Vasco Pulido Valente
"Disciplina e Autoridade "


Quando a direita se apanha num aperto ou, por qualquer razão, se acha prejudicada, o primeiro remédio que lhe ocorre é reforçar a autoridade. O mal está sempre na falta ou na fraqueza da autoridade. O bem está sempre na autoridade absoluta e de preferência pessoal. Basta ver como esse velho instinto veio agora à superfície. Paulo Portas foi à televisão e não parou de fazer o elogio da disciplina: da disciplina do seu partido, dos seus ministros, dos seus deputados. Não há de facto virtude como a disciplina. Sobretudo se é ele a mandar. Com preocupações mais mundanas, Luís Nobre Guedes quer um referendo constitucional. Para quê? Para fazer do Presidente um ornamento inerme e concentrar o poder na maioria (na maioria do PSD e do CDS, como se compreenderá). Mas para que essa maioria ande direitinha e não caia na asneira de se dividir, a comissão política do PSD proibiu opiniões (coisa perigosa) no seu grupo parlamentar. Daqui em diante só se permitirá uma opinião, a opinião do chefe, e quem discordar dela - olho da rua. Melhor ainda: a comissão política do PSD exige a cada deputado um impecável "comportamento" profissional, político e privado e um zelo sem limites pelo ente supremo do partido (calculo que se estabelecerá uma polícia, necessariamente secreta, para a devida vigilância). Isto, este exército de eunucos, que pareceria suficiente ao cidadão comum, não chega a Rui Rio. Rio lamenta que o poder político seja hoje "fraquíssimo", muito mais fraco do que durante a ditadura do saudoso prof. Salazar. Rio deseja do coração um poder político capaz de eliminar ou, pelo menos, submeter os poderes fácticos. Sem esse poder, avisa ele, o país não é "governável". Para se tornar "governável", precisa presumivelmente (embora Rui Rio não se alargue sobre o assunto) da milagrosa aparição de um Salazar democrático e talvez de um bocadinho de censura e pancada. O Salazar original costumava observar - e não se enganava inteiramente - que os portugueses, quando por inadvertência caem na democracia, começam logo à procura de maneiras de a subverter. A nova direita de Santana e Portas voltou, como era fatal, a essa nobre tradição. No fundo, voltou à sua verdadeira natureza.

in Público

Publicado por Manuel 16:34:00  

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