"Lost in Translation" ou o que realmente Bagão Felix disse hoje ao País...
segunda-feira, setembro 13, 2004
As expectativas eram altas, muito altas. Esperava-se de Bagão Félix um rumo, uma estratégia, objectivos claros e coerentes, esperava-se de Bagão Félix, enfim, uma política. Obviamente que tal era esperar demasiado de quem apenas aceitou a pasta das finanças a escassas horas da tomada de posse, obviamente que era esperar demais de um governo cuja estrutura, em vez de se adaptar às necessidades do País, foi adaptada às necessidades da coligação e das diferentes coligações que a sustentam.
Bagão veio dizer-nos que não faz milagres nem passes de magia, mas o facto, o facto incontornável, é que, porém, todo o seu discurso se resumiu a isso mesmo. Ou enunciou, e anunciou, o óbvio, ou renovou boas intenções, algumas de velhas de décadas. Teve o cuidado de não afrontar ninguém em especial e de distribiur salamaleques por todos. Quem esperava polémica, polémica a sério, reformas a sério, estruturantes, saiu obviamente defraudado, mas alguém o esperava de facto ? O discurso, passe o tom pachorrento em que foi declamado, foi assumidamente obra de profissionais... Tinha de tudo para todos.
Bagão Félix veio dizer que 2004 já lá vai e que 2005 será um ano de transição (para um futuro melhor, presume-se), omitindo habilmente falar de 2006.
Recordou que o Estado não fugirá às suas obrigações e que sim, haverá aumentos reais na função pública, e baixa no IRC, e é isso que interessa. Portagens nas SCUTs são consensuais, qualquer rightsizing na administração pública nunca ocorrerá antes de ... 2006, e em abstracto todos concordam com a moralização do sistema.
O que Bagão Félix veio realmente dizer é que todas as contas deste Governo estão feitas para que as legislativas e autárquicas ocorram ao mesmo tempo, no final de 2005. Só assim se explica o seu discurso, e o facto de afinal, e contra a esperança dos crentes, não ir haver um verdadeiro apertar do cinto... No adiar é que está o ganho.
Uma adenda final para chamar a atenção sobre a ambiguidade acerca do eventual uso de receitas extraordinárias para cumprir a meta dos 3% do déficit no OE deste ano, contrastante com as absolutas certezas de Nuno Morais Sarmento ainda hoje mesmo ao Público.
Publicado por Manuel 21:12:00
E tenho esperança, que apesar das benesses "por conta e medida" os Maneis deste País saberão responder!