O que me intriga é outra coisa: o que faz o PSD supor que o consumo de energias e tempo de antena com esta monomania é eleitoralmente compensador? Num estudo de 2002, realizado pelo ICS, 73% dos inquiridos afirmavam ter "pouca" ou "nenhuma" confiança nos partidos, enquanto que apenas "44% deles afirmavam ter "pouca" ou "nenhuma" confiança nos institutos de sondagens. Bem ou mal, justas ou injustas, as percepções são estas. E posto isto, o que pensa o PSD poder ganhar ao chamar ainda mais a atenção para resultados que lhe são manifestamente desfavoráveis, e nos quais os eleitores parecem confiar mais do que nos próprios partidos? Mistério.

E há outro mistério que gostava de decifrar. Ontem, depois de atravessar o viaduto Duarte Pacheco na direcção de Lisboa, julguei vislumbrar um novo outdoor do PSD onde se mostrava um gráfico com os resultados de várias sondagens, indicando uma linha ascendente do PSD (repetindo, aliás, outdoor semelhante já usado nas autárquicas por Santana Lopes). Pareceu-me que uma das sondagens cujos resultados visavam validar esta curva ascendente era uma sondagem do Expresso. Da Eurosondagem. Não pode ser. De certeza que vi mal. Ou não?

Pedro Magalhães, Margens de Erro

Ainda a propósito do excelente contributo do Pedro Magalhães uma ou duas palavrinhas para as hordas que se lamentam para a falta de qualidade da oferta do nosso sistema político, é só atentar ao que é dito aqui. O facto é que só 16% dos inquiridos afirmam ter alguma vez contactado directamente com um deputado do seu círculo eleitoral; mais de metade dos inquiridos afirma não saber o nome de algum deputado ou deputada que tenha sido cabeça de lista por algum partido no seu círculo eleitoral; cerca de 75% dos inquiridos afirmam “concordar” ou “concordar completamente” com as afirmações de que “os políticos só estão interessados nos votos das pessoas e não nas opiniões delas” ou que “os partidos criticam-se muito uns aos outros, mas no fundo são todos iguais”;

Não sei se perguntaram quantos pensaram em aderir a um partido político com o fim de mudar as coisas, porque a questão é mesmo essa. Por muitos vícios que o actual sistema político tenha tenha, e tem, por muitas resistências que o sistema tenha à mudança, também tem, o facto é que muito boa gente não está para se maçar, e a política (já) não é vista como algo de nobre, antes pelo contrário. O drama todo é esse. O facto é que diga-se o que se disser as coisas ainda não estão sufiucientemente mal que forcem as pessoas a fazer, elas próprias, uma limpeza geral nos partidos arco do regime, leia-se PS e PSD, porque quando estiverem realmente mal, e é só subirem a sério as taxas de juro ou a inflação disparar, podem ter a certeza que ela acontecerá. Nos entretantos, a sociedade demite-se, porque é de uma demissão que se trata, dos seus deveres cívicos, e delega no vácuo a condução da coisa pública. É a vida.

Publicado por Manuel 00:12:00  

1 Comment:

  1. Anónimo said...
    Ó amigo (?) Manel, já ontem tinha aqui comentado que já não há alma que confie na política - seguindo aquela máxima de que "ou se come dela ou ..."- nos partidos, nas pessoas que os representam. E claro que, daí, resulta a falta de civismo de nada fazermos para que tal muda. É uma pescadinha.... Pois, como bem diz, até parece mal a gente dedicar-se a isso, por mim falo que digo logo " lá vai outro governar(-se)!"
    É pobre, eu sei, é prático, também sei, mas aquela profissão tá mais mal falada que a mais antiga.....!
    Quanto aos outdoors, ninguém lê, ninguém faz fé, sejam de que partido forem, e sempre dão um dinheirito a alguém, né?! Como se diz lá em cima, há tantos milhões para gastar.......
    Gabriela Arez

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