O início de um longo caminho para 2008...
sábado, maio 07, 2005
Meio ano depois da trágica reeleição de George W. Bush, já começam a esboçar-se tendências para as eleições presidenciais de 2008 nos Estados Unidos.
Serão eleições bem mais imprevisíveis, na medida em que ditarão, independentemente de ser democrata ou republicano o vencedor, um novo Presidente. Bush, para descanso dos europeus, não poderá candidatar-se a um terceiro mandato e, como tal, assistiremos a duas primárias — uma em cada partido — que prometem ser longas e disputadas.
Por estranho que possa parecer, dentro de um ano já começarão a surgir as primeiras movimentações dos candidatos. Esta é, por isso, uma boa altura para lançar os dados do jogo.
Bush quis deixar a ideia que terá um segundo mandato mais internacionalista. A visita à Letónia, com um discurso pseudo-genuíno sobre o ‘passado de sofrimento’ dos países bálticos, é uma mera operação de cosmética em relação ao mais do mesmo: os oito anos de Administração Bush ficarão para a história como dois períodos de oportunidades perdidas e de recuos na cooperação internacional. Já para não falar da péssima situação económica em que, no plano interno, os EUA se encontram…
O problema é que a vitória de Bush em Novembro de 2004 foi conseguida com base em pressupostos que não passam nem pela política externa nem pela economia. Os valores morais ditaram a tendência, fruto do excelente trabalho de terreno feito por Karl Rove e seus amigos juntos das igrejas evangélicas.
A subida febre de cristianismo evangélico nos EUA penetrou no eleitorado conservador e virado para a ideia de que deve ser a América profunda a ditar as regras.
Foi impressionante como, a três semanas de uma eleição que supostamente estava a ser disputada taco a taco (como a Grande Loja foi reportando dia após dia, as sondagens até 2 de Novembro davam um empate técnico), Karl Rove, o estratega da campanha de Bush, garantiu, com uma segurança que na altura parecia fictícia: «Vamos vencer com mais vantagem do que se prevê. Vamos ganhar o voto popular por cerca de três milhões de sufrágios; vamos ganhar a Florida, desta vez de forma incontestável e vamos ganhar no Ohio por cerca de cem mil votos».
A 2 de Novembro, todos sabemos o que ocorreu: Bush ganhou o voto popular por cerca de três milhões de votos; venceu a Florida por 5 pontos percentuais; e venceu no Ohio por… 100 mil votos!
Esta exacta noção de Rove tem a ver com a capacidade da máquina republicana. O staff de Bush conseguiu vencer todos os targets a que se propôs; em contraponto, os democratas entraram numa crise de espaços: como reagir a tamanha onda republicana?
E, de facto, esta será a questão fundamental que o Partido Democrata terá que saber responder, se não quiser ficar longe da Casa Branca até 2012 ou, quem sabe, 2016.
Os anos dourados de Clinton já lá vão e a não eleição — embora com mais votos — de Al Gore em 2000 impediu a continuidade dos democratas. A partir daí, o partido de Roosevelt, Kennedy, Carter e Clinton tem sofrido uma agoniante falta de liderança. Como consequência, as expectativas de regressarem à Casa Branca têm sido poucas. John Kerry poderia vir a dar um bom Presidente, mas revelou-se um candidato insuficiente.
Perante o domínio dos republicanos na Presidência, no Capitólio, na Câmara dos Representantes, no Supremo e nos governadores dos principais estados flutuantes, o Partido Democrata necessita, urgentemente, de reconquistar a Casa Branca já em 2008. É possível, mas desta vez precisará de acertar em cheio no candidato a apresentar lá para meados de 2007. Já não falta assim tanto tempo e, como tal, o próximo ano e pouco deverá servir de profunda reflexão.
Neste contexto, há duas teses que deverão sobrevir como as com mais hipóteses de virem a ser as escolhidas: ou escolher alguém que reconquiste o espírito de representantes das classes trabalhadoras, das minorias, da classe média e de uma visão multilateralista; ou preferir um candidato que, não perdendo os votos tradicionais dos democratas (por exemplo, à partida, os negros votam esmagadoramente no candidato democrata, mesmo que este se mostre pouco sensível aos seus problemas), consiga penetrar no centro e mesmo nos votos à Direita.
Na América, a dicotomia esquerda/direita tem matizes um pouco diferentes às que estamos habituados, mas sociologicamente continua a fazer sentido dizer que os Democratas representam o eleitorado mais à esquerda, enquanto os Republicanos, mais sensíveis a valores morais, religião e família, correspondem à Direita.
Bill Clinton nunca teve maioria absoluta, mas conseguiu captar o essencial dos votos da classe média, minorias e trabalhadores. O problema é que Kerry perdeu importantes fatias para Bush em sectores como os hispânicos, a classe média e mesmo junto dos negros.
A missão do próximo candidato democrata é diluir a «maioria moral» que deu, há meio ano, a vitória a Bush por 51 por cento. Nessa perspectiva, faria sentido apostar em alguém que conseguisse identificar-se com o centro político, tendo um discurso próximo do investimento nas novas tecnologias e com pequenos traços de religião (basta ler recentes discursos de Hillary Clinton para notar essa preocupação).
Mas se o problema dos democratas tem a ver com falta de organização da máquina, a verdade é que só um discurso ideológico, que recupere o apoio dos sindicatos (ainda com bastante peso em alguns estados importantes como o Ohio ou Michigan), conseguiria fazer do próximo candidato democrata alguém com suporte suficiente para responder à onda republicana.
Do lado republicano, passa-se um pouco o oposto: o normal seria escolher alguém próximo de Bush, tendo em conta os seus sucessos eleitorais, mas a verdade é que os candidatos que se perfilam têm uma vertente menos religiosa e mais virada para um discurso de abertura.
Tudo somado, temos, nesta altura, os seguintes candidatos potenciais…
Do lado democrata:
— Hillary Clinton, senadora por Nova Iorque
— John Kerry, senador por Massachussets
— John Edwards, senador pela Carolina do Norte
— Barack Obama, senador pelo Illinois
— Evan Bayh, senador pelo Indiana
Do lado republicano:
— John McCain, senador pelo Arizona
— Rudy Giuliani, antigo mayor de Nova Iorque
— Condoleeza Rice, secretária de Estado
— Chuck Hagel, senador pelo Nebraska
— Jeb Bush, governador da Flórida
Hillary é, claramente, a candidata mais bem colocada do campo democrata. Capitalizaria muitos dos nostálgicos dos anos Clinton, embora seja conotada com um sector um pouco mais à esquerda, quando comparada Bill. O mandato no senado por Nova Iorque é olhado como uma boa rampa de lançamento para uma nomeação que, a confirmar-se, entraria para a história como a da primeira mulher investida como candidata por um grande partido (em 2000, Elisabeth Dole ficou em terceiro nas primárias do Partido Republicano).
Kerry tem o capital de mais de 55 milhões de votos, que, numa situação normal, lhe garantiriam a eleição, mas não se livra do rótulo de flip-flop e candidato cinzento;
John Edwards foi seu candidato a vice. Tem uma excelente imagem e uma visão moderna e positiva da América. Poderá ser uma alternativa consistente, no caso de Hillary não avançar;
Barack Obama é um brilhantíssimo advogado negro que, aos 35 anos, chegou ao senado com uma vitória de 70 por cento no Illinois. Já repetiu que não é candidato em 2008, mas essa hipótese não está totalmente afastada, se os favoritos não avançarem. Há quem defenda que se Hillary não se candidatar, Obama poderá vir a ser o vice de uma candidatura de Edwards ou Kerry;
Evan Bayh é, deste lote, o menos conhecido e o que menos hipóteses terá de ser o nomeado, mas tem sido apontado, nos Estados Unidos, como um potencial presidenciável.
Do lado republicano, a grande dúvida parece residir entre McCain e Giuliani. O senador pelo Arizona quase conseguiu a nomeação em 2000 e é visto como um candidato moderado. Herói de guerra, defende a transparência na classe política, com medidas corajosas. Se for nomeado, ditará o regresso do Partido Republicano a uma visão mais centrista, podendo, assim, fazer a reconciliação do sistema, muito polarizado com a disputa Bush/Gore e Bush/Kerry.
Giuliani saiu com enorme popularidade do 11 de Setembro e tem tido a vantagem de estar fora de um cargo executivo. É um fenómeno de popularidade, mas representa uma ala mais dura dos republicanos (é anti-aborto).
As primeiras pesquisas confirmam a tendência de Hillary Clinton pelo lado democrata e uma acesa disputa, com ligeira vantagem de McCain em relação a Giuliani:
QUINNIPIAC
McCain 43-Hillary Clinton 41
Giuliani 44-Hillary Clinton 43
POLLING REPORT
McCain 49-Hillary Clinton 38
Giuliani 47-Hillary Clinton 41
Hillary Clinton 50-Jeb Bush 47
RASMUSSEN REPORTS
McCain 45-Hillary 38
Giuliani 42-Hillary 40
Hillary 47-Condoleeza 40
Outros dados:
Se Hillary Clinton avançar, terá o apoio imediato de 29 por cento do eleitorado; 36 por cento dizem já que não votam nela; 27 por cento admitem votar, mas ainda não sabem;
Para 43% do eleitorado, Hillary é «liberal», recebendo o rótulo de «moderada» para 53 por cento e 8 por cento dizem que é «conservadora». 44 por cento do eleitorado tem uma opinião favorável da senadora por Nova Iorque; 39 por cento não gosta dela.
Respostas espontâneas sobre possíveis candidatos em cada campo:
DEMOCRATAS
Hillary Clinton 39
John Kerry 21
John Edwards 15
Barack Obama 9
Evan Bayh 1
REPUBLICANOS
Rudy Giuliani 25
John McCain 21
Condi Rice 14
Jeb Bush 7
Chuck Hagel 1
Publicado por André 18:31:00
porque os maus estão nos USA, vide Busch! è preciso ter lata? vote sim
para ficar feliz............
"os oito anos de Administração Bush ficarão para a história como dois períodos de oportunidades perdidas e de recuos na cooperação internacional"
Santa ingenuidade, isso só acontece quando uma politica importante já teve tempo de se estabelecer . Quando há uma recente mudança estratégica no mundo todas as politicas são potencialmente divisivas, tal como seria atacar a Alemanha quando esta invadiu a Polónia . Fica o comportamento vergonhoso e idiota de uma parte da Europa. Idiota porque se EUA falhassem no Iraque quem seriam os primeiros a levar com a ressaca seria a Europa e se os EUA vencessem como venceram ficariam com todos os louros.
A Europa que armou o Iraque tem moral?
A obstrução do triunvirato Chirac, Putin, Shroeder são os líderes dos 3 países que armaram mais de 70% do exército Iraquiano. A Alemanha Ocidental que montou a maioria das fábricas quimicas e foi o pais que mais contribuiu para o esforço de guerra nessa área. Como consequência os contribuintes alemães viram-se obrigados a pagar como compensação 2 submarinos dos 3 que Israel obteve da Alemanha porque os Scud modificados que caíram em Israel vinham todos com componentes alemães...
A "Europa" do autor escolheu uma estratégia em que perde em qualquer das hipóteses. Já para não falar na Aliança e na gratidão devida a quem veio á Europa 2 vezes no século passado sacrificando os seus filhos quando podiam ter ficado quietos a guerrear os japoneses com uma mão atrás das costas. Cooperação internacional é um fim em si mesmo?
Ficar quieto é bom para a cooperação internacional ou assinar acordos que não vão ser cumpridos = Kyoto ou esquemas petróleo por alimentos.
"Anos dourados de Clinton" = diletante e inconsequente no combate á Al-queda "ficarão para a história como dois períodos de oportunidades perdidas" no combate ao terrorismo, o primeiro ataque ás torres foi em 1993...
"Já para não falar da péssima situação económica em que, no plano interno, os EUA se encontram…"
Quanto á economia dos EUA terá vários problemas um deles é o estado da educação: pedagogias e cultura de esquerda destróem qualquer sistema de ensino, Asiáticos menos politizados e mais práticos consequência de uma cultura menos dada a estados de alma(e as que tiveram com clara influência europeia).
Mas no tempo presente se 5,2% de desemprego, crescimento da economia a 3-4% um deficite alto em relação aos tempos mais recentes mas nada comparado com outras vezes que os EUA estiveram em guerra é "péssimo" então o que dizer da economia da "Europa" do autor? Talvez valha a pena perguntar como o autor caracteriza uma boa situção económica.
O fantasma dos evangélicos de volta seria bom que lesse as estatísticas de que quem votou em quem para perceber que o voto evangélico não teve a importância que se diz que teve.
"três semanas de uma eleição que supostamente estava a ser disputada taco a taco"
É a vulnerabilidade habitual de quem se deixa levar demasiado pelos média do nosso retângulo , postei na caixa de comentários do Blasfémias que Bush ia ganhar por 52-47 foi 51-48 . Isso acontece porque por cá não chegaram ecos dos democratas desiludidos e das preocupações de muita gente anónima.
"Presidente. Bush, para descanso dos europeus, não poderá candidatar-se a um terceiro mandato"
Quais europeus?
"Guiliani
É um fenómeno de popularidade, mas representa uma ala mais dura dos republicanos (é anti-aborto)."
Caracterizar Guiliani ala mais dura dos Republicanos é simplesmente ignorância,inclusive na questão do aborto.
lucklucky