O Emprego e o PS ( II )

A afirmação de que o mais importante é o emprego, caro CMC , não sei se apenas sua, se extensível a todo o Partido Socialista, mostra o porque de o nosso país continuar na cauda da Europa. Mostra porque discutimos o acessório, e não as causas que permitiriam mudar o actual rumo das coisas.

Obviamente, que o desemprego é um problema grave que quando comparado com o problema das tensões inflacionistas geradas pelos choques assimétricos da procura sobre a oferta, por mais graves que sejam os efeitos destes choques, o choque do desemprego nas famílias e na quebra do seu rendimento é mais grave.

Mas em vez de tentarmos evitar que esse choques sejam menores, não. Preocupamo-nos com o problema do desemprego. Perceberá mais abaixo que a mera possibilidade de reduzir os choques, reduziria o desemprego e outras coisas mais.

Portugal possuía em Novembro e segundo o INE, perto de 375 mil desempregados. Um grave problema sem dúvida. Primeiro porque aumentam as contribuições do fundo de desemprego. Segundo porque diminui a captação de receita fiscal. Terceiro é de pessoas que falamos e não de números. Finalmente , porque diminui a produtividade.

Poderia aqui explicar-lhe alguns malefícios para a economia, de vivermos numa situação de pleno emprego. Poderia dizer-lhe que nesta situação suportada em norma pelo Estado, não há competitividade no mercado da oferta de trabalho.

Mas não, prefiro dizer-lhe que o mais importante não é o emprego. O mais importante é a riqueza produtiva que esse emprego gera. A produtividade, que esse emprego gera e que conseguirá através do seu efeito multiplicador gerar investimento, que por sua vez gerará emprego.

Ao contrário, do que se afirma, e porque o problema é algo estrutural que nem os programas eleitorais do PS e do PSD, parecem ser capazes de contornar, o verdadeiro problema reside exactamente na verdadeira vontade em mudar, sendo impopular hoje para ganhar futuro.

Os choques que lhe falava acima, devem-se á incapacidade da nossa oferta interna em satisfazer a procura sempre que esta acelera, motivada por um consumo interno gerado a partir de rendimentos e endividamento. Ora na mera hipótese de tentarmos resolver o problema pelo lado da oferta, não estamos outra vez a resolver o problema pelo lado da procura.

Já pensou que em qualificar a oferta, aumentando a sua produtividade, as empresas necessitariam de mais e melhores empregados ? Já pensou que ao aumentar a produtividade, os lucros das empresas serão maiores, os impostos cobrados em maior nível mesmo com o nível de evasão fiscal que temos ? Já pensou que com maiores lucros as empresas investem mais ? Já reparou que mais investimento gera mais emprego ?

Obviamente que qualificar a oferta interna, é algo que figura em qualquer programa eleitoral apenas para encher - vulgo palha - , porque para se qualificar a produção interna, se e quando o fizermos, estaremos a alterar algo que é estrutural e não conjuntural.

De que vale admitirmos 75.000 mil funcionários públicos, se eles não forem necessários ou porventura colocados em locais já de si excedentários de pessoal. De que valerá o Estado pagar os salários a estes nobres 75.000 funcionários públicos se eles não acrescentarem qualquer valor acrescentado, não porque não possuam capacidades, mas porque estarão inseridos numa máquina pesada e com demasiados vícios assumidos e imutáveis ? Não seria mais racional mudar primeiro a máquina ?

Valerá a pena o Estado continuar a apostar na agricultura da forma errada como o tem feito até hoje ? Sabe o número de funcionários que o Estado tem para um sector primário como a agricultura que vale o que vale em termos de riqueza nacional ?

Há certamente áreas da função pública que necessitam de pessoal e outras que o tem a mais, mas há seguramente 65 % de uma função pública que trabalha apenas para permitir que a função pública exista.

Foram seguramente, 80 % da totalidade dos fundos comunitários, que foram empregues em salários e transferências sociais em vez de irem para as reformas estruturais.

Há seguramente uma tendência em privatizar serviços que até dão lucro, e ficar com aqueles que apenas dão prejuízo, talvez porque o Estado goste de ser masoquista.

Há seguramente uma tendência crónica para não percebermos isto.

O mais importante CMC, não é o emprego. O mais importante é criar condições que permitam que o Mercado/Estado gerem emprego produtivo, até porque o PIB real está manifestamente distante do PIB potencial.

Publicado por António Duarte 14:42:00  

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