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O "ZÉ MARIA" Ontem, no carro, a caminho da Convenção das Novas Fronteiras, ouvia o final de uma entrevista com Almeida Santos. Perguntado acerca do que é que andava a ler, Almeida Santos falou em ensaios, "muitos". Disse que já não tinha tempo para ler "romances" e do que mais precisava era de "ideias". Isto vindo de uma respeitável figura na orla dos oitenta, teve graça. Mais tarde, na dita Convenção, também Eduardo Lourenço, aos 81 anos, explicou lenta e serenamente a "vantagem" do pensamento. Isto faz toda a diferença. Sem nenhuma espécie de arrogância "intelectual", que eu abomino, gostava de perguntar a Santana Lopes, que alarvemente gozou com as "velhas fronteiras", o que é que ele tem para nos oferecer em troca. Os fadistas do PPM? Os sempre estimulantes António Calvário, Artur Garcia ou Maria José Valério? Já percebemos que Lopes não vai resistir à sarjeta nesta campanha eleitoral. E para lá todos quer arrastar: Sócrates, Marques Mendes, Cavaco, Sampaio, até Portas já esteve mais longe disso, parte da sua comissão política, etc. No Expresso, um responsável brasileiro pela sua campanha explicava as vantagens deste registo insuportável do "mal amado". Segundo ele, "foi assim que Zé Maria ganhou o Big Brother", tipo "o patinho feio", coisa muita apreciada, de acordo com o mesmo visionário, pelo eleitorado feminino. Sabe-se como começou e acabou a aventura mediática do "Zé Maria". O show de Santana Lopes é mais perigoso porque é encenado sobre o país. O eng. º Sócrates, como lembrou o Bloguítica, colocou a questão fundamental de forma enxuta: continuidade ou mudança? Eu também pergunto: entre a realidade e o "Zé Maria", o que é que escolhem?

O "CHEQUE EM BRANCO" Marcelo apareceu numa acção de campanha do PSD na província. Apareceu para "apoiar" o extravagante dr. Menezes e para dizer mal de Sócrates. Terá tido o cuidado de nunca apelar directamente ao voto no seu partido já que isso, hoje, quer dizer Santana. Terminou a coisa perguntando aos comensais e, por interpostas televisões, ao país, se este estaria disposto a passar um "cheque em branco" ao eng. º Sócrates. Como Marcelo estava onde estava e estava com quem estava, eu devolvo-lhe a pergunta: com aparições deste género, está afinal o meu caro professor disposto a passar um "cheque em branco" ao dr. Santana Lopes e aos seus bonzos?

O VELHO "TEMPO NOVO" Santana Lopes apresentou o programa eleitoral do "seu" PSD. Falou do futuro como se não fosse responsável por este obscuro presente. Dirigiu-se-nos como um desbravador de "terras prometidas" quando nem sequer conseguiu dar conta de um recado a termo certo. Falou de "contratos" e de "garantias" quando é o último dos últimos em quem podemos tranquilamente confiar. Puseram-lhe à frente um papel onde vinha escrita uma nova ventura, "o choque de gestão". Quem não soube gerir e dar confiança, pode agora clamar semelhante coisa para uma nova legislatura? A inquietação incrédula, estampada nos rostos dos devotos que assistiam ao exercício, fala por si. Lopes insiste na tecla do "tempo novo" quando, na realidade, nestas eleições ele personifica o falhanço absoluto dessa miragem sem grande sentido. É, pois, preciso perguntar claramente aos portugueses: querem mais deste velho "tempo novo" que o dr. Santana Lopes vem semeando desde Julho último?

QUEM DIRIA!
Desprovido de "ideias" para a campanha, suspeito que Santana Lopes esteja a ser aconselhado pelos seus amigos brasileiros no sentido de explorar à exaustão o "fait-divers". No governo, seguramente a mesma "via tropical" aconselha a que se anuncie diariamente um pedaço de céu. Percebe-se que o objectivo - associado com demagogia ao tropismo do "país que não pode parar" - é deixar o território minado para quem vier a seguir. Alinhar no "fait-divers" é alimentar este circo. E aí ganha Lopes. Chega a ser confrangedor ouvir um primeiro-ministro neste registo, mas, enfim, trata-se "deste" primeiro-ministro. Lopes ainda não percebeu que o país não liga minimamente ao seu estudado exercício do "coitadinho" aplicado. Quem percebeu tudo isto rapidamente, e se pôs discretamente "ao largo", foi Paulo Portas. Fez uma coisa que merece elogio. Apresentou um "elenco governativo" com alguns créditos. É um bom princípio pôr rostos aos programas. A maior parte das vezes nunca se chega a entender muito bem as razões de certas escolhas, encerradas as eleições e composto um governo. O mais natural é que nenhuma daquelas catorze almas chegue ao executivo depois de Fevereiro. Porém, entre isto e os "jogos florais" em que todos acabam sempre a perder qualquer coisa, eu prefiro este modesto empenho cívico de um pequeno partido. Quem diria!

in Portugal dos Pequeninos

Publicado por Manuel 18:30:00  

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