falar claro...
segunda-feira, janeiro 17, 2005
Ainda falta mais de um mês para o dia 20 de fevereiro e já começa a ser um lugar comum falar da questão da sucessão no seio do PSD... Ao que parece qualquer militante qualificado (?) serve, chame-se ele Dias Loureiro, Rui Rio ou Marques Mendes. O que interessa é, segundo parece, apenas e só a tal qualificação.
Acontece que este debate não só é estemporâneo como contraproducente, é, em suma, um erro. Um erro porque o PSD não vai perder as próximas eleições legislativas devido a uma qualquer lógica de ciclo, cansaço ou alternância, o PSD vai perder as próximas eleições, no dia 20 de fevereiro, porque mesmo contra o PS do Eng. Sócrates os portugueses o acham uma pior opção.
O PSD vai pois perder as próximas eleições porque é considerado pior que mau, e o Eng. Sócrates é mesmo mau, e, em democracia, os eleitores tem sempre razão. Ora uma derrota do PSD não pode ser imputada apenas e só a Pedro Santana Lopes. Sem menosprezar a responsabilidade do Dr. Lopes o facto é que ele não chegou aonde chegou sozinho, antes pelo contrário. Reduzir o balanço das legislativas, no seio do PSD, a uma mera questão de liderança é tacticamente interessante, na lógica de sobrevivência de alguns, mas estratégicamente um disparate, porque o problema não é o Dr. Lopes ter sido o líder que foi a votos perdeu, o problema é alguém com as caracteristicas do Dr. Lopes ter conseguido chegar a líder. Porque um partido como o PSD tem que almejar sempre a infinitamente mais que o Dr. Lopes.
Quando cair, e vai cair, o Dr. Lopes não pode cair sozinho como algo de que o PSD se livra embaraçado, sem se entrar em lógicas de purga o facto é que esteve com ele, quem o caucionou, quem, no seu consulado, escolheu, por opção única e exclusiva, apostar na vida política tem que natural e consequentemente tirar ilações e assumir co-responsabilidades.
A grande discussão que tem que se fazer a partir de 20 de feverreiro é sobre o que está errado no seio do PSD, na forma como internamente este funciona e na forma como se relaciona com a sociedade em geral, perceber porque é que não é um lugar de excelência, etc e tal. Qualquer discussão em torno da liderança que não seja precedida por um debate interno sério condena o PSD a ser apenas uma versão mais à direita do PS, embora haja naturalmente quem se contente e dê por feliz com isso.
Uma das grandes questões que tem sido afloradas, periodicamente, no seio do PSD, e que vai ser aliás fracturante no day after, é o comportamento face ao posicionamento do Prof. Cavaco em relação à actual liderança. Aqui pede-se, aliás exige-se, coerência. Coerência porque o Prof. Cavaco não deve rigorosamente nada ao PSD, o PSD e o País devem-lhe tudo. Alegar-se que o Prof. Cavaco fez mal, e foi prejudicial o PSD, porque se não gostava do Dr. Lopes devia ter ido a Conselho Nacional (e se tivesse ido seria acusado de paternalista, como se adiantasse alguma coisa) é da maior desonestidade intelectual possível, e é, outra vez, reduzir o PSD a uma lógica clubistica e diminuir os seus militantes a meras caixas de ressonância de uma qualquer claque.
Há, no interior do PSD, quem já tenha dito que não votará no Prof. nas próximas presidenciais, há quem o acuse agora de cobarde e traidor, afinal é disso que se trata quando se afirma que ele "deveria estar disponível para ajudar o partido nas horas difíceis", e há quem se cale tacita e muito convenientemente. Para os mais esquecidos recorda-se que sempre que falou, nos últimos anos, o Prof. Cavaco falou para o País, não para o interior do PSD, e se presentemente o PSD não é a melhor opção para o País isso, sendo um problema de facto do país, não pode ser imputado, com honestidade, ao Prof. Cavaco. Mais, insinua-se egoismo na recusa do Prof. Cavaco em ajudar o PSD nestes "momentos díficeis", mas afinal o homem está a ajudar o Partido muito mais do que se pensa. Podia ter ficado calado, podia olhar para o lado, podia chutar para canto, como agora se diz, mas não, educada e polidamente, Anibal Cavaco Silva deu um sinal - um sinal de responsabilidade, num acto de pedagogia, recordou aquilo que é um dos ensinamentos básicos de Sá Carneiro, que é o de nunca ficar calado, doa a quem doer.
E o grande drama, a grande doença, desde os tempos em que ele foi primeiro-ministro, é que nunca se debateu a sério no interior do PSD, houve alianças, tricas para aqui, tricas para acoli, mas nunca houve debate verdadeiro, nunca houve clarificações. O que o Prof. Cavaco, militante de base, veio dizer foi tão só que o tempo do silêncio acabou, um verdadeiro drama para aqueles que não tem nada de verdeiramente relevante para discutir, porque demasiado habituados a negociar lugares e carreiras, jogar com fidelidades ou à espera que o poder lhes caia no regaço...
Publicado por Manuel 23:31:00