"Missão Impossível"
quinta-feira, julho 08, 2004
Confesso-me, hoje estou em baixo, irritado comigo e com o Destino, que não parece querer nada comigo. Estou em boa companhia, o Destino também não parece ter este cantinho à beira mar plantado, a diferença é que parece que a esmagadora maioria das nossas cabeças pensantes destas bandas se está nas tintas, eu não!
Nesta vida, habituamo-nos a pensar primeiro em nós próprios, e depois nos outros, a ser egoistas e egocêntricos, habituamo-nos a flutuar, a sobreviver, a assacar responsabilidades ao vizinho do lado, ao político do lado, ao Partido do lado. Há culpas, há culpados, manifestamente esses é que nunca somos nós...
Tudo indica que daqui por uns meses vamos ter de escolher entre não o Inferno e o Purgatório, como é hábito, mas entre o Inferno e o Inferno. Dizem-me que é inevitável.
Dizem-me que o Santana, o Lopes que eu conheço e que deve ser dos personagem mais fúteis desta terrinha, tem que ir a votos porque enquanto não for a votos há-de ser sempre uma eterna ameaça. Dizem-me, afiançam-me, que perde e que será melhor assim...
Já vi o filme com Barroso, chegou a PM e foi o que se viu, já ví o filme com muitos e diferentes marmanjos, porque ainda não é a hora, porque é inimigo de fulano, porque é lógico, por isto, por aquilo, porque sim...
Parece que toda a gente se resignou, todos negam ser fatalistas, e acreditar no destino, mas todos se regem por uma pretensa ordem natural das coisas, na vida e nos Partidos.
Eu chamo-lhe é cinismo em estado puro, cobardia em todo o seu esplendor, medo de perder, medo de ousar, medo de ir contra as estatisticas, medo de ir contra a "História" natural, o que quer que isso seja ...
O Lopes tem o aparelho todo com ele ? Terá, e depois ?
Será indigno hipoteticamente perder numa causa que se sabe ser digna e justa ? Será que só se deve correr quando se sabe que ganha ? Será que não há causas maiores e mais nobres que a simples vitória e a derrota ? Será que já ninguém sabe o que é a Honra e a Vergonha ?
O que é que é que será mais importante? ser hipoteticamente acusado de traidor (!), por dizer só e apenas que o rei vai nú, ou ir à luta, por uma causa - e um País - em que se acredita e que é maior que todos nós?
O país parte-se em três, os que assistem na bancada, como se nada fosse com eles, os que escondem a cara envergonhados na esperança que ninguém lhes faça perguntas incómodas, e claro, os redentores, Ferro, Santana e as suas claques terceiro-mundistas, que se comprometem a fazer o grande sacríficio de pensar, governar, decidir por todos nós.
O jogo é às claras e eles não escondem nada, são aquilo que parecem e parecem aquilo que são. Eu não me resigno.
Não me resigno a que por meros tacticismos, por cobardia de uns, erros de cálculo de outros, hiper-realismo de outros ainda, se deixe transformar o país num cenário de um filme neo-pasoliniano. Portugal merece mais e melhor do que Ferro ou Santana, Portugal não precisa de Messias, de artolas que viram o seu futuro "escrito nas estrelas", Portugal precisa só e apenas de gente séria, competente e honesta ao leme.
E essa gente séria, honesta e competente existe, e até estaria disponivel, mas foge a sete pés quando se recorda de que existe um monstro voraz chamado aparelhos partidários...
Acontece que parece que ninguém tem seguido o evoluir dos tempos. No rescaldo do Cavaquismo foi possível ao PSD escolher um candidato a Primeiro-Ministro contra a vontade das suas bases e contra a vontade do país... Agora é impossível. Santana fez-se nas TVs, "existe" apenas e só na Comunicação Social e derrota-se na Comunicação Social.
Com maior ou menor peso do aparelho partidário, o PSD não pode, não consegue, e não tenta sequer eleger um líder - num Congresso extraordinário - que não seja aquele que os portugueses na sua maioria desejem.
E não precisa de ser ninguem famoso, conhecido, popular, basta ser alguém honesto, competente, capaz, com provas dadas e capaz de agregar à sua volta projectos e vontades.
Tudo aquilo que Santana não é. Santana é uma mão cheia de nada, apresentem-lhe ideias, projectos, em suma uma visão e um desígnio e temo-lo gago a debitar banalidades. A pretensa força de Santana, o seu hipotético populismo, o seu assumido messianismo, é afinal a sua maior fraqueza.
Santana não se pode dar ao luxo de perder, quem a ele se opuser só tem tudo a ganhar...
Ganhar, porque elevou a parada, porque elevou o discurso, porque mostrou ao país que afinal ainda há alternativas a esta classe que nos governa.
E eu quero acreditar nos Portugueses, acredito que entre uma boa - boa, mesmo - opção e uma má opção os Portugueses escolherão a melhor opção...
Talvez seja eu que esteja errado, se calhar talvez as coisas tenham fatalmente de correr mal porque assim estará escrito "nas estrelas", mas deixem-me então ser louco, antes isso que cúmplice objectivo de uma monumental farsa.
E depois, caros leitores, há lutas e há causas, às quais, mesmo perdidas, não devemos nem podemos deixar de nos alistar e por elas lutar.
Eu pela parte que me toca ainda tenho algo a que se denominou chamar consciência...
Nota da Gerência A pedido de muitas famílias o sistema de comentários passou a voltar a permitir a inserção de comentários "directos" i.e. sem obrigatoriedade de registo no sistema do blogger. Recordo apenas, e quanto ao tom dos comentários, que este é um blog para toda a família...
Publicado por Manuel 18:06:00
A sua revolta não se lê apenas, sente-se, quase se toca. Pode dizer-se que escreveu um post a três dimensões, cujo conteúdo e tridimensionalidade se mantêm inteiramente válidos se substituirmos o nome de Santana Lopes pelo de Ferro Rodrigues e a sigla PSD por PS.
Mas os cidadãos anónimos só podem ser - na melhor das hipóteses! - seres bidimensionais: podem pensar e gritar a sua revolta/frustração, mas não podem agir... para além do aumento do volume e quantidade dos gritos. Às vezes ouvem-se, contudo...pode ée levar tempo demais.