Um retrato de Sócrates em azulejo com marquise de alumínio


"Portugal...país engravatado todo o ano que se assoa à gravata por engano"- Alexandre O´Neill.


O Público de hoje, seringa José Sócrates, com uma reportagem de três páginas, com chamada na primeira e abertura de notícias de rádio, logo pela madrugada. O motivo, são as velhas oportunidades de arranjos técnicos em projectos alheios, em câmaras de província, em época de vacas magras de empregos remediados.



Anos oitenta, de 81 a 87, numa qualquer câmara das Beiras ou até deste Portugal inteiro, mas no caso concreto na Covilhã, um jovem engenheiro técnico ( bacharel até ver), chamado José Sócrates, trabalhava nos quadros camarários, enquanto exercia em regime de profissão liberal, “por fora”, dentro da forma da lei. Nos tempos livres, era responsável pela “distrital “ do PS de Castelo Branco.
Que fazia o engenheiro técnico José Sócrates, na Câmara e fora dela? Analisava e assinava projectos de construção civil, memórias descritivas, cálculos de betão, fazendo estimativas de custos, para munícipes públicos e clientes privados.
Alguns desses clientes privados, ao que parece e o Público assinala, nem o conheciam e eram de municípios vizinhos, no caso, da Guarda, onde outros engenheiros técnicos, elaboravam mas não podiam assinar os "projectos". O vizinho mais próximo, ajudava então, num porreirismo ambiente.
A aldrabice exarada no artigo do Público, tem mais de vinte anos, não constitui qualquer crime ( Costa Andrade, acrescenta apenas que revela uma “inquestionável carga ética negativa”) e revela também a natureza do poder autárquico que temos e que – note-se bem!- não sofreu qualquer mudança significativa, desde então.

Onde reside então o problema, desta vez?
Nisto que se ponta como exemplo ético e que toda a gente aplaude, mas nem todos seguem, na prática:

No ano passado, foi notícia mundial que Marilee Jones, responsável das admissões no prestigiado M.I.T.americano, demitiu-se das suas funções porque se descobriu, ao fim de 28 anos que tinha então falsificado, aldrabado, as suas qualificações académicas, quando se candidatou a um lugar no prestigiado MIT. O lugar era de baixo e quando se encontrava em cima, Marilee, pediu desculpa pelo erro, assumiu-o e abandonou as funções.

O MIT, recorde-se, era o paradigma da excelência, na altura da parolice das Novas Fronteiras, seringado em modo serôdio, já se sabe por quem.

Depois das comprovadas aldrabices na UnI, atribuídas aos responsáveis desta unidade de ensino superior entretanto encerrada por motivos óbvios, José Sócrates é apanhado outra vez, com as calças na mão, nestas moscambilhices velhas de mais de vinte anos, mas com recorte de “inquestionável carga ética negativa”.
O problema, neste como no outro caso da licenciatura, não era flagrantemente criminal. É antes, um problema grave, mas de âmbito ético-político e que serviu para testar os limites da complacência política dos órgãos de Estado, em Portugal e da opinião pública que se manifesta por causa das urgências da Saúde, mas encolhe os ombros a estas carências bem mais sérias, porque determinantes das outras.


Ficou provado à saciedade, como eventualmente vai voltar a suceder, que Portugal não tem, nem sequer oficiosamente, os padrões éticos de outros países, de outros lados civilizados. Abandonou-os, se é que alguma vez os teve, algures no final do século passado. De repente, um ministro pode-o ser, mesmo com um processo judicial às costas, por responsabilidade civil para com o Estado. Pode-o ser, mesmo com suspeitas de ter em tempos passados, pressionado ilegitimamente e de forma grave, um outro poder do Estado. Os limites éticos alargaram-se a novas oportunidades.
Assim, no caso do ciploma, o presidente da República, desvalorizou. Vinha ali a Cimeira, já a seguir e Portugal não podia ficar mal visto.


A Assembleia da República desdramatizou e tamborilou o assunto para a trica do costume e até há suspeitas de que se conluiou na aldrabice do certificado duplicado e apócrifo.


A PGR desvalorizou outra vez e arquivou, sem se saber o que investigou ao certo.


A opinião pública dividiu-se: os apoiantes de partido e adjacentes cargos de Estado, assobiaram para o lado ou invectivaram os invejosos e maledicentes, politizando logo a questão e levando-a para o campo da luta política, onde as regras são outras.
Os outros, resignaram-se a aceitar um Estado que aceita e acoita alegremente, estes espécimes políticos que só contribuem para um maior descrédito da democracia, dos verdadeiros valores democráticos e que se alaparam à sombra do Estado, de há muitos anos a esta parte.
Mas isso, quem é que o não sabia, já há muito tempo?

A melhor alegoria disto tudo? A imagem que aí fica, tirada da Rede, de sítio Público : uma das obras do futuro ministro do Ambiente , de Guterres...

Publicado por josé 10:57:00  

15 Comments:

  1. W. C. Fields said...
    Esta lamentável maison (e as trafulhices do seu projectista) é este Governo, este PS e este Portugal, em tijolo e betão. É o retrato mais eloquente da mediocridade, da pimbalhice, do sulfato de peúga que tomou conta deste país, sem pudor algum. É um pivete que não se pode!
    Carlos Medina Ribeiro said...
    [Aqui], decorre um concurso de legendas acerca da foto que ilustra este post...
    lusitânea said...
    Tal como na casa os azulejos são a preto e branco, també a OBRA de Sócrates no PAÍS vai resultar num mosaico étnico a cores semelhantes.
    Os pretos deste país merecem os resultados das escolhas que fazem.
    Dylan T. said...
    Então mas não tinham perdido tanto tempo a dizer-nos que o homem não era engenheiro?
    Convém não lançar a confusão nos leitores sobre as 'convicções' do jornalismo de investigação por episódios.
    Sugestão para a próxima peça de investigação do 'Público':
    - Sócrates omitiu à mãe que teria chegado a casa meia hora mais tarde em 1973 -

    Cumprimentos

    Dylan T.
    zazie said...
    Muito bem, José. Como diria o outro, a questão é essa, a da falta de vergonha na cara.

    De resto, a imagem diz tudo.

    ":O)))
    W. C. Fields said...
    Ó lusitânea, sugiro que guarde essas alarvidades racistas para si e para os seus amigos, e que não venha conspurcar ainda mais o ar.

    dylan t., quem o feio ama bonito lhe parece.
    Laoconte said...
    Muito bem. Fico "doubleproud"2 não só por aquilo que o pm fez, mas mais ainda pela complacência política dos órgãos de Estado, que são "muito fracos no forte".
    lusitânea said...
    RockyBalbino disse...
    Ó lusitânea, sugiro que guarde essas alarvidades racistas para si e para os seus amigos, e que não venha conspurcar ainda mais o ar.

    Meu
    Racismo onde?Não sou Português com direito a opinião?Não tenho liberdade de expressão?
    Bairros sociais em Portugal com o nome de Amilcar Cabaral?
    Uns gajos que nos fazem uma guerra com o apoio interno pelos vistos de meio mundo só por lá terem umas dezenas de brancos e agota temos que cá ter aí uns 60000 , a maioria por conta do OE?Se é para ser assim quero deixar de pagar impostos.Multiplica com as outras situações e explica-se boa parte do nosso empobrecimento, endividamento de câmaras, etc.Se denunciar e tentar contrariar isso é racismo, então está bem.Eu deixo de falar, desde que as finanças deixem de me chatear com estas boas acções.
    Para a próxima tem mais cuidado a colocar carimbos porque certamente não andamos a guardar cabras juntos...
    W. C. Fields said...
    Até da cor dos azulejos das maisons do PM vocês, racistas, conseguem estrair uma teoria racista e culpar os "pretos". Tem paciência, meu amigo, mas essa da liberdade de expressão para os racistas é boa para Pintos Bastos e Mários Machados. Comigo não cola. E tens razão, não andámos a guardar cabras juntos.
    W. C. Fields said...
    "extrair", 'tava estraído...
    lusitânea said...
    RockyBalbino disse...

    Vê-se que a veia progressista te tolda a mioleira.Eu dou esmola a quem quero e não passei procuração a ninguém para o fazer em meu nome.
    Os esquerdista que nos desgovernam desde 0 25/4, esses "libertadores" de povos é que são racistas.Separaram brancos e pretos que antes eram portugueses.
    Pois esses "libertadores" de povos oprimidos, muito dos quais antes do 25/4 eram traidores, preto no branco, nada fizeram para que centenas de milhar de pessoas não fossem espoliados dos seus bens.Nem levantaram um dedo.
    Quem veio naquela altura e optou por ser português, tudo bem.Agora passados anos e anos haver uma "invasão" de portugal por parte daqueles que nos fizeram guerra a querer a nacionalidade de volta só porque nós pagamos?
    A câmara de Lisboa está na falência por causa de bairros sociais, muitos dos quais para dezenas de milhar que são africanos chegados recentemente porque português dá casa , mesa e roupa lavada.Mas não é só em Lisboa...
    Mas o principal é que onde está a lógica da batata?Em áfrica exploradores e aqui mãos largas?Com os mesmos gajos a mandar?
    Estes governantes que aproveitaram em bom tempo as justas lutas para se instalarem não têm vergonha nenhuma e os portugueses se tivessem memória mandavam-nos todos lavar o rabinho em água de malvas, antes do tratamento adequado!A eles e a quem os defendesse!Se é que me entendes...

    PS

    Olha que nunca guardei cabras
    W. C. Fields said...
    Olha, caro amigo,
    Para esse peditório já estou farto de dar. Le Pen, Pinto Coelho, essa cáfila de assassinos sortidos nem sentido faz para que se possa comentar. Para pessoas como tu há a cadeia.
    Além disso não falo grunho.

    PS

    Antes cabreiro que cabrão.
    lusitânea said...
    RockyBalbino disse...

    Este é nitidamente um agente bloquista dos que nos anda a afundar.Ainda por cima estúpido que não sabe ler.Limita-se a desfiar o rosário de imbecilidades que a propaganda lhe meteu na cabeça onde não há muitas hipóteses dum esquadrão à carga chocar com uma única ideiazinha própria...
    Laoconte said...
    Se os capitalistas e as empresas não tivessem interesse em "explorar" as antigas colónias para o seu próprio proveito, o governo, psd/pp ou ps, daria tantas regalias aos imigrantes?
    Nem sou contra a estadia deles, mas simplesmente entendo que deveriam ser os beneficiados dessa política a pagar a factura e não os contribuintes.
    Nuno Castelo-Branco said...
    E se conseguíssemos saber quem foi o autor dos projectos das casas da Fonte da Telha? São tão parecidas!

Post a Comment