmente. Em alguns casos, nem troca houve, porque nem sequer existiam para servir de moeda. Quem perde a vergonha, todo o mundo passa a ser seu!

Mas enganam-se! Porque recalcamento sério e fatal é o que advém da recolha para os confins da consciência de valores como a honestidade, a honradez, a competência aplicada e a transparência. Pelo que se vai observando, estes valores foram trocados, pelos da solidariedade, da lealdade partidária e pelo nepotismo mais chão. E quem aqueles defende, torna-se por isso mesmo racalcado, invejoso e moralista que é o novo anátema.

É uma forma de ver o mundo, concedo. Com a qual não me conformo, porém - e por isso recalcado me confesso, até ver as coisas serem alteradas substancialmente.

A Luta continua!

Para já vou de férias - descansar o recalcamento lá para fora que aqui isto já fede demais.

Publicado por josé 11:16:00  

12 Comments:

  1. Anónimo said...
    josé
    não consigo compreender o seu artigo. o que quer dizer? V. compreende o que escreveu? duvido
    cumprimentos
    zazie said...
    é bem claro o post do José

    boas férias!
    josé said...
    Uma síntese?

    Pode ser esta:

    Há corrupção generalizada em todos os sectores da actividade económica que envolvem o Estado e as autarquias. Desde há anos que se foi aquecendo em lume brando este caldo de cultura.
    As entidades que deveriam investigar não o fazem com a competência devida e esperada, por diversos factores entre os quais avulta a falta de meios, endémica, e a rotina de procedimentos.

    A corrupção que não é verdadeiramente corrupção, mas apenas o modo corrente de fazer negócios com a coisa pública em Portugal está completamente distorcida por causa das "obras a mais"; dos cadernos de encargos duvidosos; dos autos de medição que medem o que interessa e não há fiscalização efectiva destas coisas. É aqui que estáo as gordas, gordíssimas cifras negras, que são os fenómenos que muitos vêem e fazem de conta que não existem. É aqui que se recalca muita coisa, a começar pelas consciências.

    Finalmente, o recalcamento de que falo é a anomia, o desinteresse das pessoas pela inversão de valores notória e predatória do que é de todos. As obras podem custar o dobro, o triplo o quádruplo que não há problema. Nas administrações das Galps PTs e outras Refers são colocadas pessoas que têm como atributo primordial o mesmo que a Maria Elisa tinha para ser nomeada "adida cultural" em Londres: o que toda a gente sabe!

    Para rematar e para não tornar isto uma charada, seria útil para toda a gente , perceber como funcionam realmente três ou quatro empresas públicas e duas ou três privadas.
    Podia ser a GALP , a PT, a REFER e das privadas a Somague, a BPC, a Bragaparques e para finalizar em todo o esplendor, saber como funciona o BES.
    Na realidade- não como nso conta a comunicação social dos diários económicos dos figueiredos e afins.

    Fim!
    josé said...
    E obrigado, Zazie!
    A propósito: o seu blog é um refesco, neste deserto de inovações. Digo-o aqui como podia dizer lá!
    zazie said...
    tão querido!

    mas também está prestes a entrar em pousio de vacances

    By the way, qual é o dia? fónix, emaile-me que eu sou uma tonta

    bisou
    Anónimo said...
    O problema é sempre os Sir Humphrey...

    lucklucky
    Anónimo said...
    A senhora Albright não tinha razão. Para usarmos a língua adequada ao momento de desgraça m que vivemos nesta "terra mansinha" (como dizia Ruy Cinatti), e que também usei ontem a propósito dos jogos florentinos de Pepe Sócrates Roble Pollito de Sosa - em diminutivo, petit-non, porque ele é muito lá de casa - digo que isto é um problema de "cojones".

    Uns têm-nos em vermelho vivo e os outros em tom desmaiado. Agora há mais gente obnibulada pelos media e pela música do "band wagon effect" do que cidadãos com prurido insistente nos tomates. De modo, que o vigor esmorece e a corrupção governa.

    Não é um problema de burrice, nem de falta de instrução ou de cultura das elites, nem de diagnóstico, que já está feito e confirmado pela junta médica dos opinadores livres da blogosfera e um ou outro clínco dos meios coxos e convidados de programas televivisos de resignação. É um problema de coragem!

    Pode ser que o Gabriel faltam-homens! Alves não esteja certo, e que a equipa tenha avançados suficientes para concretizar o ataque - creio que o plantel disponível é satisfatório -, mas há carências tácticas, escassez de automatismos, confusão estratégica, inexistência de fio de jogo, muita competição nos treinos mas desorientação nos jogos, demasiado egoísmo, irresponsabilidade, queima de colegas e ausência de espírito de equipa. Sem unidade, a blogosfera não conseguirá impor a reforma da democracia directa.

    Até quando suportaremos o abuso do poder corrupto?
    Anónimo said...
    Não tinha visto em escrito, tao bem
    esclarecido, o que a abrilada fez em Portugal! São todos primos, trocam presentes, trcam geitos, trocam oportunidades, tudo gente de má fé! mas muito caridosos, uns com os outros!
    #50 camaras, sobre suspeita, è que è um caso para preguntar, qual deles mais roubou?
    Gomez said...
    Brilhante post caro José.
    Boas férias!
    Anónimo said...
    Venerável Irmão José:

    Já pensou que se VPV fosse muçulmano seria um pregador apocalíptico de madraça!?

    diogenes
    Anónimo said...
    O País tem salvação e o DCIAP tanbém! Está em Viana! Vão buscá-lo, por favor! Salvemos PORTUGAL! Qual Gomes da Costa, qual Afonso Henriques! O Forte é que é! Oh, Cãndida, em vez de andares a passajar as gravatas do Mad Max ou a fazer queixinhas ao gato, vai mas é buscar este rapaz!
    josé said...
    Negreiro da trafaria:
    fazendo juz ao nome, em vez de traficares bocas espúrias, dedica-te a escrever algo de jeito e que critique a sério o que escrevi. E lê o que se escreve sem ligares a quem supostamento o faz.
    Desse modo, ainda teria algum respeito. Se ficares por onde ficaste, na traficância de palermices, ficas a falar sozinho.

Post a Comment