mais uma perplexidade como outra qualquer...
(actualizado às 22h)
quarta-feira, setembro 08, 2004
Já ninguém se lembra, não convém lembrar, não é para lembrar mas os contornos que rodearam a (re)"venda" de 40,79% da GALP pelo Estado Português ao consórcio Petrocer continuam a ser suficientemente nebulosos para, e com as maiores das benevolências, poderem calmamente ser considerados como uma das grandes "perplexidades" dos últimos anos.
Foi tudo tão prevísivel, tão teatral que até doi, tudo desde o favoritismo inicial da Luso-Oil à bitória da Petrocer (anunciada nesta Venerável Loja na véspera) até ao pitoresco da negociação do contrato final com Estado Português... Pitoresco pela fee cobrada pela PLMJ de Júdice para assessorar (!) juridicamente o Governo no processo de venda, Governo esse onde o gestor "político" do processo de venda era, a fazer fé na Comunicação Social, Nuno Morais Sarmento - a titulo de curiosidade sócio da PLMJ - fee essa de apenas 595 contos por hora como à época notíciou o Público. Pitoresco porque as negociações finais foram no mínimo sui-generis com, pasme-se, Álvaro Barreto a ameaçar demitir-se do Governo caso a coisa (com a Petrocer) não fosse avante. Pitoresco porque a eminence grise da antiga PetroControl, e alicerce da Luso-Oil - Diogo Freitas do Amaral - "inesperadamente" entra na GALPenergia presume-se que pela mão de Ferreira do Amaral que tendo apoiado a Luso-Oil concerteza a alinhavara já com o agreement da Petrocer. Pitoresco porque no contrato final de venda figurava explicitamente como condição para a realização do mesmo que a Petrocer continuasse, e desse a sua concordância, a estratégia de aquisição da rede da Shell em Espanha, mais, foram dados à Petrocer 20 dias para esta desistir do negócio de compra de 40,79% do capital da Galp, caso esta entendesse entenda que a aquisição da rede da Shell em Espanha iria prejudicar a operação de compra que estava a efectuar.
Hoje, 8 de Setembro, sabe-se que foi o grupo das Canárias DISA que comprou a rede da Shell em Espanha.
Dos dados disponíveis há desde já vários inequívocos a considerar.
- O preço da venda apontado pelo mercado terá rondado os 400 milhões de euros.
- O intervalo de preço a oferecer pela GALP à Shell e motivo das "reticências" da Petrocer variava entre 350 e 410 milhões de Euros (sendo que desceu de um máximo 500 milhões devido ao facto da CEPSA se ter retirado da corrida). Estes montantes eram pois do conhecimento da Petrocer aquando da assinatura do contrato de venda.
- O que a Shell acabou por vender à DISA nem sequer foram todas as suas actividades em Espanha (Shell conservará sus actividades de gas licuado del petróleo (GLP), de lubricantes, de aviación y navales).
- A DISA não era considerada como estando na corrida à compra da rede da Shell em Espanha de tal forma de que por mais de uma vez a imprensa dos dois lados da Fronteira se referiu à GALP como estando só na corrida, facto que nunca foi desmentido.
Pese o comunicado patético exarado ao fim da tarde pela GALPenergia onde esta afirma que a sua proposta «terá sido suplantada por condições económicas mais vantajosas oferecidas por outro concorrente», do qual se salienta o "terá", no mínimo espantoso já que indicia claramente que a GALP se desinteressou da operação pois, e não tendo fugido os valores ao estimado é impossível e irracional crer que a Shell não tenha questionado a GALP sobre se esta cobria ou não a parada da DISA excepto se a GALP formalmente tiver desistido do negócio, única forma aparente de explicar a ign0rância da GALP e o tal "terá"...
Em suma tudo aponta para que a Petrocer tenha violado clara e objectiva e taxativamente os seus compromissos com o Estado Português, sendo que a não prossecução do negócio em Espanha diminiu substantivamente o seu esforço financeiro decorrente da compra da GALP, facto tanto mais grave quando já aqui se demonstrou que os 40,79% GALP foram para todos os efeitos vendidos por uma pechincha e muito abaixo do valor real realizável por exemplo através de uma venda em campo aberto a todo e qualquer concorrente através por exemplo da dispersão em Bolsa.
Um dia surgirão esclarecimentos cabais, não sabemos é quando. Algo já habitual neste pitoresco país...
aditamento - Segundo informa a TSF Miguel Coutinho, director do jornal «Diário Económico» justifica a derrota da GALP dizendo que houve «pouco empenhamento» do Governo neste negócio. Confesso que não percebo, "falta de empenhamento" como ? Não era uma matéria diplomática, presume-se que o governo espanhol não interveio, pelo que sendo só e apenas uma questão de mercearia se presume que Miguel Coutinho se estivesse a referir à amnésia deste Governo, do mesmo governo que impôs literal e contratualmente a concretização desse mesmo negócio ao consórcio vencedor... Revelador. Por outro lado a GALPenergia, em comunicado, disse ter perdido a corrida à compra da rede Shell porque a sua proposta financeira terá sido suplantada pela Disa e por ter recusado operar sob a marca da empresa anglo-holandesa. Se o facto da DISA ter oferecido mais parece óbvio (admitindo que a GALP estava de facto na corrida) já a questão sob que marca iriam operar os postos comprados parece bem mais nebulosa. É que se para a DISA pela sua dimensão operar sobre o brand da Shell é um bónus óbvio não estou a ver a questão a ser impeditiva de negócio da GALP com a Shell por uma razão muito simples - aquando da recentíssima venda da rede da Shell em Portugal à espanhola Repsol não consta que tenha ficado acordado que os 303 postos continuassem a operar sob a bandeira da Shell...
Publicado por Manuel 20:40:00
O Governo Espanho não "interviu". Apenas não "interveio".
No resto, é bem capaz de ter razão.
Alberto P.
Obrigado pela nota. Como eu faço bem mais coisas na vida que escrevinhar por estas bandas a ortografia sofre facto pelo qual humildemente me penitencio.
Obviamente o Manuel é o Prof. Marcelo, que como todos sabemos nunca dorme e desenvolve 47 actividades intelectuais sem simultâneo.
Ou então trabalha para o Estado e acha que lhe pagam para nos informar sobre as conspirações que sobre todos nós pairam.
Nesta da Galp, não poderá haver uma explicação mais simples? Se calhar a DISA simplesmente pagou mais. E essa de que "é impossível e irracional crer que a Shell não tenha questionado a GALP sobre se esta cobria ou não a parada da DISA" só mesmo de quem não faz a mínima ideia de como se processam este tipo de opreações.
Mas enfim , até Domingo Prof. Marcelo...