"Amesterdão"

Nestes tempos conturbados talvez não seja má ideia recordar Ian McEwan e o seu fabuloso "Amesterdão", vencedor do Booker Prize em 1998, um retrato cruel, mordaz, num certo registo de comédia negra do nosso tempo

Adequadamente a história inicia-se num funeral. No funeral de uma mulher que morreu de uma doença incurável. Há muito fatalismo na história. "Amesterdão" é uma tragédia escrita com a lógica desalmada que só uma farsa tem, uma caricatura de uma sociedade insensível, egoista, selvagem e animal.

Os dois personagens principais são dois velhos amigos, se é que se podem definir como amigos, ambos amantes da falecida, que se re-encontram no funeral. Um é um afamado compositor em vésperas de acabar a sua última "obra-prima", uma "Sinfonia para o novo Milénio", o outro um editor de um respeitável e centenário jornal (de esquerda claro). Pelo meio há ainda um político que pode chegar a primeiro-ministro, e umas fotos comprometedoras....



Um pequeno parentesis apenas para recordar um pequeno episódio...

Clive - o compositor - um dia, na rua, testemunha uma mulher a ser violentamente agredida e assaltada. Nada faz, serenamente diz a si próprio que ninguém o poderia julgar negativamente por ter preferido ir para casa acabar a sua obra-prima, um legado seu à história e à humanidade, que dar assistência à pobre senhora.

Tudo, claro, uma questão de prioridades.

Sem complacências, o livro, magistralmente, acaba mais ou menos como começou.

N.A. Para quem estiver lento de raciocínio a menção deste livro, e a recomendação da sua leitura, é tudo menos inocente e tem rigorosamente a ver com a minha prosa anterior. Quem puder que leia a edição original em inglês, a tradução portuguesa (Bertrand se a memória não trai) não é famosa

Publicado por Manuel 19:03:00  

0 Comments:

Post a Comment