Via Rua da Judiaria, que cita o contra a corrente, pode ler-se ...
Observação n.º 3: os suicidas palestinianos não são meros civis que, face às dificuldades, decidiram um dia, por livre iniciativa, rebentar-se a si próprios e ao maior número de israelitas. Se assim fosse, Africa e outros pontos negros do planeta seriam locais preferenciais para que este tipo de acções florescesse. Os atentados terroristas palestinianos têm uma marca política. São alvo de organização e de uma propaganda que incita à morte e ao ódio pelo seu semelhante. Eis um aspecto que ainda não entrou na cabeça de muito gente.
Perceber o terrorismo é uma matéria complexa a que normalmente se foge com maior ou menor habilidade resvalando-se sempre para o politicamente correcto, para uma certa visão civilizacional e moral global que todos é suposto partilharem. A partilha desse ethos global, versus um pathus local, seria pois o sacrossanto remédio para todos os males. Infelizmente a história mostra-nos que os grandes, os maiores até, disparates foram sempre feitos exactamente em nome e para (tentar) implementar o tal ethos global. Acresce a isto uma outra problemática e que é nova.
O core de um conflito, de um diferendo, de uma seita, de uma etnicidade, não tem de estar - agora - necessáriamente ligada a um determinado local geográfico. Agora graças às maravilhas da revolução tecnológica, pode estar disperso globalmente à escala planetária. A primeira amostra foi o suícidio colectivo dos membros da seita do templo solar, há já alguns anitos, que não se conheciam maioritariamente entre sí e que comunicavam, e existiam essencialmente sobre a forma de comunidade virtual.
Para se compreender melhor o fenómeno, cada vez mais preocupante, há duas obras imprescindíveis e que a meu ver, vale a pena ver com muita atenção.
A primeira é um filme sul-coreano, chamado "2009 - Lost Memories", onde sobre uma capa de um thriller competente, misto de ficção científica, se apresenta uma das visões mais vendáveis da justificabilidade da actividade estritamente terrorista. O que é interessante, e perigoso, na obra é a forma como acções - que a seco - são de terrorismo puro e duro, são, no devido contexto, apresentadas como os mais nobres dos actos e logo perante o tal ethos global. Definitivamente uma obra a não perder.
A segunda obra a ler com muita atenção, é a última prosa, já aquí referenciada, de John Le Carré - "Absolute Friends". Sem ser um livro de espionagem puro e duro, longe disso, sem ter grande acção , grande parte da obra ocorre em flashback, é talvez das obras mais fascinantes dos ultimos tempos. Os soldadinhos de chumbo como Nuno Rogeiro, ou Jaime Nogueira Pinto desprezá-lo-ão como antí-americano, os idealistas do BE como demasiado subversivo para o seu próprio gosto, se calhar é apenas demasiado realista...
Publicado por Manuel 18:35:00
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