Uma vergonhosa greve.

A greve é um direito que assiste a qualquer trabalhador. Este é seguramente um princípio universal e consignado até na própria constituição portuguesa.

Os trabalhadores da CGD estão contra a transferência do Fundo de Pensões da CGD, cerca de 2,5 mil milhões de Euros para a Caixa Geral de Aposentações com o objectivo da redução do défice público.

Não me vou hoje pronunciar sobre a medida, porque sempre defendi por aqui algo bem diferente do que aquilo que na economia portuguesa tem vindo a acontecer nos últimos dois anos, e que assume a forma de receitas extraordinárias. É hoje legítimo afirmar que Portugal desde que a coligação assumiu as rédeas da governação nunca conseguiu ficar com um défice orçamental abaixo dos 3,00 % do PIB. É por isso hoje legítimo afirmar que as finanças públicas portuguesas estão a milhas daquilo que podemos chamar de consolidação orçamental. Mas isso hoje não interessa.

Mas, o problema é que hoje os 14 mil funcionários da CGD, decidiram fazer greve encerrando balcões desde Valença até Vila Real de Santo António.

Em primeiro lugar, hoje é apenas o último dia do mês, um dia onde porventura largas centenas de milhares de clientes, daquele que é o maior banco português recorrem aos balcões para receberem ordenados, efectuarem pagamentos à segurança social ou até mesmo as empresas resolverem problemas que deixam para o final do mês.

Em segundo lugar, e em nada desprezível, segunda-feira é feriado. Ou seja, entre fim-de-semana, o feriado de 1 de Novembro e a greve marcada para hoje, estamos na presença de umas mini-férias de 4 dias, convocadas pelo Sindicato dos Trabalhadores de Empresas do Grupo CGD com a conivência do Sindicato Bancário Sul e Ilhas.

Em terceiro lugar, a transferência do fundo de pensões para a Caixa Geral de Aposentações, continua a garantir todas, e repito todas as regalias aos seus beneficiários e o risco de falência do fundo é igual estando ele desagregado ou consignado à CGA.

Mas mais grave que tudo isto é o facto da CGD ser um banco onde o único accionista é o Estado. O mesmo Estado entendeu não ser necessário recorrer a serviços mínimos que deveriam ter sido imediatamente requisitados. O mesmo Estado, através da Administração que ele próprio nomeia, permitiu assim que a maior sala de mercados do país – a da CGD entenda-se – esteja hoje fechada, e por exemplo que posições abertas ontem no mercado monetário não possam hoje ser fechadas em caso de mais-valia significativa ou de recuperação de perdas anteriores.

O mesmo Estado não percebeu no grave erro que permitiu que a Administração da CGD incorreu, senão vejamos...

  • Um cliente da CGD que possua hoje 50.000 euros aplicados numa conta de poupança e que tenha negociado hoje com outro banco uma aplicação desses mesmos 50.000 euros a uma taxa de 4,5 % líquidos ao ano, ficou hoje impossibilitado de transferir os fundos da conta de poupança para a conta à ordem e dai sacar um cheque a depositar na instituição de crédito concorrente.
  • Um cliente da CGD que hoje tenha uma escritura, ficou impossibilitado de a efectuar porque a emissão de cheques bancários e/ou visados obriga a assinatura de funcionários do balcão.
  • Os funcionários que recebem de empresas que pagam através de cheque da CGD ficaram impossibilitados de efectuar a sua vida normal até 3ª feira, ficando certamente muitos deles sem dinheiro até essa data.
  • O euro vale hoje às 14:00 , 1,2748 dólares . Fechou ontem nos 1,2753. Desconhecendo as posições cambiais em aberto, não é difícil perceber que o prejuízo não será pequeno.
  • As Caixas Multibanco não serão hoje carregadas para uma operação de 3 dias, ficando por isso muitas delas indisponíveis ainda hoje.

Estará a Administração da CGD consciente do volume de prejuízo que esta greve trará, se todos os prejudicados começarem a escrever cartas para o Banco de Portugal, expondo a situação onde se sintam lesados.

Obviamente que aos secretários gerais dos sindicatos isso pouco ou nada importa, o que importa é protagonismo que se consegue com estas greves sejam elas justas ou injustas.

Obviamente que o Governo enquanto órgão decisor e político tem que entender que a Administração da CGD foi incompetente. Obviamente que deviam existir consequências empresariais da mesma. Obviamente que os sindicatos por estarem quase sempre com umas talas na vista semelhantes a dos jumentos, não percebem que o prejuízo elevado da greve será pago pelos trabalhadores por eles incentivados à greve, na redução de prémios e limitações na promoções.

E se assim for é bem feita.


Nota - Segundo os sindicatos a greve teve uma adesão de 95%.

Publicado por António Duarte 14:59:00  

6 Comments:

  1. Anónimo said...
    Ó Senhor,
    Uma greve é precisamente para causar prejuízos. Se não os houvesse, para quê fazê-la? Quais seria as vantagens?
    O seu post é um incentivo para quem a faz!
    Saudações.
    Anónimo said...
    Caro Sr.,

    Noto, após a leitura do seu 'post', que não terá de facto noção do que é uma greve, de qual o seu propósito e/ou metodologias...
    Reparo que, mesmo apesar de reconhecer o direito à greve a cada trabalhador, direito que constitucionalmente lhe é atribuído, cai na tentação de, imediatamente, criticar o uso de tal direito a partir do momento em que o mesmo interfira no decorrer normal da sua vida. Pois caro Sr., é nisso mesmo que consiste uma greve...

    Constato pelos seus escritos e pelas razões que aponta que esta greve terá tido o sucesso que os sindicatos dela esperavam. Espero, por isso, que as consequências sejam positivas para os trablhadores que decidiram recorrer à greve como forma de luta, obviamente com a perfeita consciência de que lhes iria ser retirado um dia de ordenado e, também, de que com a sua atitude iriam prejudicar uma grande parcela da população.
    António Duarte said...
    Caros Anónimos.

    Não é o direito à greve que está em causa. Esse é legítimo mesmo que ilegítimas as razões.

    O que aqui está em causa são duas coisas :

    a ) O dia escolhido para a greve.
    b ) A inércia da administração da CGD em não convocar serviços mínimos para o dia de hoje.
    c ) A inércia do governo em assistir a tudo calado.

    Uma greve é feita para causar incomodos de forma a pressionar as administrações visadas. Mas não perceber os prejuízos que certas greves causam e depois vir pedir aumentos salariais na casa dos 5,00 % é ser advogado do diabo em casa alheia.
    Anónimo said...
    PURA DEMAGOGIAO primeiro prejuízo é de quem faz greve, que fica sem uma fracção da sua remuneração.

    Segundo, o que faz o António em hora de expediente? escreve num blogue...

    Duvidador

    PS - sou estudante e trabalhador
    Anónimo said...
    Diz que o risco de falência é igual quer no fundo da CGD quer na Caixa das Aposentações. Pode ser que sim... até podemos dizer que o risco de qualquer empresa falir é igual. Podemos dizer que sim mas não passa a ser verdade por o dizermos. Enquanto que o fundo da CGD tem mais de 600 milhões em aplicações a Caixa das Aposentações está quase no chapa ganha - chapa gasta. Acha mesmo que um fundo que tem 600 milhões de euros em aplicações está em colapso como a Caixa das Aposentações? Podem-me faltar dados. Falo daquilo que tenho lido nas últimas semanas.
    Se a greve causa prejuízo? Causa sim e ainda bem, para que este Governo veja que alguém está atento aos seus truques contabilisticos e operações ruinosas.
    Unknown said...
    por estas e por outras é que mais valia o estado vender a cgd aos privados:
    - vantagem 1 - acabam-se estas maningâncias
    - vantagem 2 - com muitas greves destas, mais tarde ou mais cedo os seus cabecilhas eram postos na rua numa das muitas restruturações

    seja como fôr, a cgd é só mais um banco e portanto se as pessoas se consideram lesadas têm a hipótese de tirar de lá as suas economias ou reduzir substancialmente as operações que fazem com esta instituição para não serem mais prejudicadas ...

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