Altas Velocidades, Pontes...o Messias chegou

O país foi acordado com notícias que elevam, nos próximos anos, o nível do investimento público para níveis só igualáveis aos dos primórdios dos fundos comunitários.

Seriam certamente boas notícias se os investimentos anunciados tivessem associados uma unanimidade na sua execução capaz de gerar uma onda a favor da sua realização. Mas não, e se é no mínimo questionável a capacidade de um governo de gestão em se comprometer futuramente com compromissos desta ordem de grandeza, é igualmente verdade que António Mexia está literalmente a confundir os papeis, entre redactor do programa eleitoral do PSD e ministro das obras públicas do governo de gestão. E ao confundir estes papeis acaba por cair em erros, que mesmo para quem não tenha acesso a grandes números, consegue no mínimo questionar.

Nos últimos 3 dias, o governo de gestão da coligação, anunciou as seguintes obras de investimento público...

  • Projecto de Alta Velocidade Lisboa - Porto

    Contrariando tudo e todos os estudos até então efectuados, e mesmo quando o consórcio para a assessoria financeira do projecto está em banho-maria, António Mexia decidiu lançar uma obra nos seguintes moldes...


    Em primeiro lugar, e dando de oferta o timing do anúncio perfeitamente justificável pelo facto de este ser um projecto de índole nacional que foi tanto proposto pelo PS como PSD, existem algumas considerações que importa relevar...

    O custo da ligação Lisboa – Porto na totalidade através da modernização efectuada na Linha do Norte, ascenderá a 2.700 mil milhões de euros. Se contarmos que o tempo de viagem é de 2H20 neste cenário, e que a modernização se arrasta desde os tempos de João Cravinho no Ministério, pelo que grande parte do valor está efectivamente gasto, esta solução permitiria uma diferença de custos directos de 1.114 mil milhões de euros, para um tempo de viagem superior em 45 minutos.

    A diferença entre a escolha entre o uso da linha da Norte na sua totalidade e este projecto de António Mexia ascende a uns escandalosos 25 milhões de euros por minuto.

    Em segundo lugar, e não desprezível e António Mexia não o disse, de que forma será efectuada a entrada da Alta Velocidade no Porto? Através da linha convencional ou teremos uma nova ponte com um novo terminal ferroviário?

    Em terceiro lugar e porque o verdadeiro TGV em Portugal, deverá ser sempre a original ligação Lisboa –Madrid, e o traçado apresentado oferece algumas resistências por colocar a OTA fora da ligação directa, e fazia algum sentido coloca-la na rota por questões relacionadas com a ambição da construção de uma plataforma ibérica de aviação, caso a ideia da OTA vá mesmo em frente. Caso contrário uma OTA sem TGV não significa mais do que o assumir de compromissos imobiliários já estabelecidos para a Portela.

    Finalmente, uma ligação de alta velocidade com tantas paragens e dois intercambiadores de bitola, perde o efeito devido à desacelaração necessária. Numa distância tão curta, faria sentido uma paragem em Coimbra com conexão com a rede convencional do Norte.

  • Travessia Ferroviária sobre o Rio Tejo

    A apresentação da nova travessia ferroviária Chelas - Barreiro, foi apresentada como tendo à cabeça a justificação de que seria impossível passar o TGV pelo eixo ferroviário da 25 de Abril - Oriente . Ora não é crível que com a solução apresentada o comboio possa circular a 200 km/hora, tal como hoje, e por isso a utilização do eixo ferroviário da cintura de Lisboa, devidamente modernizado e relembro que os pendulares o utilizam nas ligações Algarve-Oriente, seria uma forma de pouparmos...250 milhões de euros. O custo da Obra.

  • Travessia Rodoviária sobre o Rio Tejo

    Ora Lisboa e o Tejo, e a experiência adquirida em túneis na cidade de Lisboa e junto ao rio, permite-nos encarar com optimismo a ideia de um túnel que ligue Trafaria a Algés. Depois de Carmona Rodrigues ter avançado com a ideia faraónica de um túnel entre cacilhas e Lisboa, chegou a vez de Mexia ter também o seu túnel. A ideia não é nova, mas carece de um parecer técnico para a sua apresentação. E quem conhece morfologicamente o solo do lado da trafaria sabe que a ideia não tem pés nem cabeça. Esta obra está orçada em 200 milhões de euros se a opção for ponte ou 400 milhões se a opção for túnel.

    Lisboa, precisa, e é um facto de uma nova travessia rodoviária, e a ligação Trafaria- Algés permitirá a conclusão da ligação pela CRIL, mas não seria mais exequível e rentável uma ligação rodoviária entre Chelas e Barreiro ? Ou a solução para os problemas do trânsito em Lisboa, está nos termos de contrato assinados com a Lusoponte que impede o Estado de promover de forma activa o uso de transporte público ?
Conclusões

Se por um lado o efeito na economia portuguesa deste nível de investimento será visível quer no emprego, quer no aumento do consumo privado, quer no sector da construção e cimentos, por outro lado e porque a União Europeia não comparticipa a totalidade dos investimentos, a forma como foram apresentados levanta séria dúvidas quanto a sua racionalidade económica. E um ministro não pode apresentar assim as coisas ao país.

O projecto TGV é algo que temos que aprender de uma vez por todas, tem que contemplar a ligação Lisboa- Madrid, e tudo o resto são estórias de embalar. O nosso país geográficamente é demasiado pequeno para o termos ligado por TGV puro.

Publicado por António Duarte 13:40:00  

2 Comments:

  1. Anónimo said...
    Olá

    Duas dúvidas: quando António escreve "2.700 mil milhões de euros", o "." é para separar um número que tem muitos algarismos, ou está no lugar de uma ","?

    a outra: Aparentemente a ponte ferroviária 25 de Abril tem poucos "slots" por hora para acrescentar mais carreiras, sejam de curto ou longo curso.

    O aproveitamento desses "slots" forçosamente implica que o TGV naquela parte do percurso anda +/- a velocidade dos transportes suburbanos (ou outros) que já passam na ponte, ie: +/-70kmh.

    Uma nova ponte que seja ferroviária poderia libertar capacidade ocupada na 25 de Abril, tanto para carreiras de curta distância como de longa. Agora gostava de perceber onde se pode fazer esssa ponte... No seguimento da CRIL, em Algés seria um caso sério. A cidade é cortada a meio no pela linha que vai de Oriente-Areeiro-Entrecampos-SeteRios, e para em Campolide antes de chegar ao troço da ponte. Hipoteticamente, desviar desse troço de Campolide-Pragal um comboio que se pretende rápido, mantendo a ligação a Sete Rios (onde há linha de Sintra, Azambuja, Autocarros expresso, Carris, ... parece-me implicar uma travessia de Monsanto, ou obrigar o comboio a não ser muito rápido, ou a fazer uma viragem de 90º algures em Belém para entrar numa ponte que espero seja perpendicular ao rio, em vez de fazer uma espectacular diagonal ligando Alcantara-Terra à praia da Cova do Vapor :)

    Por estas razões, se houvesse dinheiro para fazer isto tudo, creio que a travessia do Tejo seria algures entre a Gare do Oriente e o Areeiro, ligando à estação do Barreiro (que tem ligação à linha do Sul creio que em Pinhal Novo). Num mundo perfeito, esta ponte seria apenas ferroviária, para que a multidão que aparece no Terreiro do Paço vinda do Barreiro continue a usar transportes publicos para chegar ao lado Norte.
    António Duarte said...
    Caro Anónimo

    a ) Quando coloco o ponto nos 2.700 mil milhoes de euros, deveria de facto estar um vírgula.

    b) A ligação ferroviaria de alta velocidade para Madrid a tal que pretende usar a ponte ferroviaria, não terá mais do que 3/4 viagens dia, pelo que existem "slots" para usar, com a vantagem de o eixo Oriente-Campolide-Pinhal Novo estar contruido e ai começar a linha de alta velocidade para Madrid.

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