Inês Serra Lopes, "O Independente", Adelino Salvado e o Estad(i)o Geral de Impunidade

O caso, epicentrado - por enquanto - em Gondomar, despoletado pela detenção para interrogatório do Major Valentim e de mais uma série de personalidades do nosso mundo desportivo-autárquico apanhou de surpresa tudo e todos. Com efeito o impensável aconteceu!

Foi possível a um magistrado do Ministério Público, a uma Juíza e a uma dedicada equipa da PJ trabalhar em conjunto, em perfeita harmonia, sem que houvesse uma fuga que fosse
.

Ninguém soube, ninguém sonhava, ninguém suspeitava, e estamos a falar de uma investigação complexa que durou meses a fio. Num país normal chamava-se a isto profissionalismo, mas como estamos em Portugal, seja por via de dores de cotovêlo mesquinhas, seja por via da protecção dos mais altos interesses do país à escala planetária, a imagem sempre a imagem, seja por (tentativa de) sabotagem pura e dura logo vieram a lume as mais pérfidas teorias.

Primeiro começa-se por querer entalar o Procurador de Gondomar por alegadamente não ter dado conhecimento à hierarquia, ora como a estratégia não resultou nem podia resultar passa-se à fase dois.

Sejamos claros, o drama que envolve o caso "Apito Dourado" não é sequer o Major ou o Sr. Oliveira, em prisão preventiva.  Por muito poder que tenham (tido) não passam de personagens secundárias numa farsa chamada bloco central.

O poder, o poder verdadeiro, está noutros lados e toda a gente o sabe.



O verdadeiro drama do caso é que ao contrário do que aconteceu no Caso Casa Pia em que as escutas mais pictóricas não foram transcritas por não terem a ver "directamente" com o caso nesta investigação foi tudo validado - 35 CDs sobre o portugal profundo e inconfessado.

O drama todo resume-se só e apenas a isto. É que não constituindo as escutas per se elemento absoluto de prova, são um poderoso roadmap que permitem percebe como se processa o tráfico de influências e a corrupção pura e dura em Portugal

Em suma, as escutas existem e não são refutáveis facilmente. Ninguém vai alegar que são uma maquinação, uma cabala, com a colaboração das vozes do contra-informação para acabar com a vidinha de uns tantos. Não vão alegar porque não podem e como não podem está em pleno curso uma estratégia infinitamente mais pérfida.

Já que ninguém pode desmentir os factos, há que relativizá-los, contextualizá-los e assim tentar dinamitar a investigação.

O editorial hoje subscrito n' O Independente por Inês Serra Lopes bate aos pontos a perfídia e cinismo do Mefistófoles de Goëthe e é apenas mais um passo numa estratégia aracnidea absolutamente inqualificável.

Mas vamos por partes:

Inês Serra Lopes com a desfaçatez a que já nos habituou começa com um introito lancinante ...

É preocupante o destino que terão os indícios recolhidos durante meses de escutas e videovigilâncias a dezenas de pessoas no âmbito de uma investigação criminal. Justamente daquela que, com grande alarido, apareceu aos olhos do público como a operação "Apito Dourado".

É preciso exigir que os factos que apontam para outros crimes não sejam pura e simplesmente apagados pela Justiça, por não dizerem respeito ao processo da corrupção no futebol.

Alguns  "pormenores"  justificam plenamente que pessoas autorizadas, e conhecedoras do processo, temam que a operação que resultou na prisão de 16 pessoas (15 delas libertadas após o interrogatório) tenha tido como efeito principal impedir a investigação de crimes ainda mais graves, envolvendo interesses e pessoas ainda mais poderosas.


Confusos ? Nós explicamos! Quando a coisa está preta a solução óbvia é fugir para a frente. Afinal o Major e os outros (nomeadamente os outros) já não são os maus da fita! São os cordeiros sacrificiais (por causa de umas falcatruas "normais" na bola) que visam impedir que peixe muito mais graúdo seja incomodado. Isto claro na tese delirante da Inês Serra Lopes que continua ...

1. O major Valentim Loureiro foi detido pouco tempo depois de ter combinado um encontro pessoal com um engenheiro do Metro do Porto. Encontro que foi marcado num telefonema que os investigadores ouviram e gravaram. Sabendo dele, a diligência mínima exigível recomendava que o major continuasse a ser seguido. É preciso não esquecer que a polícia estava a gravar e a vigiar o autarca de Gondomar, tendo feito várias videovigilâncias. Seguir Valentim Loureiro até esse encontro seria provavelmente a única forma de saber e, sobretudo, de um dia poder provar, qual era o seu objectivo. Por causa da prisão do major, nunca saberemos o que iria passar-se.

Esta tese é em sí mesmo peregrina. Como o Major poderia ser um alegado corrupto nunca deveria ser detido enquanto não fossem identificados todos os corruptos com quem ele se relacionasse. Como haveria sempre mais alguém a precisar de favores, mais uma contingência ou negócio aqui ou alí, o corolário é que o Major jamais poderia ser detido. É esta a lógica erudita de Serra Lopes.

2. O despacho do Procurador que justificava a necessidade das buscas detalhava com inaudita precisão as suspeitas e o alcance da investigação. Porque terá esse despacho sido agrafado às dezenas de mandados de busca que foram entregues às dezenas de pessoas que tinham o maior interesse em conhecer o âmbito do processo.

Para escrever isto é preciso ter mesmo lata. Lata infinita. Aqui Serra Lopes joga com as palavras. O despacho do Procurador que justificava as buscas detalhava sim senhor com inaudita precisão as suspeitas e o alcance da investigação mas apenas e só no que dizia respeito à bola. Puro profissionalismo. Pura transparência e não por via desse despacho  que alguém se pirou para o Brasil ou telefonou a Jorge Sampaio muito menos foi por isso que alguém teve tempo de fabricar alibís ou eliminar provas. Mas Serra Lopes insiste...

Por que é que ninguém explica a tremenda confusão que envolve este processo? Não acredito que tudo isto fique a dever-se a uma eventual incompetência da investigação. É uma hipótese que descarto por conhecer a qualidade do trabalho que a Judiciária tantas vezes faz.

Confusão ?! Porque ninguém telefonou à Inês a contar o exclusivo ? Porque foram todos apanhados como diz o Povo com as calças na mão? Mas Inês continua a insistir ...

Falemos claramente. Será que alguém pretendeu evitar um dano maior? Ou seja, proteger eventuais implicados e interesses que a continuação da investigação afectaria?

Claro que há quem pretenda evitar danos maiores, como a Inês Serra Lopes melhor que muitos sabe, mas adiante ...

Está na altura de começarmos a exigir que o segredo de justiça não seja uma forma de permitir que o laxismo ou a incompetência permitam que o poder judicial se alheie do fenómeno da corrupção. Até porque nada nos garante que este seja alheio a ela. A investigação do "apito dourado" abrange, ou não, outras pessoas e outros crimes? Quem determinou que as detenções fossem efectuadas? Fê-lo porquê? E fê-lo bem?

Não são aceitáveis desculpas dadas em off-record e perdoadas pelo sacrossanto segredo de justiça. Os maus profissionais têm de ser responsabilizados pelas suas actuações. E, sendo as investigações chefiadas pelo Ministério Público, um corpo hierárquico, nem o Procurador distrital do Porto, nem o procurador-geral da República podem eximir-se às suas responsabilidades, se as houver.

Está na hora de exigir explicações. O estado de impunidade não pode continuar a alimentar a corrupção em Portugal.

Há muita gente que precisa de dar explicações a começar precisamente por Inês Serra Lopes.

Mas recordemos alguns factos que O Independente, e a Inês neste demagógico editorial, omitiu.

Não foi o despacho do Procurador ordenando as detenções que espantou a caça nem foram os esclarecimentos prestados aos suspeitos durante os interrogatórios. É certo que estava muita gente em pánico - praticamente o meio mundo que falava ao telefone com Valentim e com os outros mas era um pânico genérico, mais ou menos distante, derivado das certidões e processos autonomos que pudessem ou não advir das escutas no futuro.

O que, sejamos claros, frontais e objectivos, espantou a caça foram as irresponsáveis, e completamente descabidas, declarações desse grande amigo de Inês Serra Lopes, Adelino Salvado esse mesmo, que é o  Director Nacional da Polícia Judiciária a dois diários a informar tudo e todos que o processo que originou o "Apito Dourado" era derivado de uma certidão extraída de um processo maior.

Foi isto, e nada mais, que pôs tudo e todos em alerta máximo. E é esse facto que indigna os muitos profissionais da PJ e do MP que no terreno, e não nos gabinetes a marinar, correm agora sim o risco de ver o seu trabalho ir por água abaixo.

Adelino Salvado pura e simplesmente traiu-os!

É por isso que as declarações de Adelino Salvado devem ser investigadas até às últimas consequências até porque nada nos garante que elas tenham sido um acto furtuito e impensado. "Afinal os maus profissionais tem que ser responsabilizados pelas actuações", e "não são aceitáveis desculpas dadas em off the record" lembrando as especificidades do personagem.

Inês Serra Lopes não perde oportunidade de dar a habitual bicada em Souto Moura e no MP, mas não em todo o MP, apenas a cadeia de comando directa que vai de Souto Moura ao Procurador de Gondomar. Nas páginas interiores o Indy é mais simpático para o DCIAP que é suposto arcar agora com o Processo (se calhar por não ter arcado até agora é que tudo correu tão bem).

Sobre Inês Serra Lopes e Adelino Salvado estamos conversados, sobre Cândida Almeida - coordenadora do DCIAP - espera-se que se demarque, e muito rapidamente, destas manobras de diversão, e não deixe qualquer réstia de dúvida que possa existir entre elas e a sua pessoa, sobre pena de ser cúmplice ojectiva de, mais uma, farsa.

Está na hora de exigir explicações! O estado de impunidade em que uns quantos continuam a julgar que podem manipular tudo e todos tem de acabar para bem da Democracia, para bem de Portugal.

Ah, e sabiam que O Independente está à venda ?

Publicado por Manuel 03:15:00  

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