E do caos nascerá a ordem?
segunda-feira, janeiro 10, 2005
Num momento de invulgar falta de clarividência a Grande Loja abriu-me as suas portas. Pois bem, aqui estou. Reclamem ali para o e-mail da gerência se quiserem.
Mantenho, ainda, a minha velha casa, onde continuarão a constar os disparates mais gritantes.
Dito isto, acho que o António peca em várias coisas. Em primeiro lugar, peca em quase me ter convidado a comentar o texto dele. Depois peca por achar que o Governo realmente acredita naquilo que apresentou como previsões. Peca, ainda, por não fazer o exercício de somar a totalidade das receitas extraordinárias de 2002, 2003 e 2004 – o que pagaria boa parte das SCUTS, por exemplo, e assim foi parar à despesa correntes em carros, papel para as impressoras e ordenados.
E peca, por fim, e acima de tudo, por só dizer que 2004 foi um ano perdido. Eu não percebo este branqueamento do que Durão Barroso e companhia andaram a fazer. Todos estes anos de governação desta direita (e não somos daqueles que confundem estes protagonistas com a direita – esta e não aqueles fazem falta ao país) foram anos perdidos, e foram perdidos por isto:
- a) foram pedidos sacrifícios aos portugueses em troca de uma consolidação das contas públicas e estas desconsolidaram-se;
- b) o desemprego aumentou;
- c) a credibilidade internacional do país diminuiu (e basta olhar para o rating da República);
- d) O tecido económico empobreceu.
O PS pode ter cometido erros. Ou melhor, cometeu. E muitos. Mas, afinal, o grande defeito do Eng.º Guterres foi não ter feito, em 2001, a graça de nacionalizar o fundo de pensões da CGD. O discurso da tanga nasceu aí.
Pois bem, a tanga foi vendida ao Citibank. O que nos resta?
Mudar.
Eu não vejo renovação nenhuma no PSD. A refundação daquele partido, depois do que o Lopes lá deixar (e ele ainda não acabou o serviço), atendendo até ao bonito Grupo Parlamentar do PSD que há-de sair das eleições, vai demorar uma legislatura. Ou uma vida …
Ou Cristo desce à terra ou podemos ter o PS sem oposição que se veja e, especialmente, se ouça. Ora o nosso sistema, mais do que de maiorias absolutas, precisa, para funcionar bem, que os checks & balances estejam a funcionar.
Quanto ao que se antecipa do PS, já o disse uma vez, esta declaração de princípios, aprovada pelo XIII Congresso do PS em Novembro de 2002, parece-me muito bem como principio de conversa:
"A economia de uma democracia moderna e desenvolvida requer a combinação equilibrada entre o mercado, como instrumento principal de coordenação e organização dos factores produtivos, o Estado, como representação e organização política e institucional da sociedade, e a iniciativa cooperativa dos cidadãos livre e voluntariamente associados em múltiplas formas de acção, para promoção de interesses comuns. O papel do mercado deve ser valorizado, designadamente nas funções que pode cumprir melhor do que os modos alternativos de afectação de recursos. Mas o seu pleno aproveitamento requer instituições fortes, capazes de agir estrategicamente e garantir a estabilidade e o domínio do tempo longo exigidos pelas transformações sociais qualificantes.A ver vamos.
Para o PS, a economia de mercado funda-se na livre iniciativa e na pluralidade de iniciativas, havendo lugar para a iniciativa privada, a iniciativa pública e a iniciativa social; deve estar sujeita a uma regulação institucional adequada, cuja existência, independência e eficácia compete ao Estado garantir; e deve assumir uma dimensão social e de bem-estar, isto é, incorporar na sua própria lógica de funcionamento a preocupação com os direitos humanos, o desenvolvimento sustentável e a coesão social. O Estado deve favorecer, com apoios específicos, o cooperativismo e as redes solidárias de agentes económicos e sociais."
Isto se (e só se) o PS não perder as eleições para si próprio. Nada que não esteja a ser tentado por alguns entusiastas de profissão que, de tanta sede que têm, ainda partem o pote.
Publicado por irreflexoes 17:11:00
Começa bem...
Pulido Valente tem escrito as últimas crónicas acentuando essa tónica e António Barreto enfatizou isso mesmo, ontem, na crónica do Público.
Os dois partidos que há trinta anos repartem entre si o poder, estão minados desde então por interesses que não podem de um momento para o outro postergar.
Quem manda nesses partidos sabe isso bem, parece-me. Assim, Sócrates vai fazer o que O deixarem fazer os outros que lá estão.
Na Saúde, um poço sem fundo de sorver recursos financeiros, vão continuar a mandar as corporações médicas e medicamentosas.
Na Educação vai continuar a preponderar a mentalidade do politicamente correcto e nem o afastamento de Ana Benavente salva o panorama.
Nas obras públicas...bem, aí, nesse sector importantíssimo para as finanças dos partidos e dos altos quadros dos partidos, aí...nem vale a pena adiantar mais nada. Será que alguém acredita em renovação nesta área sensível?! Será que alguém ainda acredita que se vai restaurar uma transparência nos negócios públicos em mistura com interesses privados?! Sócrates, nesta área sensível, tem alguma autoridade?! Give me a break!
Na Justiça, o panorama continuará de negrume, em parte devido aos factores apontados por Eduardo Dâmaso no esquecido editorial do Público de hoje: ninguém que manda está interessado em que a Justiça funcione bem e por isso não há meios para ninguém, para além das aparências e das cortinas de fumo dos discursos de circunstância!
Que sobra de importante?!
A agricultura? As pescas? o Ambiente?
O Ambiente é melhor nem falar. Não existe.
A Inspecção Geral do Ambiente é uma anedota. Sei de um caso em que uma empresa levou contra-ordenações por lhe faltarem certos registos (papel) e o elemento da IGA elaborou o seu relatório em frente a uma janela de onde se via uma suinicultura a descarregar dejectos para o ribeiro.
Faltou-lhe falar da Investigação Científica, onde já se prevê o regresso do pior Ministro da Ciência que Portugal teve desde o tempo da D. Maria II.
Nem aí, desgraçadamente, as coisas irão melhorar...
A culpa neste caso é dos cientistas porque gostam dele.
E gostam também do conforto pequenino e abrangente que ele transmite...
É claro que não foi um ataque gratuito, foi só uma mera tentativa de ser irónico e mordaz citando um ex-colega de Governo de Mariano Gago...
A minha crítica baseia-se em duas razões principais:
1) Deixou como herança (terrível) ao seu sucessor o congelamento dos fundos europeos. Quando o Governo seguinte se tentou aproveitar politicamente da situação que ele gerou (coisa que até me pareceu legítima...), houve aquela imensa gritaria que prejudicou irremediavelmente a conversa: com a ajuda dos amigos jornalistas dele, o que passou para a opinião pública foi só que no consulado dele havia muito dinheiro, e o novo Governo (por ser de direita) não apoiava a Ciência.
Sobraram algumas coisas de toda a gritaria, no entanto: houve um problema, foi um problema gravíssimo, e foi por responsabilidade dele...
Vir depois acusar os sucessores de não terem distribuído tanto dinheiro como ele, é mais do que hipocrisia... deve ser demagogia...
2) Não houve REALMENTE uma política científica! O dinheiro que ele tinha, e que era bastante, foi distribuido por TODA a gente, com a criacção de numerosas Unidades de Investigação e Laboratórios Associados que receberam, cada um (e cada uma), meia dúzia de 'cacahuètes' para se entreterem. Esta 'política' deixou os Cientistas muito contentes, sem dúvida, mas não representou ESCOLHA rigorosamente nenhuma...
Não houve apoio preferencial aos grupos de excelência (afinal são todos excelentes...), não houve investimento preferencial nos domínios científicos em que Portugal tem vantagens relativas (e há alguns, e merecem apoio preferencial), distribuiu muito dinheiro em áreas que, francamente, são de 'low priority' como por exemplo a Fundação Mário Soares (foi quase a primeira decisão dele...).
Em suma, não houve critérios suficientemente exigentes, não houve POLÍTICA, na distribuição dos apoios...
A melhor politica dele (certamente a mais bem sucedida, a julgar pela opinião, geral, que ele foi um excelente Ministro) foi em relação à imprensa (que aliás lhe tem retríbuido generosamente o apoio...).
(Há aquele jornalista que recebeu imenso dinheiro (você sabe quanto?) para 'ensinar os jornalistas a escrever sobre Ciência' (ou coisa que o valha...). Houve dois resultados: aquela patética página de Ciência que quase diariamente você lê, e os jeitos que o mesmo Jornal faz (agora que o novo Governo se aproxima, é quase dia-sim, dia-não) a este 'excelente' ex-Ministro...).
Nem vou falar da destruição da JNICT... eu acho que foi má ideia, mas há outras opiniões...
A D. Maria I deu cabo das reformas do Marquês de Pombal, não foi? Afinal não foi muito diferente: lixou todos por igual...
uma grande treta, uma fantochada e uma pipa de massa deitada fora. Nem em África fariam coisa mais idiota.
Concordo com a Zazie na critica à falta de avaliação dos resultados de todo aquele 'atirar dinheiro ao ar a ver quem o apanha...'. E até dou de barato que um programa com os objectivos do Ciência Viva (embora sem me pronunciar sobre este progama em concreto) é útil, quiçá necessário...
Digam-me lá, no entanto, por que cargas de água é que há-de ser o M Ciência a geri-lo? Não estará o M Educação melhor posicionado para gerir um programa de divulgação de Ciência junto da população escolar? Não se ganharia algo em sinergia com outros programas do M Educação dirigidos aos Liceus?
Que tal transferir as verbas e a estrutura de apoio para fora da alçada do M Ciência?
Já agora, zazie, diga lá o que pensa da actividades de Verão (Astronomia, Biologia e Geologia)...
Os montantes monetários gastos são escabrosos e aquilo de Ciência ligada à escola apenas tem o nome. E como esse existem muitos outros porque se tende a transformar Ciência em espectáculo. Muitas dessas actividades podiam ser feitas com recursos caseiros em ATLs que não se notava a diferença.
Nota: Não sou da área política deste ministro nem pretendo votar nessa área...
a questão não é essa. Eu também acredito que haja resultados engraçados. Agora o que não tem piada nenhuma é o uso dos fundos comunitários deste modo sem rei nem roque e aos milhares. Acham que tem sentido um professor de uma escola ganhar um desses projectos à custa de encher uma sala de aquários? E depois, a escola, a nível científico não tem mais nada! zero! nem laboratório, nem um único microscópio! mas tem Ciência Viva porque um dia o tal ministro que agora tanto se elogia foi lá de vizita. E depois cravaram a cena. E deu na televisão. E agora dizem que têm os maiores aquários do interior profundo... e mais nada ":O)))
Parece anedota mas é verdade. E à custa disso há professoras de línguas a serem dispensadas das aulas. E vão todos ao Pavilhão do Conhecimento. Mais os peixes. E a Espanha. E depois gastam balúrdios para levar aquela traquitana e na volta deitam os polvos para o caixote do lixo ":O))))
Já quanto à Astronomia também sei umas histórias muito engraçadas passadas na Universidade do Porto... onde o telescópio nem funcionava para as aulas mas também tinham por lá um desses programas que até o Máximo era capaz de fazer... e a Teresa Lago também gosta muito dese folclore. Dá na tv e faz curriculo...
Nihil obstat...!