anatomia de uma capitulação.
segunda-feira, janeiro 03, 2005
O facto pode parecer menor, mas não o é. O anúncio do ingresso de Pôncio Monteiro como número dois do PSD, nas listas do Porto, às próximas legislativas é motivo de preocupação e sinal evidente da crise de identidade e representatividade que atravessa a nossa democracia e o nosso sistema político-partidário. Pôncio Monteiro não faz partes das listas por aquilo que pensa, fá-lo por uma única e exclusiva razão - representa, alegadamente, o Futebol Clube do Porto e o seu Presidente. O capital político de Pôncio Monteiro não é a sua performance televisiva passada, onde deliciava os espectadores a defender o muitas vezes indefensável com uma criatividade mirabolante, mas tão somente o facto de ser intimo confidente do Sr. Pinto da Costa. A sua inclusão nas listas representa a assunção clara e inequivoca de uma capitulação! Uma capitulação de um Partido, que vai a votos, a uma força externa, neste caso um clube de futebol. E uma capitulação é uma capitulação. É também um retrocesso sério e lamentável, depois de milagrosa e atabalhoadamente, nas últimas autárquicas, Rui Rio ter ganho a Câmara Municipal do Porto contra a promiscuidade entre o mundo da política e do futebol, também contra Pinto da Costa e o seu protagonismo excessivo e exacerbado fora das fronteiras do futebol. De novo, regressando ao passado, e imitando o pior do PS e do PP, o PSD assume axiomaticamente, cedendo à chantagem dias depois de Pinto da Costa ter aberto as goelas, que não pode arriscar ir a votos sem a benção do papa das Antas. Não está em causa a grandeza desportiva do FCP mas seria imperativa e exigivel uma separação de águas. É óbvio, à exaustão, que a inclusão de Pôncio nas listas tem um preço, o aplacar da ira de Pinto da Costa e a moderação dos comentários deste em relação ao PSD, e esse preço é a meu ver inaceitável. Porque restringe e limita a liberdade do PSD em se pronunciar, também ele, sobre o mesmo Pinto da Costa. Quanto a Pinto da Costa ganha em toda a linha, mete no saco PS, PSD e PP, mostra quem manda, e por via deste empurrão ao seu amigo Pôncio cria as condições que inviabilizam definitivamente qualquer hipótese de redenção para Rui Rio. Rui Rio, o supremo defensor da autoridade do Estado (!), há dias considerava que a atribuição apressada de uma condecoração ao FCP por parte do Dr. Lopes era eleitoralista. Não se sabe o que dirá agora, cercado que está - a ideia alegadamente foi da Distrital, da qual o seu líder da bancada municipal é vice-presidente. Se ainda estivesse vivo demitia-se, ao menos de primeiro vice-presidente do PSD, como o fez com Marcelo. Infelizmente não está.
Publicado por Manuel 13:58:00
Aliás, os mediocres é que costumam ser mais exigentes com os outros do que consigo próprios ou com os seus.