um epitáfio
sexta-feira, maio 13, 2005
Todos os dramas são, antes de mais, humanos, e manifestamente o Dr. Portas está, e vai continuar, a passar um mau bocado. Descobriu, ou está prestes a descobrir, da pior maneira possível que não é afinal o centro do mundo, e que, pior, também ele é, afinal, dispensável, expendable como se diz nos filmes...
Alexandre Dumas pôs em tempos na boca de Richelieu, Cardeal, que (o conceito de) "traição era uma mera questão de datas" e por isso, independentemente de desfechos judiciais e políticos, é que os presentes fenómenos são tão interessantes. É ver Jorge Coelho, solidário, a desdobrar-se em explicações para ilibar o topo da cadeia alimentar (os ministros) relegando tudo para os serviços, é ver a TVI e o Correio da Manhã, subita e miraculosamente, a lembrarem que Bagão Félix, autor de um dos piores OEs de todos os tempos e livre agora da fidelidade ao Dr. Portas, era afinal um moralista que não autorizou despachos milionários à última da hora e que até deixou bilhetinhos a pedir inspecções que não fez, aquí, alí, e acolá..., é ver a rapaziada do Dr. Portas, nada e criada no Indy a clamar contra a selectividade (!) da justiça, dando de barato que de facto algo aconteceu, mas que sempre foi assim... É ver a forma como circula a informação e a forma cuidadosa esta como é tratada, como se desfoca, como se chuta para o lado, como se tentam afastar as coisas do epicentro...
Voltando ao Dr. Portas, cresci a ler O Independente, e a ler o dr. Portas, dos tempos em que escrevia ao domingo n' O Primeiro de Janeiro. Independentemente do que se passe, ou deixe de passar, esta noite nos telejornais, ou amanhã no Expresso, o Dr. Portas acabou politicamente. Bem pode, ele e os seus, queixar-se de tudo, do mundo, do azar e da traição de que estará agora, dispensado, a ser vítima.
É que o Dr. Portas é de facto uma vítima, mas única e exclusivamente dele mesmo, foi traído, mas primeiramente por sí próprio... Podia ter sido, e tido, um fim, não passou nunca de um meio.
Que sirva a outros de lição, nos entretantos a vaidade continua a ser o meu pecado favorito.
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Publicado por Manuel 19:07:00
Finalmente revela-nos que cresceu a ler o Independente do tempo de Paulo Portas.
Não digas mais, pronto...