O zelador


O Inspector Nunes, da ASAE, é um fiscal do Estado actual. No tempo do Estado Novo e das licenças para isqueiros, seria um implacável perseguidor de luminárias sem autorização.
Hoje, persegue os violadores do asseio, da higiene e da saúde pública, nas funções de zelador público da legislação que implacavelmente se abate sobre variadíssimos sectores de actividade privada, copiada de uma União Europeia, com tradições de normalização padronizada.

Num Portugal rebelde a regulamentos e habituado a seguir as leis como meras sugestões, conforme apetece ou é conveniente, o Inspector Nunes incomoda pelo estilo, pela atitude e pela persistência na intransigência.
Não dura muito no lugar. Ou melhor, dura até ao momento em que o chefe do Inspector Nunes, o pós-graduado em engenharia sanitária, José Sócrates, se irritar com o estilo. Já faltou mais.

A ilustração foi copiada da revista Sábado, de hoje

Publicado por josé 14:14:00  

4 Comments:

  1. Carlos Medina Ribeiro said...
    Recentemente, no seu «Retrato da Semana», António Barreto publicou uma magnífica crónica sobre este assunto intitulada «Eles estão doidos!», que pode ser lida [aqui].

    Naturalmente, não faltou quem dissesse que ele defendia a ilegalidade e a porcaria. A esses, ele responde hoje num texto certeiro que pode ser lido [aqui].
    Carlos Medina Ribeiro said...
    Mas eu acho que este assunto acabará por morrer à portuguesa - por duas boas razões:

    Primeira: Várias notícias nos têm feito saber que a burocracia tem impedido que os processos que a ASAE instaura andem para a frente. As multas não são aplicadas.

    Segundo: A melhor de todas é a de que nos dá conta, hoje, o «JN»:

    «... a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) fez chegar à Inspecção-Geral daquele organismo um pré-aviso de greve por tempo indeterminado, a partir do próximo dia 20, denunciando a falta de pagamento de horas extraordinárias».
    .
    Luís Bonifácio said...
    Espero que não dure muito.

    Inspectores que se babam pelo sucesso de ter proíbido a Galinha de cabidela nos restaurantes portugueses enquanto fecham os olhos a violações grosseiras da livre concorrência, não merecem ser respeitados nem merecem o lugar que têm.
    Carlos Medina Ribeiro said...
    «DE VEZ EM QUANDO, agrada-me ver, na televisão, programas de cozinha ingleses, italianos ou americanos. São em geral engraçados, aprende-se muito, os cozinheiros são, além de bons profissionais, pessoas cultas e divertidas. Vejo os instrumentos com que eles trabalham. Além de máquinas de toda a espécie, como as que já há em Portugal, reparo que fazem praticamente tudo em cima de pranchas de madeira, usam a mesma faca para cortar quaisquer géneros e não dispensam uma ou outra colher de madeira. Ostentam flores naturais nas suas cozinhas. E nem sempre abrem as torneiras com os cotovelos ou os pés. Estas práticas e estes instrumentos são simplesmente proibidos pelas leis e pelas autoridades portuguesas. Seremos mais rigorosos do que eles? Teremos mais cuidado?

    O QUE É CONFRANGEDOR, no que se passa actualmente em Portugal, a este propósito, é a falta de sensatez e de sentido do equilíbrio. Muitas das regras de segurança alimentar podem ser justas, outras são desadequadas. Quem se propõe aplicá-las não procura melhorar a situação sanitária, antes pretende mostrar folhas de serviço. Há, nas práticas antigas e tradicionais, muito que se pode fazer, e até ir melhorando, sem que seja necessário, de repente, eliminar procedimentos artesanais, na convicção de que são perigosos. Pisar as uvas com os pés, o que ainda se faz em numerosas quintas, poderia ser imediatamente condenado pelas autoridades. Mas não o deve ser, mais vale tentar introduzir gradualmente algumas normas de higiene nas explorações. O que já se faz. As autoridades portuguesas não querem convencer, nem melhorar ou reformar: querem mostrar quem manda!»

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    Extracto da crónica de hoje de António Barreto, atrás referida.

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