Demagogia barata, ou a anatomia de um debate.
sexta-feira, fevereiro 04, 2005
Está postulado. Infelizmente, ou talvez não, o mundo não é tão monocromático e maniqueísta como João Miranda o teima sistematicamente em pintar. Para começar é forçoso ter em conta algo chamado contexto, se o debate de ontem tivesse ocorrido no verão passado, logo a seguir à fuga do Dr. Barroso, i.e. se tivesse havido logo convocação de eleições antecipadas, muitos mais seriam os que diriam que o Dr. Santana ganhou. Só que, goste-se ou não, o Dr. Lopes de ontem não é o Dr. Lopes do verão passado, carrega agora consigo o penoso fardo de quatro meses como primeiro ministro que, no mínimo, foram atribulados. Foi esse Dr. Lopes que as pessoas viram na televisão, não a eterna promessa mas o primeiro-ministro, demitido, e é esse que vai a votos. Depois, a competência não se mede aos palmos muito menos pela oratória, o Dr. Lopes é desde há muito um razoável tribuno, mas também o são o Dr. Louçã ou o Dr. Portas, a título de exemplo, ora querer resumir um combate político a um concurso para ver quem palra melhor é no minimo de gosto duvidoso e de honestidade intelectual discutivel, é porém uma triste emanação da nossa democracia, dita de mediática. Muitos viram na capacidade que o Dr. Lopes demonstrou para debitar números e mais números, alguns bem errados como o peso dos IVA/IRS/IRC no PIB, uma agradável surpresa, mas ironicamente essa foi a maior fragilidade do ainda primeiro ministro. Mal, alguém aconselhou o Dr. Lopes a parecer credível, fazendo-o passar por um profundo conhecedor de dossiers. O problema é que se convém que um primeiro-ministro conheça os dossiers e os saiba analisar adequadamente, o mais fundamental, o essencial, é que um primeiro-ministro seja líder, saiba fazer escolhas e responder por elas, as certas e as erradas. O Dr. Lopes foi incapaz de explicar as trapalhadas dos últimos meses (há explicação?) e sobretudo não foi capaz de garantir que essas trapalhadas não se repetiam jamais. É verdade que foram feitas coisas bem feitas, mas faltou ao Dr. Lopes a humildade, a modéstia, de admitir algo tão simples como afirmar que tinha cometido erros e que tinha aprendido com eles, logo que esses erros não se repetiriam. E isso, era, essencialmente, o que estava em causa. Quanto ao Eng. Sócrates, faltou-lhe a coragem de se demarcar da prática, e da tralha, guterrista, como lhe faltou explicar tintim, por tintim, como pretende fazer as reformas de que o país precisa. Mas, e é um grande mas, foi o único a dizer que iam ser precisos sacríficios, isto perante um Dr. Lopes, que ainda há bem pouco decretou o fim das medidas de contenção da Dr.a Ferreira Leite, assim como o fim (!) da crise. Não me vou alongar sobre a apaixonada defesa que o Dr. Lopes fez da introdução na campanha de temas ditos fracturantes só porque estão na ordem do dia noutros países, há prioridades..., até porque se verificou que ao contrário do que seria de supor o Dr. Lopes não tem posições definidas sobre nenhum deles, será talvez a favor da eutanásia?, o que diz bem da motivação da sua introdução. Lamento que não se tenha falado a sério da justiça, área onde depois de se ver livre da Dr.a Celeste este governo parecia estar a querer apostar, e onde, até por via de precalços recentes seria importante saber o que vai fazer o PS, como lamento que muitos outros temas, como a revisão, ou não, do PEC, a política de Saúde, (grandes) Obras Públicas tenham ficado de fora. Mas as coisas são o que são, e sendo o Dr. Lopes quem é, sendo do meu partido, prefiro que a serem feitas coisas mal feitas, essas o sejam pelo partido dos outros. Por uma questão de higiene. É que a grande vantagem do Eng. Sócrates não é não ser o Dr. Lopes, a sua grande vantagem é não ser do PSD, não envergonha a herança do Dr. Sá Carneiro e do Prof. Cavaco...Sócrates ganha o debate porque perdeu por poucos
É a última inovação argumentativa. Sócrates ganhou o debate porque perdeu por poucos.
O ódio a Santana Lopes é mesmo ilimitado. Mas então se Santana Lopes é assim tão incompetente, como é que se explica que Sócrates não o tenha esmagado?
Publicado por Manuel 13:38:00
6 Comments:
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O primeiro 'round' foi ganho pelo Eng. Socrates - quando se falou das
'campanhas negras' e das 'insinuac,ões'... Sublinhou, justamente, a
distinc,ão entre a falta de vergonha e oportunismo da actual lideranc,a do
PPD/PSL e campanhas eleitorais anteriores. Não embarcou na
conversa de discutir os'temas fracturantes' a propósito de ..nada,
a não ser a tactica do enxovalho que o Dr. Lopes procurava instalar...
Ao contrário do Dr. Lopes, ele não falou dos filhos....
Os rounds que se seguiram, na minha opinião, foram ganhos pelo
Dr. Lopes. Primeiro porque o PS o tem andado a pintar como incompetente (que eu
acho que ele é) mas em momento algum do debate conseguiram os argumentos
do Eng. Sócrates por a nu essa incompetência......E quem reclama
uma maioria para governar devia ter sido capaz de aproveitar isso.
Depois porque o Dr. Lopes parece que, pelo menos para este debate,
estudou alguma coisa, e soube pelo menos falar (mais) daquilo que
o comum dos espectadores (e eleitores) percebe que está ao alcance
da acc,ão de um governo. O Eng, Sócrates voltou 'as abordagens
elípticas ao falar dos 150k empregos (que agora são um objectivo!...)
e da 'pobreza' como voltando á agenda politica, ou atacar a burocracia - se fosse realizador de
cinema, seria porventura bom a conceber grandes planos sequência ou
a desenha-los no 'story board' - mas permanecem as dúvidas se
consegue realmente fazer o filme de que fala, dirigir actores, accionar uma montagem
eficaz ...
Tudo isto não reverte a favor do Dr. Lopes pois que o País já o teve como primeiro-ministro, e sabe que o isso é. Reverte, talvez, a favor dos partidos que ontem não estiveram representados no debate..ou então, contribui para aumentar a confusão na cabec,a de muita gente (como eu) que não sabe em quem vai votar ou vai votar em branco...
Isto porque a critica politica porventura mais acertada que se poderia fazer ao Dr. Lopes não foi feita,
se calhar porque não o podia ser, pelo Eng. Sócrates - a sua ruptura com a politica financeira
da Dra. Ferreira Leite, a cultura do facilitismo, a tactica do cata-vento.
Este ponto é importante porque, em minha opinião, revela limites e autismo preocupantes em ambos.
Este autismo resulta de um desfasamento entre aquilo que é a sensabilidade geral dos
eleitores, já notada por muitos observadores - que o pais está a atravessar uma situac,ão dificil, e que essa travessia vai
implicar ainda mais sacrificios, a sério e a doer - e o 'optimismo' das propostas dos candidatos - ele
é crescimento a 3% ao ano, poupanc,as com centrais de compras, aumentos garantidos á func,ão pública, etc.
Com isto não se pretende que qualquer dos candidatos falasse de sacrificios inauditos,
ou de medidas 'impopulares' avulsas para afirmarem alguma credibilidade. Mas esperava-se
uma abordagem mais realista, onde a constatac,ão das muitas dificuldades que se
adivinham pautasse um discurso de rigor, de autoridade e de coragem, com menos medidas
e estatisticas, e mais direcc,ões certas que se pretendem seguir.
Isto era mais importante no caso do Dr. Sócrates pois a cultura do facilitismo, do cata-vento (e do queijo limiano..) é um estigma do qual o PS ainda não se livrou desde os tempos do Guterrismo, nem ainda fez o minimo de 'mea culpa' para dele se livrar - dito de outro modo, enquanto muitos eleitores veem a 'fluidez' e inconsistência do Dr. Lopes com uma anomalia no PSD, esperam, em relac,ão ao PS, por uma 'anomalia' que apresente um seu projecto de governo extirpado das 'inércias' e 'incompetências' demonstradas no consulado Guterrista.
Nada disto transpareceu no debate de ontem,
e acho ainda que o Eng. Sócrates, ao reclamar a maioria absoluta, tinha de ter sido capaz
de o fazer transparecer. Pois só assim conseguiria criar a vaga de fundo para se aproximar
dessa maioria absoluta...E por isso acho que foi ele que perdeu o debate....
Zzzt
"O Santana dominou, completamente, do princípio ao fim! Dominou no discurso; na empatia discursiva, na imagem que passou na tv.
Ganhou o debate, sem qualquer margem de dúvida, quanto a mim.
Será que os argumentos que utilizou, baseados em factos, números e razões, chegam para afirmar que será um bom primeiro ministro?
A verdade é que teve alguns bons ministros. Tão bons ou melhores, do que um Cavaco poderia arranjar. Tinha por isso algumas boas moedas.
Todavia, continuo com as minhas dúvidas, muitas delas derivadas do ruído, provocado por Pachecos e outros abruptos.
Será que Santana é melhor do que parece e a imagem que lhe querem colar apregoa?
Ou será que é mesmo um vazio de ideias, como assegura Vasco Pulido Valente?
Eu sou dos que ainda podem ser convencidos...de uma coisa ou outra."
Agora elaboro mais um pouco:
O que fará de Santana um mal-amado para certos sectores do PSD?!
A vacuidade no pensamento político?
A ser assim, também o Durão era uma vazio consistente na firmeza das ideias que movem multidões- e mesmo assim, foi até Comissário-mor! Mesmo depois de apoiar a aventura iraquiana de Bush.
E o Cavaco, tinha assim muita consistência na cultura política? Como isso, se até confundia o Thomas Morus com o Thomas More?!
Será então a (in)competência funcional? A (in)capacidade de realização de ideias alheias, por carência das próprias?! Há quem diga que sim, porque o tipo nunca acabou nada do que se propôs. E o exemplo flagrante estaria na saltapocinhice do parque Mayer e no saco de dinheiro dado ao F. Gehry.
A mim, não me parece. Essa incompetência nunca foi grande impedimento para liderar governos e a prova está no Mário Soares a governar à vista do FMI por causa da banca rota iminente em resultado de políticas estruturais erradas. FOi este político que granjeou fama de ser indolente na leitura de dossiers complicados e isso nunca o impediu de ser considerado um político de primeira água e um notável senatorial.
Então, onde residirá a peçonha que afugenta os bem pensantes?
Quanto a mim, no estilo e nas companhias. Diz-me com quem andas...
A primeira entrevista que o tipo deu, à Visão, é reveladora: tem tudo de artificial e enganador-até o livro que o gajo segurava para a fotografia...e que era uma biografia ou um estudo de história qualquer e que o tipo obviamente nunca leu nem jamais pensou ler.
Aliás, ler, para ele, deve ser um exercício de fastídio imenso. COmo para as pessoas que o rodeiam.
E por causa destas é que eu descreio verdadeiramente nas qualidades do tipo como político em vias de querer ser primeiro- ministro.
Custa-me aceitar um Sarmento; um Barrete como o Álvaro; uma Guta qualquer coisa; um Mexia a mexer onde não deve; uns secretários jotinhas; uma atitude diletante, permanente e a fingir o contrário.
Costuma dizer-se que o estilo é o homem.
É por isso que o Santana se perde!
Não será pelo resto, certamente. E nesse resto é que a diferença se devia fazer e sentir, mas entre os políticos no activo e com perspectivas de liderar não vislumbro nunguém com essa vantagem competitiva.
É pena.
Continuo sem saber em quem votar.
Mas está mesmo convencido que isto tudo depende do cabeça de lista? Eu não acredito nisso. O que eu vejo são males estruturais, a começar pela própria forma da democracia com este poder de um primeiro escolher tudo, incluindo os representantes da assembleia.
Se for um caso raro de inteligência e carisma até poderia acreditar que isso tinha peso. Mas o que é hoje o carisma ou a dita inteligência senão a retórica a arte de ir subindo no partido e dominar aquilo tudo?
Porque motivo os outros que têm créditos mais antigos não se candidataram? E isto é tão válido para o PS como para o PSD (ainda que neste o medo de se queimarem seja mais legítimo).
E depois temos o aparelho partidário. E esse... bem, esse só muda quando o empurram e mesmo assim. Porque motivo foi preciso o presidente não dissolver a assembleia para o Ferro se ir embora? O que fazia o partido? Nada, deixava andar. E mesmo assim o que fez? Foi buscar o mais popular depois de não haver mais ninguém a dar a cara.
Quanto ao resto creio que é inevitável. O PSD precisa de uma grande sova. Isto é do senso comum, os tugas penalizam sempre o que é óbvio.
Quanto a políticas estamos a falar do país com os maiores atrasos e défices e concorrência na CEE que não vejo volta a dar.
Que podem fazer? Em termos básicos, que eu não percebo nada de política, imagino que o que podem fazer é cortar onde se pode, onde se deixa e onde não se levanta tantas ondas. São capazes de chamar a isto, um certo liberalismo ou um choque qualquer.
Mas irão mexer nas corrupções que todos conhecemos? Nas benesses e casos escandalosos de sempre? Não creio.
Por isso, como vejo que o cenário já está mais ou menos visível, era capaz de pensar que mais valia pensar-se na correlação de forças na Assembleia...
No governo... bem no governo se não houver maioria também não me imagino a lucky voter que evite o BE “;O)))
Por isso ainda não encontrei um bom motivo para votar. E o mais chato é que nestas coisas nem vejo um simpaticozinho a quem dar o voto em vez de ir branco “:O)))
É claro que quando imagino o BE em coligação entro em delírios e até me dá vontade de dar o voto ao MRPP “:O))))
E votem muito para o vade retro BE ":OP
Li mal, pensei que estava a falar do Sócrates. Fónix, o Sócrates só foi bom para o partido poder dar uma grande volta depois da derrota “:O)))
Caraças, já não lhes distingo os papéis... ":O.
e a história repete-se.