Dois tempos























À esquerda, o exemplar da Time de 5.11.1973, onde na página 11 e seguintes, se escreve sobre os "sonhos desagradáveis" do Portugal prè-25 de Abril, pela pena anónima de Martha de la Cal. Aí, nesse escrito publicado na revista que por cá se vendia livremente ( e eu comprei-a ,como se comprova), dizia-se, entre outras coisas que o regime marcelista não cumpriu as promessas de abertura política que surgiram cinco anos antes ( precisamente em 1968, faz agora 4o anos), com a queda de Salazar e a sua substituição no poder executivo.

Uma das afirmações mais impressionantes e que parece andar muito esquecida nos tempos que correm, é a de que Portugal gastava na época, com a guerra no Ultramar, nas colónias, entre 35 a 40% do Orçamento ( budget). Além disso, dava-se conta de cerca de 1 600.000 portugueses emigrados. Balsemão, citado na revista, dizia que Portugal estava atrás de todos os países, em todos os indicadores económicos- "só a Albania competia connosco" segundo o então director do Expresso.
Passados quase outros 40 anos, estamos...na mesma? E Balsemão, não é o militante nº 1 do PSD? Que dirá o tipo destas coisas, agora?

À direita, um número da mesma revista, de 25 deFevereiro 1974, no qual se dava conta, da expulsão da então União Soviética, e deportação para a Suíça, de Alexandre Soljenitsine, por determinação do Soviete Supremo e por causa de "actividades incompatíveis com a cidadania soviética". O problema de Soljenitsine eram os livros, particularmente o Arquipélago Gulag, publicado primeiro em Paris, no início dos anos setenta e que constitui um requisitório contra o regime comunista de Lenine e Estaline.

Curiosamente, o seu primeiro livro, Um dia na vida de Ivan Denisovitch, de 62, foi até aplaudido no tempo da sua publicação, na União Soviética de Krutshev e por causa da desestalinização. Dez anos depois, já nos anos setenta, após a queda de Krutschev, começou a perseguição política. Dura. Implacável e que culminou com a expulsão do país. Soljenitsine morreu no Domingo, na sua Rússica natal.

Naquele número de Novembro de 1973, ainda havia espaço para mencionar o caso Sakharov, outro perseguido pelos soviéticos, igualmente por causa de críticas à repressão do regime comunista.

A diferença entre estes dois números da revista e a situação portuguesa vivida antes de 25 de Abril de 1973 e a da União Soviética na mesma época, aparece, com toda a evidência dos factos indesmentíveis: a revista Time, mesmo aquele número onde se criticava o regime de Caetano, mesmo com Censura ainda vigente e vigilância da DGS, herdeira da Pide de Salazar, permitia a venda destas revistas estrangeiras, em quiosques, acessíveis a qualquer pessoa. Comprei esses números em quiosques públicos. A revista custava então, 17$50 em Novembro de 73 e já custava 20$00 em Fevereiro 74.
Na União Soviética, na mesma época era virtualmente impossível ler ou comprar a Time. Ou outras revistas ocidentais.
Para os comunistas portugueses de 74, essas diferenças eram irrelevantes. Aliás, continuam a ser.
Sinais do Tempo... (basta clicar nas imagens para ler).



























Publicado por josé 22:37:00  

3 Comments:

  1. Luís Bonifácio said...
    É estranho não é!

    Espero nesta semana mostrar mais umas revistas que em 1961 podiam ser compradas num qualquer quiosque Português.
    josé said...
    Mesmo estranho, é como um simples comentário, consegue duplicar um postal!

    Vou ter que apagar o outro.
    Anónimo said...
    Pío Moa ha recopilado los insultos que recibió Soljenitsine en marzo de 1976, tras ser entrevistado en la TVE española, de parte de autores de izquierda españoles.......

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