tristes sinas ...
quinta-feira, março 18, 2004
Durão Barroso nunca fez questão de ficar conhecido pelo seu particular brilhantismo intelectual (para quem quiser passar o tempo a leitura da sua tese de Mestrado é um must), fez mais questão de se passar por um resistente, um sobrevivente à espera da sua hora. E a sua hora, contra as espectativas de muitos e de mim próprio, chegou mesmo faz hoje precisamente dois anos.
Infelizmente para o País a eleição de Durão Barroso não representou a concretização dos anseios de todos aqueles que não se reviam nem nos métodos nem nos resultados da era guterrista. Por muito custoso e penoso que seja a um militante, com cotas e dia e tudo, do PSD dizer isto, o facto é que globalmente não há diferenças qualitativas para melhor deste Governo em relação aos de Guterres. Durão Barroso desbaratou o capital de confiança que os portugueses nele depositaram, chefia um Governo que é manifestamente o pior em que alguma vez o PSD esteve metido e mais grave do que isso arrisca-se não só a enterrar-se gloriosamente como a levar consigo todo o PSD.
Enquanto ente único este Governo não existe, é uma agremiação de interesses, muitas vezes divergentes, sem rei nem roque. O último rally entre Arnaut e Morais Sarmento para ver que ficava com os galões de falar na vez desse case study chamado Figueiredo Lopes é a todos os títulos paradigmático.
Barroso arranjou maneira de se tornar refém não só de Santana e de Portas como de sí próprio e da imagem que em tempos de sí criou.
A última de Barroso é marcar o Congresso Ordinário do PSD para poucas semana antes das eleições europeias. Piedosamente, a Lusa tem o cuidado de dizer que "Esta decisão foi tomada à cerca de dois meses com o conhecimento do vice-presidente do partido Pedro Santana Lopes", é mentira mas afinal é para isso que serve o Delgado...
Barroso persiste no erro, primeiro desvalorizou as europeias e agora teme ser vítima delas.
A marcação deste congresso, neste timing, é dos actos de maior cobardia política de que há memória em Portugal. Um acto reles e rasca, mesmo pela bitola de princípios que rege esta liderança social-democrata. Barroso sabe, e muito bem, que é no mínimo complicado discutir o quer que seja em plena campanha eleitoral já que facilmente, e no calor da campanha, se será acusado de traidor. Dizer-se que Barroso apresentou ainda uma razão emocional para a convocação do congresso antecipado - «Apetece-me ouvir as bases do partido» é assim do mais puro humor negro, cinismo e vigarice intelectual. Barroso quer só e apenas pôr todo o Partido a bajulá-lo em Congresso numa tentativa pimba de num futuro muito próximo evitar ter de ouvir vozes críticas.
Pior, Barroso não percebe nada de calendários. Após as Europeias temos Autárquicas, Presidenciais e Legislativas por esta ordem. Destas, as Autárquicas e as Legislativas são claramente partidárias, as Presidenciais não. Ao dar trela a Santana, logo à questão presidencial, não só acabará, em qualquer cenário, apunhalado por este, como complica seriamente as espectativas do PSD para Autárquicas ou Legislativas, senão para estes dois actos eleitorais.
Há duas almas que se devem estar a rir a bandeiras despregadas, Marcelo que é menino para ter sido ele a sugerir a antecipação a Barroso, e Cavaco Silva a quem quanto mais distanciado aparecer deste PSD melhor.
Quanto ao País é uma triste sina ver Ferro, que se tivesse uma réstia de dignidade e honorabilidade já se tinha demitido há muito, de um lado e Barroso, Portas e Santana do outro. Manifestamente este País, e o PSD, merece mais e muito melhor.
P.S. 1. Em tempos recentes houve alguma algazarra por causa de uma rusga da PJ a pedido da Autoridade para a Concorrência, à sede da Portugal Telecom. De repente deixou de se ouvir falar no caso. Ora ninguém na PJ foi corrido, Abel Mateus continua na Autoridade para a Concorrência e não há nenhuma acusação formal à PT. Em suma a tal rusga parece que nunca existiu. Será que Ricardo Espirito Santo manda em Portugal ?
P.S. 2. Sem serviços de informações, Portugal passa o vexame de serem países terceiros a fazerem em território luso o que deveria ser da estrita competência nacional. Uma das últimas prosas do SIS sobre terrorismo era tão pungente que a única coisa para que serviu foi para, na DCCB, fazerem F-16... de papel.
P.S. 3. O Caso Casa Pia prepara-se a todo vapor para regressar ao prime-time. Van Krieken, sem livro, já regressou à antena, num ajuste de contas freudiano com o Expresso, e nos locais do costume foram por estes dias entregues bastantes "caixotes", com tudo devidamente anotado e comentado com a objectividade habitual.
P.S. 4. Aguardam-se comentários e reações por esse mundo fora ao comunicado enviado ao jornal «al-Quds al-Arabi» e no qual a al-Qaeda apela às suas brigadas para suspenderem os atentados contra civis em Espanha e ameaça os «servos da América» com atentados semelhantes aos de 11 de Março. «Deixámos o povo espanhol escolher entre a guerra e a paz. Ele escolheu a paz elegendo o partido que se opôs à aliança com a América na guerra contra o Iraque», indica o texto assinado por: «Brigadas Abou Hafs al-Masri/al-Qaeda»
P.S. 5. A não perder a prosa do Lopes no DN. Concertada com Barroso evidement
P.S. 6. Ainda no DN Mário Soares afirma que fim do terrorismo passa pelo diálogo, diz que é impossível esmagar todos os terroristas pelo que a negociação é via a seguir. Eu por mim, não fosse o desconto dada a idade, mandava-o já negociar com o Bin Laden...
P.S. 7. Enquanto aquí se fala de gatos o gato preto mudou de casa. Dois blogs a seguir.
Publicado por Manuel 00:53:00