C de Calinada

O sr. Presidente da República, a fazer fé nos jornais, depois de regressado de uma ex-colónia, em 'estado de choque' com a 'violência' nas escolas, chamou, ou vai chamar, o sr. Procurador Geral, para uma conversa de pé de orelha. Entretanto, o mesmo PGR, sorridente e babado, pôs-se - durante o fim de semana - em bicos de pés, puxando dos galões por, há uma série de meses ter falado na violência nas escolas como uma área de intervenção prioritária da... PGR.

Infelizmente nem Cavaco, nem o tal senhor sorridente, do Palácio de Palmela, perceberam ainda a dimensão - real e verdadeira do problema. Em 99,9% dos casos não é um caso de polícia, ou - sequer de associação criminosa, ponto. São somente casos gritantes de falta de educação, civismo, valores e princípios, que os jovens não recebem em casas das famílias, e que a escola - e a classe docente - não sabe, e não está preparada - e vocacionada - para dar.

Ao fazer a figura que fez - avalizando a vaidade fútil de um PGR que pura e simplesmente não percebe qual o papel de uma magistratura e de um Ministério Público - Cavaco demonstra que pelo menos numa área - nos últimos 25 anos não apreendeu, nem evoluiu rigorosamente nada - A educação foi a sua mancha original no cavaquismo, e continua a sê-lo - agora. Mais, a prazo, Cavaco só contribui - en passant - para a degradação da imagem que a sociedade tem na Justiça -
ao assacar a esta uma responsabilidade que é - para variar - de facto impossível de cumprir.

Pior, adia uma reflexão séria e urgente - sobre este modelo de sociedade, e de família, que (não) educa os alunos que temos, alimentando a ilusão de que tudo não passam de meros casos de polícia, quando muitas vezes - por absoluta (in)acção e omissão os responsáveis primeiros são os pais, que pura e simplesmente se demitem das suas funções e aqueles que modelam um sistema educativo, o qual - pura e simplesmente - não esta adaptado àquilo que é a realidade dos dias de hoje...

Publicado por Manuel 11:21:00  

6 Comments:

  1. Jorge Oliveira said...
    Pois, pode ser isso, mas a verdade é que as divagações finais do caro Manuel também não resolvem nada. Quando num problema concreto se invocam generalidades, como a de que os responsáveis primeiros são os pais, estamos no campo da conversa fiada.

    Se, por exemplo, os donos dos hipermercados viessem para os jornais queixar-se da falta de educação dos clientes que os roubam que se fartam, até podiam suscitar o apoio, a compreensão e vários artigos inflamados de colunistas e bloguistas de serviço, mas ficavam exactamente na mesma.

    Em vez disso colocaram dispositivos anti-roubo nos produtos e pórticos de detecção.

    Se ainda não fui entendido, a mensagem é esta : deixemos o campo da filosofia e passemos ao campo das aplicações práticas.

    Para começar : restaurar o sistema de faltas disciplinares com direito a reprovação e a expulsão da escola.

    E para continuar : acabar com o ensino público obrigatório, para além dos cinco ou seis primeiros anos, durante os quais os pequenos bárbaros devem ser obrigados a aprender a ler e a escrever, em português e inglês, e a fazer contas, com obrigação de memorizar a tabuada.

    Depois disso, escola pública sim, gratuita, disponível, mas para quem quer e para quem sabe comportar-se decentemente. Se não sabe, escola privada, paga pelos paizinhos, que também é bom.

    Eu é que não tenho de pagar, com os meus impostos, a não educação de toda aquela chungaria que vai para a escola fazer daquilo um campo de batalha.

    Difícil de aceitar? Só para pseudo intelectuais de esquerda, tipo socialistas que ainda nos governam.
    josé said...
    "Para começar : restaurar o sistema de faltas disciplinares com direito a reprovação e a expulsão da escola.

    E para continuar : acabar com o ensino público obrigatório, para além dos cinco ou seis primeiros anos, durante os quais os pequenos bárbaros devem ser obrigados a aprender a ler e a escrever, em português e inglês, e a fazer contas, com obrigação de memorizar a tabuada. "

    Nenhuma destas medidas, necessita de intervenção do Ministério Público ou da PGR...
    Manuel said...
    Ao primeiro comentador - ver o comentário que se lhe seguiu...

    Quanto ao resto - http://grandelojadoqueijolimiano.blogspot.com/2006/02/prioridades.html
    http://grandelojadoqueijolimiano.blogspot.com/2005/07/exames-nacionais-para-os-professores-j.html
    http://grandelojadoqueijolimiano.blogspot.com/2005/06/um-caso-de-sucesso-educativo.html
    homoclinica said...
    Certo! A tese deste post é "Isto não é competência do PGR" Concordo.

    Outro problema é: Como resolver ou melhorar a situação?

    Aí é que está o problema principal.

    Não sei a solução exacta. Só sei que não se educam crianças ou adolescentes deixando impunes todas as coisas erradas que fazem.
    Isso é elementar. Até funciona assim na educação dos cães e dos cavalos. O treino baseia-se no binómio prémio/castigo.

    Não basta a "falta de educação, civismo, valores e princípios, que os jovens não recebem em casas das famílias", como também o ministério dificultar de todas as maneiras possíveis e imaginárias que os professores imponham a disciplina duma forma imediata e eficaz. A quantidade de burocracia que é preciso para castigar ou para reprovar um aluno é simplesmente um incentivo criminoso à indisciplina, ao regabofe e à balda.
    Qualquer pessoa sabe que estudar dá trabalho. Se os meninos soubessem que se não estudassem teriam de ir limpar o que os outros sujam, talvez se aplicassem mais.
    Mudar de escola não é castigo nenhum. Aliás os alunos daquelo turma do 9ºC eram transferidos doutras escolas, por mau comportamento e veja-se como continuam mal educados ou pior.
    Este sistema de permissividade é profundamente deseducativo.
    Não funciona com a natureza humana.
    Rui Diniz Monteiro said...
    Entrevista a Arturo Pérez-Reverte:

    "-Cuando antes se proclamaba jacobino, usted dijo que creía en una educación...

    -Férrea y medieval. Y el que no quiera estudiar, a trabajar: a ser un dignísimo fontanero, un dignísimo albañil, un dignísimo agricultor. La educación debe ser accesible a cualquiera, pero cuando estudias, hay que esforzarse.

    -La manifestación del sábado 12 denunciaba problemas tan graves como la pérdida de la moral del esfuerzo, la idea de que estudiar debe ser un juego, la indisciplina o la pérdida de autoridad de los profesores. ¿Qué piensa de ello?

    -El maestro debe inspirar al alumno temor y respeto.

    -¿Y admiración?

    -La admiración va incluida. El maestro es alguien superior que tiene un conocimiento superior y lo transmite a los alumnos. Ésa debe ser la base. A lo mejor ésta es una concepción que ya no tiene que ver con la realidad, pero es en la que creo."
    José Senra said...
    Mas 4 palmadas bem dadas e na hora não acabariam com todo este alarido?Judicializar o ensino será a solução?

Post a Comment