A cópia para o dia.

No Diário de Notícias de hoje, Miguel Freitas da Costa, escreve assim (ainda há gente a escrever assim!)...

Soube há dias por John O'Sullivan (um dos fundadores) que foi recentemente criado em Washington um think tank chamado Anglosphere Institute (pode ser visitado na Internet).

O instituto toma como ponto de partida das suas actividades de estudo, investigação e discussão aquilo que designa por "um novo conceito geopolítico", que foi criado e desenvolvido por James Bennett e exposto no seu livro The Anglosphere Challenge a existência de uma "anglosfera" constituída pelos países e culturas de língua inglesa (incluindo países das Caraíbas, da Ásia ou da Oceânia) que "partilham os valores fundamentais do individualismo, o primado da lei, o respeito pelos contratos e acordos, e colocam a liberdade no escalão mais alto das virtudes políticas".

A instituição conta com o alto patrocínio da baronesa Thatcher e de Robert Conquest e também com o apoio e com a participação e colaboração de muita gente tão bem conhecida como eles, como são Henry Kissinger ou Lord Lamont.

Não é certamente gente de "esquerda". Em parte nenhuma dizem que são de "direita".

É uma questão de cultura política. Na edição que tenho do Safire's Political Dictionary, do americano William Safire ,"direita" nem sequer aparece. No mundo anglo-saxónico - e em particular nos Estados Unidos - "direita" não é uma classificação tão comum como nas discussões "europeias".

O filósofo inglês Roger Scruton, no entanto, já inclui o termo no seu (A) Dictionary of Political Thought a Inglaterra, apesar da protecção do canal, sempre vai sofrendo a influência continental.

"A direita", diz ele, "define-se por oposição à esquerda (ou, talvez melhor, em conflito com ela)" e "não tem sequer a respeitabilidade de uma história".

"No seu uso corrente ", continua, "a direita denota uma série de ideias que umas vezes estão relacionadas e outras se contradizem", e enumera-as numa longa lista que vai desde as "doutrinas conservadoras e eventualmente autoritárias quanto à natureza da sociedade civil, com ênfase no costume, na tradição e na 'vassalagem' como laços sociais", até à "crença nas liberdades elementares e no valor insubstituível do individual em contraposição ao colectivo", passando pela "crença no princípio hereditário" e pelo "conservadorismo cultural" (mas pode a cultura deixar de ser, por definição, conservadora?).

Em The True Believer - Thoughts on the nature of mass movements, Eric Hoffer, abordando o mesmo género de questões, não fala de "esquerda" ou "direita", tentando antes estabelecer uma tipologia política baseada nas "atitudes que mostram em relação ao presente, ao futuro e ao passado conservadores, liberais, cépticos, radicais e reaccionários."

Hoffer considera muito próximos os tipos do céptico e do conservador (e usa como ilustração algumas frases do Eclesiastes, que é uma maravilhosa súmula desse ponto de vista em parte comum aos dois tipos "Haverá alguma coisa de que se possa dizer: isto é novo? Todas elas são velhas, do tempo que passou antes de nós." Ou: "Aquilo que foi é aquilo mesmo que será; e aquilo que fazemos é o que já foi feito: e não há nada de novo sob o Sol.").

O "radical" e o "reaccionário" aproximam-se um do outro, no esquema de Hoffer, não porque "os extremos se toquem" (um irritante lugar- -comum, que não serve para nada nem política nem intelectualmente), mas naquilo que ele define como o seu desprezo pelo presente.

O "liberal" distingue-se do "céptico" e do "conservador", no esquema de Hoffer, porque, embora veja "o presente como filho legítimo do passado", vê-o "em constante crescimento e desenvolvimento no sentido de um futuro melhor danificar o presente é mutilar o futuro".

Todos três, assim, apreciam o presente.

Como dizia Philip K. Dick (mais conhecido como escritor de ficção científica e autor das obras que deram origem a Blade Runner ou Minority Report do que como filósofo político), "Se acham que este mundo é mau - haviam de ver alguns dos outros que há" (título de uma conferência proferida em França, em 1977).

Publicado por josé 15:28:00  

1 Comment:

  1. zazie said...
    boa síntese, José!

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