acerca da cultura geral
domingo, novembro 23, 2003
Tambeu eu lí as declarações de Freitas do Amaral a pedir uma disciplina de cultura geral nos currículos. Por respeito não ao personagem, não à memória do mesmo mas à memória da imagem que em tempos tive do professor estive tentado a passar ao lado. Mas já que Francisco José Viegas pegou no assunto talvez valha a pena contextualizar a proposta de Freitas num plano mais vasto.
E esse contexto mais vasto é o contexto do politicamente correcto.
A Freitas não preocupa que o nosso sistema de ensino prepare analfabetos funcionais que achem que Afonso Henriques é o nome de um avançado do Vitória de Guimarães, o que realmente preocupa Freitas, e que está subjacente à sua proposta, é a noção de que o Estado por via da escola, por substituição à família e à Igreja, em maior ou menor decadência, deve incutir nos miúdinhos, qual catequisador, uma série de verdades e axiomas sobre o mundo. A essas verdades e axiomas deu Freitas o nome de "cultura geral". É a nova "Religião e Moral" do politicamente correcto.
É politicamente correcto detestar Bush e abominar Sharon, como é politicamente correcto ver a história do Médio Oriente a preto e branco. É politicamente correcto abominar e descriminar os fumadores (nem que os aumentos estratosféricos do preço do tabaco levem, como já acontece em França, a assaltos a tabacarias a fazer lembrar os tempos da lei seca). É politicamente correcto defender o consumo de drogas leves, e despenalizar o das pesadas, assim como defender salas de chuto, até nas prisões (pedindo a demissão última do Estado) mas já é politicamente incorrecto defender pura e simplesmente a nacionalização da distribuição, controlo de qualidade e consumo das mesmas pelo Estado (acabando assim com toda a criminalidade inerente e com o tráfico)
O problema com a proposta de Freitas, como com as propostas politicamente correctas em geral, é que por serem generalistas em demasia e quererem impôr uma certa vontade acabam por minar, em última instância, a individualidade, e o direito ao livre arbítrio e liberdade individual de todos e cada um.
Talvez o sonho de Freitas seja incutir, implantar como no Blade Runner, uma certa visão do mundo quase que de nascença na memória de todos. Não é preciso ter lido o Fatherland para se saber que uma coisa destas só poderá acabar mal.
E depois, porquê ficarmo-nos pela cultura geral, pela memória perfeita? Porque não também genes perfeitos ? ...
Notam um padrão ? eu também ...
Publicado por Manuel 03:32:00