voodoo ?!...
segunda-feira, novembro 22, 2004
O cartoon inserto na última edição do Expresso mostrava um Paulo Portas transfigurado num boneco de voodoo, e coberto de alfinetes, e ontem mesmo o habitualmente sóbrio António Barreto assinava uma prosa no Público, que reproduzimos, onde realçava o hipotético jeito de Santana, que apelidava de provocador, para a coisa, não coisa pública, mas para o circo. Acontece, porém, que quem continua a baralhar, e verdadeiramente a dar cartas, na vida política portuguesa, é o eixo Nobre Guedes/Paulo Portas. Discretamente, por telecomando, por acção ou por omissão, esses dois personagens controlam cirurgicamente toda a vida política da coligação. Se retirarmos Cavaco, que se encontra num patamar ao qual nem esses dois chegam, nada se passa à direita do PS que não tenha o dedo das cabeças pensantes do PP. Não é só apenas o extenso conhecimento, i.e. dos podres, oriundo dos tempos do Independente que Portas e C.a tem do PSD; é, acima de tudo, uma questão de método e organização. Goste-se ou não deles (e eu não gosto), ao contrário dos outros, Portas e Nobre Guedes trabalham, sabem o que querem, e como o conseguir. Portas, nomeadamente, está há mais de 15 anos à tona da vida política portuguesa, apesar, ou por causa, de todas as atribulações como a da Moderna. Já negociou com o PS, está na cama com o PSD, mas nunca deixou de tratar da sua própria vidinha. Fria, calculista, pragmática, esta direcção do PP não brinca em serviço: uma olhadela rápida às estatísticas e vê-se que por cada 3 boys colocados por este Governo pelo menos um é do PP, de um PP sem facções, organizado e leal ao chefe... Os outros dois são dos diferentes PSDs ... Diz-se que o PSD odeia o PP e é verdade, mas só em parte; há no PSD quem não se reveja neste PP, mas sejamos francos, na hora da verdade o que conta é chegar ao poder e, se para isso se tiver de gramar o PP, o PSD mainstream grama e ponto final. Ao contrário do que se diz por aí, o grande vencedor do Congresso do PSD foi Paulo Portas. Foi Paulo Portas quem condicionou todo o discurso do Congresso, de Pedro Santana Lopes a Marques Mendes. A presente raiva do PSD profundo ao PP mais não é que o resultado esperado, previsível, de meses de provocações certeiras, voluntárias e cirúrgicas do PP ao PSD. Como o episódio Nobre Guedes/Álvaro Barreto/Galp Matosinhos demonstrou à saciedade, o PP sabe como humilhar o PSD, e como mostrar quem manda, e quem manda de facto são eles. E eles já conseguiram o que queriam - infiltraram-se a uma taxa tal no aparelho de Estado que têm a subsistência garantida por muitos e bons anos, e quanto mais se infiltraram e com mais espalhafato, mais anti-corpos levantam no PSD, onde manifestamente não há lugar para todos... Pondo de parte a questão moral, são politicamente muito mais bem preparados que a malta do PSD (que, salvo uma ou outra excepção, manda refugo para o poder), sabem comunicar e nunca ficam por baixo. Têm a vantagem de não terem princípios ou valores, o que lhes permite defenderem tudo e o seu contrário, não tem medo de antecipadas porque estas, a correrem separados, os prejudicam sempre menos que ao PSD (podem regressar aos discursos de nicho, os velhinhos, os ex-combatentes, etc, ao contrário do PSD, que terá de fazer imperativamente um discurso generalista) e sobretudo têm a faca e o queijo na mão. Santana avançou hipócrita e imbecilmente com Cavaco no Congresso não porque quisesse, mas porque foi obrigado. Obrigado, porque temia que outros o fizessem (Marques Mendes ?) e sobretudo porque temia que o impasse desse gás a que no PP se avançasse com a candidatura presidencial de Bagão Félix, sim, esse mesmo... Santana julga que ganhou, apesar de tudo, alguma coisa, que ao acenar a Cavaco barra caminho a todas as outras candidaturas e que se Cavaco não avançar apenas uma pessoa - ele próprio - terá lastro, e tempo, para - supremo sacríficio - se candidatar... Julga mal, como julgou mal, do seu próprio ponto de vista, ao não se colar inequivocamente ao PP na questão da coligação demarcando calma e deliciosamente o PP do PSD logo do grosso das políticas do Governo. De resto, tudo corre bem ao PP, até o veto de Sampaio (hipócrita e cobardemente por alegadas razões financeiras!!) à Central de Comunicação é uma boa notícia para Portas e Nobre Guedes. Afinal, muito mais que Morais Sarmento, é o Dr. Lopes o grande prejudicado, já que continua a não ter nada que cubra a eficaz e sincronizada máquina do PP, máquina que se serve do Governo mas que não trabalha para o chefe do Governo... É a vida.
Noutras frentes...
- De que está a oposição à espera para que se investiguem como deve ser as obras do túnel do Marquês, e nomeadamente, a intercepção destas com um certo empreendimento imobiliário da família Pereira Coutinho, conforme aflorado no último Independente ?
- Não há por aí quem explique ao Dr. Lopes, ao Dr. Sócrates e a muito boa gente que a PT já é uma empresa privada,logo não "privatiza" nada, e que até, de um ponto de vista empresarial, pode fazer todo o sentido ter uma forte componente de media ? Faz com toda a certeza muito mais que ter ao mesmo tempo a rede fixa e o cabo... Não há por aí quem explique que o concubinato vem não tanto da golden share mas muito mais de todos os grandes grupos, incluindo a banca privada, precisarem de quando em vez, e de que maneira, da mãozinha piedosa da Caixa Geral de Depósitos, nos tempos que correm a verdadeira cabeça da hidra? Não há por aí quem explique que sem o paternalismo do Estado via CGD o mercado, que não o BES por exemplo, não funcionaria muito melhor?
- Acho muito bem que em Portugal haja a saudável tradição de não se ligar à vida privada das pessoas mas, qual é a fronteira? Se fulano ou cicrano são promovidos/absolvidos/nomeados por serem, única e exclusivamente, da Obra, da Maçonaria ou gays, isso não é motivo de escrutínio público? Se alguém é promovida, e passa à frente de alminhas mais bem classificadas, e o único factor que se conhece é que manterá um envolvimento de cariz sexual com um ministro isso não é notícia ? Só a pensar em voz alta...
- Parabéns ao Causa Nossa neste seu primeiro aniversário.
Publicado por Manuel 20:09:00
Quanto às cabalas (Lojas, a Obra ou o Gay Power) há que ter cuidado .'.
Sendo o português uma língua viva, em constante mutação, é bué de provável que "concerteza" já exista... ou reformulem-se os dicionários para este belo termo poder entrar!