Vasco Pulido Valente - "Barroso"
sexta-feira, junho 18, 2004
Ao contrário do que se previa, a abstenção não chegou aos 70 por cento; e a diferença entre a Esquerda e a Direita e o PS e a Coligação foi a maior de sempre. Admito que me enganei. A primeira sondagem tornou logo ridícula a velha cerimónia na televisão com toda a gente a fingir que tinha ganho. Era óbvio que o país, que votara (38 por cento), votara em massa contra o governo. Não havia habilidade ou desculpa que pudessem disfarçar este facto bruto. Agora, Durão Barroso está perante um quase impossível exercício de salvamento. Precisa de uma «retoma», e de uma «retoma» forte, e ela, se vier, não virá a tempo. Muito provavelmente, o desemprego continuará a crescer. E o défice real não promete melhorar em 2004 e 2005. Resta a remodelação. Barroso preside a um bando de nulidades nunca visto num governo do PSD: o que lhe põe um problema. Uma limpeza geral é para ele próprio um atestado de incompetência e uma condenação em grosso, e em detalhe, da política que ele dirige e representa. Meia limpeza (cinco ou seis ministros) não convence ninguém. Mas mesmo supondo que Barroso consegue uma remodelação qualquer (pelo que ela vale), fica fatalmente o caso irresolúvel da dra. Manuela. Se não a substituir, para os portugueses, nada mudou. Se a substituir, para os portugueses, capitulou. Não há escapatória. Como não há também maneira de escapar a Portas. Por um lado, o «centro» e uma grande parte do PSD não querem Portas. Por outro, sem ele, cai o governo. Levar a coligação até 2006 parece um suicídio; e não a levar é um suicídio. No meio deste patético labirinto o dr. Barroso espera com certeza um milagre. Espera mal. A trapalhada que armou, com irresponsabilidade e presunção, já não se conserta. O país manifestamente não confia nele.
in Diário de Notícias
Publicado por Manuel 00:18:00
0 Comments:
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)