Inveja ou ignorância?




Ao ler a edição de hoje do Expresso online, deparei com uma daquelas consultas a que chamam "barómetro" e em que os cibernautas votam.

Pergunta-se desta vez "qual dos políticos faz mais marketing?". Poderia aqui debater-me sobre o significado da palavra marketing e sobre a formulação da pergunta, mas passo adiante.

O facto, é que o resultado, quando eu vi, dava uma vantagem de praticamente maioria absoluta ao líder do PSD, Santana Lopes, seguido de Francisco Louçã.

Já a famosa "Central de Informação" tinha provocado na opinião pública uma indignação generalizada, por pretender o Governo criar de forma oficial e estruturada um departamento governamental onde o fluxo de informação gerado pelo Estado pudesse receber um tratamento profissional e sistemático. Anteriormente, assisti à patetice da crítica velada ao facto de José Sócrates ter utilizado durante o Congresso do Partido Socialista um "teleponto", de forma a optimizar a sua capacidade de discurso.

Durante a minha vida profissional, assisti a uma disputa pela provedoria de uma delegação da Santa Casa da Misericórdia, em que o principal argumento do adversário na corrida eleitoral era o seu opositor ter, enquanto provedor, contratado uma agência de comunicação que ajudasse a Santa Casa a comunicar.

E nem sequer vou falar de lobbys e da promoção dos mesmos. Essa palavra "maldita" possui uma conotação altamente negativa em Portugal (só em Portugal), sendo vista quase como um criminoso quem alguma vez resolveu dedicar-se a criar algum.

Na verdade, o marketing, o lobbying, a assessoria mediática, o tratamento de imagem, a criação de estratégias de comunicação ou a utilização de recursos tecnológicos ou outros no sentido de melhor comunicar e fazer passar mensagens ou imagens, são actividades com a mesma nobreza que qualquer outra em qualquer país ocidental e evoluído.

Na verdade, a prestação de qualquer desses serviços é um acto de enorme dignidade quando praticado com rigor, profissionalismo e ética. Na verdade, só a falta de cultura democrática, o retrocesso social, tacanhez de espírito e a hipocrisia podem considerar que ler um "teleponto" ou desenvolver uma campanha de marketing político pode ser reprovável, condenável, pouco claro ou pernicioso.

Na verdade, numa sociedade de grande pressão na informação, de enormes e constantes ruídos e onde as estratégias de desinformação contribuem para despistar do trigo os que só cultivam joio, comunicar de forma eficaz, com verdade e, porque não, com o recurso aos melhores assessores e às mais modernas tecnologias, é sinal de inteligência e deveria merecer a consideração e aplauso do público e dos políticos.

Só que, o que me parece estar implícito naquela pergunta do Expresso, e mais ainda nas respostas, é que se utilizou a nobre palavra marketing como eufemismo de demagogia. Isto é, não tendo "coragem" para tratar os "bois pelos nomes", utiliza-se o instrumento profissional e a dignidade moral de uma classe, insultando-a.

"Fazer marketing" não é nem crime nem condenável, pelo menos não o é nas sociedades evoluídas e culturalmente esclarecidas. Mas se me espanta que a "opinião pública" que visita o site do "Expresso", supostamente das "classes A e B" e, em boa medida também, da franja intelectualóide nacional, manifeste ignorância, já me questiono mais sobre como é possível, a classe jornalística e os profissionais da comunicação em geral, supostamente mais conhecedores e informados sobre estas matérias, criticarem um líder partidário por usar um "teleponto" ou deixarem no ar esta "acusação" de que "tem assessores" ou "faz marketing" como se de um crime de "lesa Nação" se tratasse?

Não crendo acreditar que escapa aos directores de jornais e aos jornalistas a utilização de dicionários no seu dia-a-dia de trabalho ou que, "as amplas liberdades" que por vezes reivindicam estão resumidas a dogmas mais ou menos soviéticos nas redacções, e tendo em conta a aptência [sic] que os jornalistas têm para, na primeira oportunidade, saltarem para um desses "condenáveis" e bem remunerados lugares, então, só pode ser inveja.

in Nónio

Publicado por Rui MCB 11:34:00  

7 Comments:

  1. Anónimo said...
    O Online Expresso está cada vez mais caduco.
    Por isso também criei o meu blog, onde me divirto.

    www.haquemtenhaospesmaiores.blogspot.com
    Anónimo said...
    Os tiros nos pés passaram a desporto nacional. No seu último parágrafo ...

    Não crendo acreditar - ó com o caraças !
    Rui MCB said...
    Lá está a nossa apetência para arrasar o essencial com o acessório. Junte-se um sic ao final do texto que não me atrevo a corrigir o autor.
    zazie said...
    Fiiiiiuuuuu! Fora! E saltem os ovos! Isso faz-se? sic? Então não sabe colocar um link para o texto em vez de fazer essas macacadas? Hããã? Vergonha! Vergonha! Como diz o doninha “:O))))
    Anónimo said...
    Não "crendo" acreditar?
    Eu nem quero acreditar...
    zazie said...
    como não se atreve a corrigir-lhe o erro, aponta-o! é preciso ter lata ":O)))))
    Rui MCB said...
    Olá. Zazie.
    Realmente há com cada um que isto só visto...

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