Observatório 2008 - Edwards perdeu o comboio
quarta-feira, novembro 07, 2007
A vida política tem, por vezes, destas ironias: John Edwards, 54 anos -- ex-senador pela Carolina do Sul, segundo classificado nas primárias do Partido Democrata em 2004, e candidato a vice-presidente (com John Kerry), nas eleições gerais do mesmo ano -- tinha tudo para ser uma escolha certa dos democratas. Mas é já um dado adquirido, a dois meses do início das primárias, que vai perder a corrida para 2008.
Bem preparado, com uma boa imagem em quase todos os sectores do eleitorado (tem uma taxa de rejeição muito mais baixa do que a super-favorita Hillary), Edwards seria, por certo, eleito presidente se conseguisse a investidura democrata. A questão é que, a menos que um meteorito caia nas campanha do partido do Elefante, não vai ser ele o nomeado.
Numa corrida que parece talhada a escolher um candidato inédito (muito provavelmente, uma mulher, Hillary, ou, em alternativa, um negro, Obama), John Edwards terá a vazia consolação de ser o melhor white-male entre os democratas. Isto é: se estas eleições tivessem tido os cânones de todas as anteriores em mais de 200 anos de história americana, por certo que os eleitores democratas teriam escolhido John Edwards - o melhor homem-branco entre os candidatos que se apresentaram.
O comboio da história passou, pois, ao lado de John Edwards. O que terá falhado? Quase nada. A política americana é mesmo assim. Raramente se mostra uma história com moral.
Há quatro anos, Edwards fez uma campanha pela positiva, sem atacar ninguém, puxando pelo «lado bom da América». O discurso pegou e juntou-se a uma imagem de um político «limpo», experiente mas com ar jovem e bem-parecido, e uma família recomendável.
A estratégia valeu-lhe o segundo lugar e teria tudo para que pudesse sair vencedora. Só não foi porque John Kerry foi somando vitórias inesperadas nos primeiros estados -- e acabou por angariar uma vantagem irreversível. Apesar de os estudos de preferências mostrarem Edwards melhor que Kerry, o então senador pela Carolina do Sul teve que se contentar com o posto de vice-presidente.
A derrota para Bush empurrou Kerry para o sótão da história, mas não matou as ambições de Edwards. No dia seguinte à reeleição do texano, Edwards anunciou que a sua mulher, Elisabeth Anania, também advogada, sofria de cancro da mama. Poucos imaginavam que tal informação seria tão relevante para uma nova candidatura à Casa Branca.
Sempre com 2008 no horizonte, Edwards começou a assumir-se como a alternativa mais sólida à então já esperada (e desejada) candidatura de Hillary Clinton. Mas não contaria, por certo, com o fenómeno Barack Obama, que dominou as atenções mediáticas do último ano.
Inesperadamente relegado para o terceiro lugar, tapado pelo excitante duelo, cedo criado e ampliado pelos media, entre Hillary Clinton e Barack Obama, John Edwards começou a sentir uma reprise de 2004 -- apesar de parecer ter tudo para ganhar, a vitória irá fugir-lhe de novo, escapando-lhe entre as mãos sem que, para tal, tenha cometido erros de monta.
Depois de um discurso muito ao centro em 2004, Edwards tem encostado à esquerda, insistindo nas teclas da exclusão e da luta contra a pobreza, bem como da causa ecológica. Tem, por isso, tirado alguns votos que seriam destinados a Obama, mas a verdade é que o esforço não lhe tem dado mais do que 10 a 15 por cento das intenções de voto. É pouco. Não chega.
Admirado (mas não amado, como acontece com Hillary e Obama, mais do estilo de criarem paixões) pelos democratas, respeitado pelos republicanos (muitos deles admitem votar nele em Novembro de 2008, se o candidato do GOP for Giuliani), a Edwards restará uma última esperança: que Hillary perca, inesperadamente, o duelo com Giuliani (ou Fred Thompson, ou McCain, ou Romney) em Novembro de 2008. Só isso o permitiria acalentar esperanças de ser o candidato democrata em 2012 (isto porque, como é óbvio, se Hillary for eleita presidente, será a candidata democrata em 2012, sem necessidade de primárias).
A Grande Loja termina, hoje, a ronda pelos principais candidatos democratas. Faremos, ainda em Novembro, um update do momento dos quatro republicanos com hipóteses de chegarem à nomeação, de modo a lançar, a partir de Dezembro, as primárias nos estados de arranque.
Publicado por André 00:13:00
3 Comments:
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Como sempre, impõe-se realçar a qualidade do texto , a perspicácia da análise, o interesse do tema...
No caso deste Senhor em concreto, não sei bem explicar, parece demasiadamente "fabricado" para ser perfeito.
Tendo a preferir o humano que nem sempre acerta e o assume. Por isso se esforça cada dia para se superar, e sobretudo, aquele que verdadeiramente se preocupa com os outros, porque quem verdadeiramente queira servir uma comunidade, inventa-se todos os dias e recria competências...
Um bj
Maria
- a imagem negativa duma América, onde filho sucede ao pai e esposa ao marido, isto até parece uma Democracia tipo "cosa nostra";
- com Hillary como adversária, penso que o republicano Giuliani teria muito mais hipótese de vencer.