ainda o affair GALP ou o teste do polígrafo ...

Foi esta Venerável Loja a primeira instituição em Portugal a questionar os contornos nebulosos que envolvem a revenda de uma parte substancial do Capital da Galp Energia.

Depois de largas semanas a pregar no deserto parecia que a temática finalmente estava a tornar-se mainstream. Não cobramos direitos de autor e apreciamos ver Louçã enervar Barroso no Parlamento, ainda que por questões colaterais. Desconfiamos da forma tímida como a oposição mas mantivemos a esperança, isto foi até à noite desta quarta-feira.

Carlos Tavares foi à Assembleia da República prestar esclarecimentos mas, pelos vistos, ninguém quis ser esclarecido.

Do BE ao PS, passando pelo PC e pelos Verdes, ninguém fez os trabalhos de casa e as verdadeiras perguntas ficaram por fazer, assim como as respectivas respostas.

Com o habitual espírito de missão que nos caracteriza, e não que tenhamos ilusões e apenas para memória futura, deixa-se aqui aquilo que realmente desde há muito que já deveria ter sido cabalmente explicado aos portugueses. Não somos nenhuns génios ou iluminados, e qualquer pessoa que perca mais de meia hora a estudar o dossier chegaria rapidamente a muitas, senão todas, as dúvidas a seguir levantadas.

O facto de ontem Carlos Tavares ter passeado pela Assembleia não pode justificado apenas pela tradicional teoria da falta de qualidade dos diferentes grupos parlamentares.

Aparte o folclore anti-americano, típico da época, que atinge cirugicamente apenas a Carlyle o facto é que existe um verdadeiro voto de silêncio que faz com que não se discuta o essencial.

Em suma, e neste caso concreto, o grau de transparência é à angolana, ou seja zero.

Assim...

  • A decisão de proceder a uma reorganização empresarial da Galp Energia decorre do facto de o anterior governo ter celebrado um acordo parassocial com a ENI, onde o Governo se comprometia a efectuar uma IPO da Galp Energia até ao final do primeiro semestre de 2002 ou em alternativa a alienação automática da posição da Parpública para a ENI Spa. António Guterres, duas semanas após se ter demitido, rasgou o acordo, e a ENI, estava em vias de tomar coercivamente o controlo da Galp Energia, comprometendo assim o futuro da petrolífera portuguesa.

    Parece assim evidente que houve inabilidade negocial, mas mesmo assim teima em afirmar o Senhor Ministro da Economia, que houve tanta transparência neste negócio como na aquisição da ENI à Petrocontrol ?

  • Porque nunca agiu o PSD, na oposição, nem agora no Governo, na isenção da mais-valia de 525 Milhões de contos que o governo de Guterres permitiu ao grupo Petrocontrol, quando este alienou à ENI a sua participação ?

  • A forma que o Governo arranjou de resolver a questão ENI foi extraordinariamente simples.

    À ENI que tinha adquirido 33,34% por 917 Milhões de Euros este Governo ofereceu-lhe, para sair, 650 Milhões de Euros mais 17 milhões de dividendos mais 49,9% da EDP Gás, que esta avaliada na sua totalidade em 800 milhões de euros.

    Ou seja mais valia realizada de 253 Milhões de euros. Não foi um preço demasiado alto ?

    Que trunfos tinha a ENI na manga para levar o Governo a aceitar tão lastimoso acordo ? É certo que a "habilidade" negocial de Guterres e Pina Moura condicionou muito mas, condicionou tudo ?

  • A escolha dos quatro - agora reduzidos de facto a três - consórcios participantes foi feita em que moldes e à luz de que critérios ?

    Quais as condições mínimas que foram requeridas para participar ? Já toda a gente percebeu que a linha de àgua são 450 Milhões de Euros - valor que permite ao Estado ter um resultado zero na operação - mas porque é que o Estado definiu um concurso de geometria variável onde manifestamente os consórcios convidades tem dimensões financeiras com ordens de magnitude de diferença?

  • Não seria natural antes de uma operação desta envergadura o Estado ter pedido uma avaliação externa e independente de quanto vale realmente a GALP ? Porquê tanta pressa ?

  • Qual a lógica de ter num comité de sábios o advogado da ENI e actual presidente da Mesa da Assembleia Geral da GALP Energia ? Não há em Portugal mais ninguém habilitado ?

  • Ainda que não fosse oficial, já em Março esta Grande Loja anunciava que o vencedor se chamava Carlyle Group, com base em notícias publicadas em Espanha.

    Será consensual a mais-valia que o Carlyle Group tem, mas se é assim tão consensual, porque não um ajuste directo?

  • Qual foi o verdadeiro papel de Martins da Cruz nas negociações com o Governo Português, mandatado por Pedro de Esteban, responsável do Carlyle Group para a Europa ?

  • Na Assembleia Geral da Iberdrola em Novembro de 2003, encontra-se registado em acta, que uma das decisões passava por contestar a troca de activos sugerida pelo Governo Português para impedir a ENI de tomar o acordo. Sabendo que o Governo deu um prazo de resolução até 31 Dezembro de 2003, significa isto que o Governo negociou, à pressão antes do prazo acabar ?

  • O consórcio Luso-Oil é composto por Carlyle (60%) + Fomentinvest (10%) + Américo Amorim (7,5%) + GES (7,5%) + Fundação Oriente (5%) + Oliveste (5%) + IP Holding (5%). Confirma, para no futuro não haver "surpresas"?

  • Quer comentar a pré-anunciada por Luís Delgado (!), entrada do Grupo Mello, um dos "convidados", pela porta do cavalo no consórcio Carlyle? Acha isto transparente? Isto não denota no minímo incompetência na escolha dos candidatos?

    Se por absurdo, e depois do Grupo Mello, também a Viacer e a CVC (portugueses de gema) "desistissem" e se juntassem ao Consórcio Carlyle o concurso era anulado ?

  • A opção da Galp, ao que sabemos, é separar a refinação da comercialização.

    Qual das partes ficará em mãos portuguesas, as duas, apenas uma delas, e se for apenas uma das partes qual ?

  • Se como várias vezes afirmou, o objectivo estratégico do Estado é que mais tarde os investidores portugueses tomem conta do negócio, porque não criou Estado codições para que tal acontecesse agora, quando ainda não temos a mais-valia que o Carlyle vai realizar?

  • A confirmar-se a participação da Sonangol via Carlyle Group é, quase, certo um convite da Sonangol para a Galp entrar no seu capital ficando assim com uma importante fatia da refinação e exploração em Angola.

    A moeda de troca será obviamente a entrada da Sonangol no comercialização da gasolina na Europa. Podemos estar a falar assim de uma nacionalização da Galp pelo Clepto-Estado Angolano, que o Estado Português não poderá impedir ?

  • O envolvimento da CGD era para ter sido como participante accionista.

    Devido a desentendimentos, públicos e notórios, entre Mira Amaral e António de Sousa (apenas?), passou apenas para financiadora.

    Como pode o Estado dar o aval a uma operação de crédito desta envergadura – não esquecer que a CGD tem como accionista único o Estado Português - sem ter conhecimento da mesma ?

  • Devido ao negócio do Gás, associado a operação de saída do capital da ENI da Galp Energia, a Comissão Europeia, está, ainda, a analisar o processo.

    Um não da Comissão Europeia à troca de participações no Gás e o processo inteiro da Galp volta à estaca zero, certo ?

  • Uma breve consulta à actividade da empresa permite constatar que a empresa terá um valor de mercado entre os 3,2 e os 6,4 Mil Milhões de Euros.

    Ora sabendo que o Carlyle Group terá avaliado a totalidade do capital da Galp Energia em 2 mil milhões de euros, este nunca oferecerá mais do que 660 Milhões de Euros por 33,34% ou 960 Milhões de Euros por 48%.

    À luz das avaliações acima referidas, para uma aquisição de 33,34% o valor mínimo seriam 870 Milhões de Euros, e para uma aquisição de 48,00% o valor mínimo seriam 1,25 Mil Milhões de Euros.

    Ou seja o Carlyle leva a Galp de borla, certo ? Que estudos tem o Governo, voltamos a perguntar, que contrariem os números acima ?

À atenção do Procurador Geral da República...

Publicado por António Duarte 23:46:00  

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