"Só o Ter"
domingo, julho 18, 2004
Só o ter flores pela vista fora
Nas áleas largas dos jardins exatos
Basta para podermos
Achar a vida leve.
De todo o esforço seguremos quedas
As mãos, brincando, pra que nos não tome
Do pulso, e nos arraste.
E vivamos assim,
Buscando o mínimo de dor ou gozo,
Bebendo a goles os instantes frescos,
Translúcidos como água
Em taças detalhadas,
Da vida pálida levando apenas
As rosas breves, os sorrisos vagos,
E as rápidas carícias
Dos instantes volúveis.
Pouco tão pouco pesará nos braços
Com que, exilados das supernas luzes,
‘Scolherrnos do que fomos
O melhor pra lembrar
Quando, acabados pelas Parcas, formos,
vultos solenes de repente antigos,
E cada vez mais sombras,
Ao encontro fatal
Do barco escuro no soturno rio,
E os nove abraços do horror estígio,
E o regaço insaciável
Da pátria de Plutão.
Ricardo Reis
Publicado por Manuel 22:01:00
4 Comments:
-
- Zu said...
12:06 da tarde, julho 19, 2004Encantei-me com o passarito. Vou pedi-lo emprestado, posso?- Manuel said...
4:55 da tarde, julho 19, 2004à vontade...- Acilina said...
7:40 da tarde, julho 20, 2004A mim encantou-me o conjunto: a imagem e os primeiros versos. Belíssimos!- musalia said...
11:09 da manhã, julho 21, 2004Viver a vida sem ser quase tocado por ela...
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