estórias de um Portugal menor

Portugal anda de facto nas bocas do mundo. Primeiro o Rock in Rio, que está a beira de se tratar do primeiro flop do Milllenium em termos de assistência. Depois o Europeu de futebol que está mesmo a rebentar, e toda a parafernália de medidas de segurança e afins.

Finalmente, o fenómeno OVNI, que aterrou sabe-se lá como em Portugal, e colocou todos cheios de medo e de alucinações, não fossem os extras terrestres terem vindo em busca de algo.

Ainda que careça de confirmação, uma vez que não é fácil estabelecer contacto, os extraterrestres terão certamente levado uma imagem de um Portugal Moderno quando ouviram Carmona Rodrigues anunciar a intenção em ligar Lisboa a Almada, mas por debaixo do leito do Tejo, em túnel.

Em primeiro lugar, trata-se de um projecto que ligará Lisboa (Terreiro do Paço/Cais do Sodré) até à zona dos actuais estaleiros da Lisnave, onde irá surgir, assim que o Governo autorizar, o empreendimento Margueira Capital, ou se preferirem, a nova Mannathan. O projecto exerce sobre a zona ribeirinha do Tejo, uma pressão urbanística em nada comparável com o que actualmente temos. A Expo à beira da Margueira, será uma espécie de Portugal dos Pequeninos. Ainda assim trata-se de um projecto de relevo assinalável.

Ou seja, com esta decisão de ligar Lisboa a Almada, via metro, a maior opositora do projecto, a autarquia de Almada, já virou a agulha, e a sua presidente afirmou hoje, que a ser verdade a notícia, trata-se de um salto qualitativo do concelho de Almada e uma melhoria e ganho de centralidade face a Lisboa, e como tal contava com o aplauso da autarca.

Todos sabemos, também, que tal projecto apenas fará sentido, com as torres da Margueira erguidas.

A primeira impressão com que ficamos é, então, de que esta obra se trata de uma compensação à autarquia vermelha de Almada pela invasão do capitalismo que as torres da Margueira vão trazer.

Se tecnicamente a obra é fácil, basta que peguem nos engenheiros do túnel do canal da mancha e não existirão riscos de inundações, economicamente, num país a sair de uma recessão económica, com as suas finanças públicas de rastos, com necessidade de arranjar receitas extraordinárias para cumprir o limite do PEC, já que consolidar verdadeiramente o orçamento não parece estar ao alcance dos senhores das finanças, mas onde o Estado deve intervir, efectuando obras públicas de relevo, este túnel sobre o Tejo será certamente um delírio de Carmona Rodrigues.

Primeiro, a pergunta que se impõe. É esta a grande obra pública que o executivo de Durão Barroso pretende lançar? É esta a obra pública onde o Estado deve empenhar cerca 1500 milhões de euros, e com a qual gerar riqueza na economia? Não existirão mais e melhores prioridades? Ou o Governo descobriu que de repente tem mais reservas de ouro e passou de deficitário a superavitário?

Para quem conhece Lisboa, saberá que depois da Ponte 25 de Abril, depois da Ponte Vasco da Gama, depois da travessia em ferrovia em Comboio pela 25 de Abril, existem duas obras que deveriam merecer as atenções de qualquer Governo...

  • A travessia Barreiro – Areeiro (Lisboa) em ferrovia. Iria permitir a ligação da margem industrial do Tejo directamente a Lisboa, e retirar tráfego na ponte 25 de Abril. Se a opção recaísse por uma ponte mista, ainda que existisse uma diminuição do tráfego à entrada de Lisboa pela 25 de Abril, o ponto de entrada em Lisboa (Areeiro) iria causar enormes engarrafamentos, dada a dificuldade de escoamento existente.

  • A travessia Algés – Porto Brandão, iria permitir a conclusão da CRIL, directamente na margem sul do Tejo, com inerentes ganhos. Passaria a ser a primeira ponte completamente fora da malha urbana de Lisboa. Ainda que para mim fosse um projecto de duvidosa rentabilidade, estudos efectuados, afirmaram, ser a ponte que mais tráfego iria gerar.

Mas, e abandonando a ponte, temos o aeroporto de Lisboa, que agora na Portela, de uma forma definitiva, rapidamente será apontado como uma das causas da perda de poder de afirmação de Portugal. Mas se a decisão de optar pela continuidade da Portela, ainda que se saiba à partida, que dentro de 15 anos, quando o empreendimento Alta de Lisboa estiver concluído, a expansão deixará de ser possível, e o aeroporto completamente saturado, mais lamentável, foi a decisão de não aliar a OTA ao TGV. Não aproveitar as sinergias dos dois projectos.

Mas, e porque o país não é apenas Lisboa, Carmona Rodrigues,é assim ministro de um país que promete metros debaixo de água, como se fossemos um país rico, e permite que no Euro que se avizinha, os comboios especiais, entre Faro e Braga, demorem 9 horas e meia, para realizarem uns meros 700 km.

Carmona perdeu a noção de tudo, e talvez não seja descabido dizer, que terá perdido a noção da realidade e do país onde vive. De um país pobre com um Estado rico. De um país que precisa de facto de obras públicas capazes de elas próprias serem catalizadoras de investimento privado e de diminuição de assimetrias. O próprio concelho de Almada enfrenta actualmente o paradigma do estaleiro, com as obras do metro de superfície, essas sim, importantes e de vital relevância.

Ao ministro, apenas pedimos que não se fie nas palavras de nenhum secretário de Estado a dizer-lhe que não é preciso um estudo qualquer e que, a bem da nação, o realize.

Que a bem de um país necessitado de governantes inteligentes e não de espertos-chicos, chegue à conclusão a que todos chegamos.

Existem outras prioridades...

Publicado por António Duarte 13:54:00  

1 Comment:

  1. DJ ORAÇÃO said...
    A grandelojadoqueijolimiano está nos sempre a surpreender, este sim é um manifesto de quem pune por um Portugal melhor, consegue chegar ao ponto do "sem papas na lingua", e depois não me venham cá com falinhas mansas da designada "auto-estima" como o Zé Povinho fosse uma criança a ser embalada mas que não pode dar conta da ribanceira porque senão chora. É bom chorar e saber porquê, porque é sinal que podemos sanar o mal. Enquanto andarmos por aqui com as falinhas mansas dignas do santissimo das alarvidades das cruzes, nunca chegaremos a lado nenhum, porque para mim é fácil linearizar o problema, em torno de um outro problema maior, enquanto não encontrarmos essa hierarquia de importância vamos dar sempre com o Zé a chorar por mais pão e circo. Quanto a mim há dois urgentissimos, uma questão econonómica que é reduzir a evasão fiscal, arranjar um slogan de que quem é incapaz é burro e não merece os salários que recebem, por isso tudo relacionado com o assunto devia ter um ambiente de competição saudável para que os trabalhadores fossem mais prestáveis para a Justiça Social, que hoje contribuem mas só na fachada; incentivar as pessoas a educarem-se, porque o professor na escola não pode ser a familia que os alunos não têm em casa e depois todo o ambiente sócio-económico da familia: emprego estável, inexistência de vicios, hábitos de leitura, e muitas mais.


    Por exemplo: "Zé a chorar por mais pão e circo" se o Zé tivesse andado mais uns anos na escola sabia-se defender e até nem levava a mal que as empresas da mão de obra barata e pouco especializada pulassem deste país.

    Agora imaginem a extinta Renault-Setúbal, a Bombardier, a Ford-Volkswagen de Palmela, são exemplos de empregos que os trabalhadores sabem há partida que exigem qualificação. Mas em Portugal no tempo dos dinheiros para as qualificações vindos da UE, foram canalizados para os delirios dos Patrões, para a paródia do Zé ou ainda para a ChicoEsperteziçe Tuga.

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