O jornalismo de palpite
sexta-feira, julho 18, 2008
Os quatro principais réus do julgamento – Velentim Loureiro, José Luís Oliveira, Joaquim Castro Neves e Pinto de Sousa- serão hoje condenados pelos juízes, sabe o 24 Horas.
Sabia nada. Palpitou o saber, apenas. Apostou na hipótese provável, segundo a opinião do seu director. Baseada em argumentos plausíveis, recolhidos junto de advogados, segundo se lê na notícia de dentro do jornal. A prova? Castro Neves, foi absolvido.
O 24 Horas, sobre assuntos judiciários, raramente sabe de alguma coisa que mereça a pena publicar, como notícia verdadeiramente interessante. Vai sabendo meias verdades, mentiras inteiras, manipulações de factos e causas e publica na primeira página o que o seu director excelentíssimo, Pedro Tadeu, entende como merecedor de destaque, sempre em nome da “verdade, verdade, verdade” que em tempos disse cultivar como valor supremo.
Se eu escrever aqui que Pedro Tadeu é um tonto, estarei a ofendê-lo? É provável, por isso não escrevo como afirmação, nem como hipótese. Coloco apenas a dúvida que me surge, ao ler notícias deste calibre, de peso idêntico ao do célebre envelope nove. Uma manipulação noticiosa, com ofensas graves a figuras do Estado, como era então Souto Moura.
E em nome de quê e de quem?
Money, é uma hipótese. Vender jornais é sempre um objectivo de quem não chega à meia centena de milhar de exemplares vendidos e tem muitas bocas a alimentar numa redacção. Mas, ainda assim, valerá tudo?
Para este jornalismo sem qualidades, a verdade é o que parece a quem escreve?
Apesar da notícia de primeira página, afirmativa, sem qualquer rebuço de dúvida, da condenação de Valentim, José Luís Oliveira, Castro Neves e Pinto de Sousa, o editorialista Pedro Tadeu, escreve que a sentença de Gondomar será a “provável condenação da maioria dos arguidos”.
Provável significa a dúvida que a primeira página não suporta, como verdade, verdade, verdade, mas apenas como hipótese. Uma notícia deste calibre, deveria ser apresentada como hipótese e não como certeza da verdade, verdade, verdade.
Pedro Tadeu, se foi ele a escrever o título é um mentiroso e esta é que será a verdade, verdade, verdade. Que para Pedro Tadeu, neste como noutros casos ( envelope novem, por exemplo) , vale geralmente um tostão furado.
Outro pormenor que não passa do anedótico, mas sustenta uma perplexidade:
Na notícia de primeira página, a palavra “réus”, escreve-se para designar os arguidos em julgamento. Vinte anos depois do Código de Processo Penal ter introduzido a modificação designativa, para o titulador do jornal, ainda vale o mesmo substabtivo antigo e vindo de 1929: Réu, ficou na mentalidade particular como a designação exacta de quem responde em julgamento por crimes acusados.
É deste tipo de jornalismo, desta exactidão e rigor que vive o 24 Horas, em muitas notícias que vou lendo, todos os dias.
E um último, como epílogo deste Apito Dourado:
Para resultados destes, não vale a pena fazer investigação criminal. Ocupar milhares de horas, em trabalho de investigação mal feita, de resultados temerários e com objectivos indefinidos. Não vale a pena olhar para o que se passou de grave, neste processo de enormidade mastodôntica, e relembrar as carências de meios de quem investigou, de quem preparou o julgamento, de quem sofreu consequências profissionais graves por causa disto ( Os investigadores da PJ, Teófilo Santiago e P. Massano, por exemplo). Não vale a pena relembrar que o magistrado do MP encarregado do processo, no início esteve completamente sozinho na orientação da investigação, por omissão, então e nesse tempo já recuado, de quem de direito.
Importaria agora fazer um balanço geral deste processo e das implicações que teve e continuará a ter na vida pública portuguesa.
Este processo merecia um livro. De tomo. Haja quem o escreva. Estou tentado, mas não tenho tempo.
Publicado por josé 12:45:00
Pergunto - deveria ou não existir um raciocínio de custo-benefício na orientação das investigações criminais?
Numa banca, o 24 Horas, não atinge apenas os que compram o jornal e que são poucos. Atingem o leitor desprevenido que toma á letra, muitas vezes o que lê.
É só por isso que dou importãncia, porque a tem, a meu ver.
Quanto ao que diz sobre o custo/benefício, não lhe chamaria assim, em linguagem tecnicamente economicista, mas compreendo perfeitame3nte o que pretende dizer e concordo completamente.
Uma operação destas, deveria fazer-se com um grupo de pessoas, a analisar estratégias e tácticas.
Esse grupo de pessoas, deveria envolver o procurador directamente envolvido no caso, com o Inquérito a seu cargo; o procurador do círculo respectivo; o procurador distrital e ainda o geral em certos casos. JUntamente com os invesrtigadores da PJ que a faziam na prática e até o Juiz de Instrução, nos casos em que tal implicasse a decisão sobre escutas, buscas, etc.
É assim que funcionam as coisas em países desenvolvidos ( Itália, Espanha e até a França, pós Outreau).
Aqui, na fase inicial nada disto aconteceu. Depois, aconteceu tudo, quando já não havia remédio para certos erros, a meu ver.
Um pormenor caricato, neste caso: o procurador adjunto de Gondomar, precisava de de um carro para se deslocar em serviço.O ministério da Justiça, deu-lhe um passe social...
Está tudo dito.
há não muito tempo fiquei lixado com uma peça que escreveram na revista que tb sai à 6ªfeira, nem sequer autoria tinha, foi apenas uma espécie de copy paste da popular mechanics e para mais não foi, como é habitual, uma peça o minimamente isenta.
escrevi sobre o tema no meu blog, tipo carta aberta ao 24h, enviei mail ao sr todo poderoso e infalivel Tadeu, mas nunca teve a hombridade de pelo menos responder, nem que fosse para me insultar.
http://ovigia.wordpress.com/2008/05/04/resposta-a-artigo-do-jornal-24horas/
cumps,
rjnunes
É um Vital Moreira, reciclado no jornalismo e vieram do mesmo viveiro, aliás: o PCP.
Estas pessoas não passam cartão a quem as incomoda nas certezas que têm. E nunca mudam um milímetro na trajectória profissional ou pessoal.
Estão intimamente convencidos da superioridade das suas atitudes e por isso, deprezam completamente quem lhes aponta as asneiras que nunca reconhecem, aliás.
Levam, pois levam.
O único modo de defesa que conhecem, é o insulto explícito.
Chamar nomes feios, por vezes subtis; por vezes de uma indignação de honorabilidade ferida, sem se darem conta da suprema ironia que representam os seus insultos, para quem foi por eles insultado.