"Ser Democrata"
sexta-feira, março 18, 2005
Fica um postal, assinado com nome próprio, enviado pelo próprio, para publicação...
Apesar de tudo, de todos os vícios, de todas as virtudes, nas noites de eleições, os políticos transmitem, em geral, ensinamentos de democracia. Festejam a vitória os vencedores, têm um gesto e uma palavra de solidariedade para com os vencidos. Estes, no geral, suportam a derrota com estoicismo, cumprimentam e felicitam os vencedores...
Ao que parece, e o que parece muitas vezes é, assumem uma postura democrática - é assim a democracia, uns ganham, outros perdem, pela força do voto de quem tem legitimidade para exercer o direito político (qual cívico?), de votar. Não é legítimo, eu julgo, afirmar que os políticos transmitam aquela ideia inferior do "vae victis". Todos são necessários ao estado, à Democracia.
Se é assim nas eleições para os altos cargos do Estado, de uma autarquia, do Parlamento Europeu, lamentavelmente já não é assim nas corporações.
Quanto mais insignificante é o colégio eleitoral, seja lá para o que for, maior é o despeito para com o adversário vencedor. Nutridos pela tramóia, pela intriga, pelos favores ocultos aos amigos da corporação, os candidatos sentem-se traídos se não venceram, não têm um gesto genuinamente democrático para quem venceu, lançam dúvidas e reservas sobre a composição do exíguo colégio eleitoral, feito de meia dúzia de pares da corte.
O verniz democrático é, de súbito, riscado, homens ditos de esquerda, ou da esquerda, assumem posições condenáveis... porque os outros venceram e eles perderam... É confrangedor. Apregoam aos quatro ventos que contaram os votos e que os seus pares foram injustos, que alguns deles não deviam votar, deveriam ficar em casa a curtir e derramar mágoas dessa injustificável "capitis diminutio".
A ambição do poder, assente não se sabe em que direito de natureza política, ou associativa, ou corporativa, cega-os. Não discutem princípios, nem regras, nem sistemas, deixam maliciosamente a dúvida, questionam, sem questionar, as eleições que perderam.
Discutem só de como foram vítimas pois os eleitores foram injustos, não exerceram o voto com justiça, tinham a obrigação de neles votar. Sem eles, o grupo não vai ser nada, antes deles era o caos, agora vem aí o dilúvio. A corporação vai irremediavelmente tombar no coro dos necrófagos.
São os imprescindíveis de que estão cheios tudo quanto é arquivo de antiguidades, desde a Torre do Tombo ao mais longínquo arquivo de antiguidades que ninguém visita por óbvias razões de higiene primária.
São assim os corporativos.
O mais triste é que nem se dão conta disso. Se não fosse triste, dava para rir às gargalhadas.
Alberto Pinto Nogueira
Publicado por josé 09:58:00
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Aquele abraço