A arte de se governar

"É muito simples: não é possível enriquecer com os actuais salários dos cargos políticos quando exercidos em exclusivo. E muitas funções são, por lei, exclusivas. E, por isso, não se pode médias casas, médios carros, médios barcos, médias férias, um ´trem de vida`médio, com um salário político. Não pode. Ponto. Ora quando não é lotaria, nem herança, nem bens próprios anteriores à vida política, ou a família a pagar, ou a mulher ou o homem a ganhar, é outra cosia. E essa coisa não é boa." - José Pacheco Pereira, na sua crónica da revista Sábado de hoje.
Esta evidência enunciada pelo cronista da Sábado, repetida aliás, no programa Quadratura do Círculo, perante os impassíveis colegas de debate, um deles, Jorge Coelho, com experiência larga na política e que resultou em sorte grande, economicamente e segundo reportagem antiga da mesma revista, merece comentários actuais.
O primeiro, é sobre a exclusividade. O vencimento base de um ministro, não chega aos 5 mil euros líquidos, mensais, segundo julgo ( mas pouco passará, se assim não for).
O vencimento de um presidente de autarquia, idem. É certo que estes acumulam, estragando a exclusividade, com a presidência de empresas municipais, mas até um certo limite percentual que aliás não suplanta metade do vencimento base.
Uma boa parte dos ministros dos governos que nos tem calhado em sorte, a acreditar nas delcarações publicamente devidas, entregues nos lugares próprios, é remediada. Média. Não há ministros ricos, em barda. Uma boa maioria deles depende, até, de empregos no Estado, seja no ensino, seja em empresas públicas.
Quase todos, compraram casas com recurso a crédito de habitação. Muitos deles, guardam carteiras modestas, de participações, por acções ou títulos, em empresas privatizadas ou bancos, o que já de si, levanta questões curiososa por haver tanta coincidência nesse interesse comum, em colecção de acções, como se de cromos se tratasse.
Logo, segundo a lógica de JPP e que é a do senso comum, deveríamos todos perguntar-nos como é que será possível, para quem sempre viveu da política mais partidária que pode haver, e sem formação académcia ou profissional de relevo, para além da politiquice, integrar corpos sociais de certas empresas, adquirir bens imobiliários no centro das cidades mais importantes, com valores absolutamente incomportáveis para os rendimentos publicamente auferidos e ainda como é que ainda se apresentam ao público, em eleições ou campanhas para elas, de cara descoberta e sem a mais pequena inquietação visível que alguém, um dia lhes pergunte:
mas como é que compraste esse andar ou essa casa que te custou milhões de euros se nem tinhas um sítio onde cair morto, antes disto? E como é possível teres um (ou mais ) carros de gama superior a cem mil euros, se o teu ordenado, bem contadinho com as despesas pessoais, só te admitiria passe social? Ou ainda, como consegues gozar férias, em lugares de luxo e despesas a condizer?
Estas perguntas prosaicas, podem ser colocadas a várias pessoas que estão, estiveram e continuam a estar, de há alguns anos a esta parte, "na política".
Há respostas para isto, claro. Uma delas, reside na "não exclusividade" e na possibilidade de um político manter participações sociais em empresas de cuja gestão não vê um boi, mas tem sempre lugar em aberto, ou até se cria um de propósito para a fachada.
Depois, há o caso dos professores universitários, um sector de recrutamento obrigatório para funções governativas. Nestes, também não há problema de exclusividades, enquanto exercem a profissão. Uma vez na política, adquirem o estatuto de notáveis e senadores que lhes garante os réditos acrescidos dos parecers garantidos. Basta ver a carteira de títulos e depósitos, dos últimos governantes universitários, para confirmar o fenómeno.
A seguir, há o caso dos deputados-advogados. Não sendo empresários em sentido estrito, acumulam e compatibilizam, por artifício de esperteza legal: o regime de incompatibilidades não se lhes aplica. Ou não estivessem em confortável maioria de influência, na sede do próprio poder legislativo.
Quem parte e reparte e não dá a ganhar com a arte, é posto de parte...

Publicado por josé 11:53:00  

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