"neverland"

João Morgado Fernandes tirou algum do seu tempo para um conjunto de réplicas tão enternecedoras quão esclarecedoras aos meus posts "Rosa ..." / "... e laranja". Para começar o João valoriza excessivamente a alegada discussão ideológica que terá ocorrido no processo eleitoral ora finalizado no seio do PS e que mais não é/foi do que uma questiúncula semântico-metafísica. Se exceptuarmos os delírios (não há outro nome...) colectivistas e nacionalizadores de João Soares a que se resume a dicotomia entre a ala esquerda e a ala pragmática do PS ? Apenas e só a questões colaterais (por muito que rendam num dado momento) como o aborto, o Iraque e pouco mais. Mesmo Ferro que é suposto ser um porta-estandarte da ala esquerda apresentou Sousa Franco às Europeias, Carrilho, esse perigoso esquerdista apoiou Alegre... Mais, o PC como de esquerda o validounovo PS de Sócrates ao não excluir convergências futuras, antes aceitar ponderá-las... Por isso, e se excluirmos questões de linguagem, onde aí sim há diferenças, as querelas ideológicas no seio do PS são meramente virtuais. Em suma não houve pois nenhum debate decisivo. Todas as matérias onde hav(er)ia duas soluções eram por definição secundárias. Até na questão presidencial o apoio a Guterres acaba unânime (Ferro dixit). Não foram apresentados dois modelos divergentes de governação concreta do País, etc, etc, etc... e todos nós nos recordamos das figuras (tristes) que Alegre fez nos Congressos da era Guterres que acabou sempre a apoiar. Saltando para as propostas concretas que concede "ainda não saltaram" o João confessa que é...


daqueles que consideram os famosos Estados Gerais do eng.º Guterres uma das coisas mais interessantes dos últimos anos na política portuguesa. Pela abertura à sociedade e pela possibilidade de circulação de ideias e propostas. Não terá sido por acaso que o PSD e (é verdade!!!) até o PCP tentaram imitar a ideia. Daí que me parece excelente que Sócrates siga o mesmo caminho. Pelos calendários normais, estamos a dois anos de eleições legislativas (a um ano, pelo calendário das antecipadas...), pelo que acho normal que Guterres - perdão, Sócrates - queira gerir esse calendário. E que as propostas venham a seu tempo.

E aqui é que colidimos frontalmente. Eu também acho em tese os Estados Gerais, as Convenções e eventos congéneres muito interessantes de um ponto de vista platónico mas, caiamos na real. Uma coisa é a participação da sociedade civil na vida pública, e por conseguinte política, outra bem diferente é o outsourcing que uma força política faça na "sociedade civil", permutada numas quantas dezenas de notáveis e independentes, boys em potência, para que esta apresente, qual teleponto, as soluções que esse Partido deva defender. Um partido deve, e pode, validar a bondade das suas propostas e ideias junto da sociedade civil, mas nunca deve delegar nesta, à bolina, a indicação de quais deverão ser as suas propostas du jour, isso é formalmente o mesmo que governar, ou fazer política, por sondagens ou feelings de assessores de comunicação... Resumindo o João Morgado Fernandes concede que de momento Sócrates não terá propostas concretas e substanciais. Q.E.D. Mas o João não se coibe ainda de afirmar com a maior candura deste mundo que ...

Pretendia-se, ainda, um nome para as Finanças. Essa é hilariante.
Lembram-se dos nomes que Durão queria para as Finanças? Presumo, mesmo, que muitos tenham votado nele a pensar num ministro das Finanças específico (e, já agora, no choque fiscal...). Acabou por ter que se amanhar com que havia. E que veio a sair melhor que a encomenda...

E ele que me perdoe mas hilariante é a argumentação dele. Depois de um destes dias Alegre ter considerado Sócrates mais à direita que Cavaco (coisa que o Professor, que foi visto pela última vez no concerto da Madonna encarecidamente agradece) eis que o João vem dizer, preto no branco, que Sócrates não é melhor que Barroso. Não espera, pelos vistos, que Sócrates seja capaz de apresentar (nomeadamente na área crucial que é a económico-financeira) uma equipa, e uma estratégia, sólida, coesa e corente. Em suma, parece que a melhor estratégia de Sócrates é, seguindo o raciocínio, peregrino, do João, nunca apresentar nomes e políticas concretas antes de ser eleito Primeiro-Ministro, porque podendo ser um fraco, como Durão, pode não conseguir uma vez eleito construir o Governo com os nomes, e as políticas, (não) anunciados em campanha... Como duvido que o João pense mesmo isto aguardo esclarecimentos...

Para rematar o autor do Terras do Nunca resolveu dedicar algum do seu grego à minha prosa sobre a manchete do Expresso do fim de semana transacto. Se por um lado não deixa de ser poético vê-lo corroborar teses do inefável Luis Delgado por outro lado a sua análise peca por ser rebuscada de mais. Inferir que a guerrilha, que vem desde os dias que precederam a formação deste Governo, entre o PP e o PSD existe com vista a essencialmente obscurecer mediaticamente o PS é um acto de manifesta coragem. Como é um acto de absoluta cegueira ignorar o que se tem passado nomeadamente nos últimos dias no seio da coligação, a não ser que o João, num acto de piedade cristã, esteja a fazer a vontade ao Primeiro-Ministro e a dar a este Governo o (i)merecido estado de graça que o Dr. Lopes esta semana pediu. Mas de novo, sobre o laranjal depois de dia 15 falamos.

Ainda a propósito do PS imperdível a prosa de Eduardo Dâmaso hoje no Público. Porém, Dâmaso tendo razão em tudo o que escreve deveria meditar melhor nas profecias, afinal o seu amigo, e Director, em tempos também assinou em tempos uma prosa entitulada "O Homem que nunca será primeiro-ministro" sobre um tal de José Barroso...

Publicado por Manuel 17:56:00  

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