Os protocolos
quarta-feira, outubro 10, 2007
Vital Moreira, assina hoje um artigo num jornal, o Diário Económico, como "presidente do CEDIPRE
O artigo é sobre as ordens profissionais e Vital Moreira expende considerações judiciosas sobre o estatuto e a conveniência em que o Estado estabeleça " um conjunto de regras comuns básicas sobre a organização, o governo e o funcionamento das ordens profissionais", para "definir de uma vez por todas as atribuições das ordens na regulação do acesso à profissão, pondo termo a abusos que não podem continuar."
Ora o que chama a atenção, é aquela particular qualidade de "presidente do CEDIPRE".
O que é o CEDIPRE? É um "instituto de investigação e pós-graduação da FDUC", na Universidade de Coimbra, portanto.
Para além disso, é uma associação de direito privado sem fins lucrativos, que se rege por estatutos e pela lei, com sede na própria FDUC, ou seja nas instalações da Universidade pública.
Como é que se relaciona esta associação privada, com a universidade pública?
Assim: por protocolo (!) que define a utilização de espaços, pessoas, instalações, equipamentos, e até a própria aquisição de livros. Além disso, toda a actividade académica da associação privada, deve ser aprovada previamente pela FDUC que também pode impedir actividades da associação, na escola. É também aí que se definem as contrapartidas da associação para com a escola pública. E que virão no protocolo.
Assim, a FDCU, manda nos espaços, no pessoal, no equipamento, nas instalações e nas iniciativas que a associação dispõe e exerce, no local que é da FDUC, ou seja, um local público, como é o de qualquer escola do Estado.
A Universidade de Coimbra, em face da lei, como os demais estabelecimentos públicos do ensino superior, tem uma amplo grau de autonomia, estatuária, académica, científica, pedagógica e naturalmente de autogoverno, com órgãos próprios.
É no exercício desta ampla e regalada autonomia que a FDUC e a Universidade, sustentam outras associações de direito privado sem fins lucrativos, em que participam uma boa parte dos professores da própria universidade.
Várias associações deste teor, apoiam e organizam quase dúzia e meia de cursos de pós-grauação, com duração variável e destinados a licenciados, em regime "pós-laboral", ou seja, nas últimas horas das Sextas-feiras e aos Sábados.
Quem frequenta estes cursos, de pós-graduações, paga bom dinheiro - a quem? À entidade privada ou à pública?- pela inscrição e pelas propinas.
Segundo as contas do CEDIPRE, por exemplo no ano de 2005, a maioria das despesas da associação, contabilizadas como "custos", foi para..."honorários" (sic). Isso, mesmo com altos patrocínios público-privados, obtidos por protocolo, de empresas com óbvias ligações ao Estado, como Anacom, ERSE, Banco de Portugal, Instituto de Seguros de Portugal e Instituto Nacional de Transporte Ferroviário.
Esta orgânica e esta mecânica de funcionamento dos cursos de pós-graduação, pode aparentemente estender-se às outras associações privadas que funcionam simultaneamente, nas instalações da FDUC, com pessoal da FDUC e com equipamento da FDUC, ao fim de semana e que ministram uma profusão de cursos e cursinhos de pós-graduação.
É certo que o propósito destes cursos e destas actividades é altamente louvável. Não é isso que está em causa, com esta exposição. São verdadeiras oportunidade de valorização cultural e profissional aquilo que oferecem. Mas...ainda assim, há anos que me intrigam. Cursos destes, em escolas públicas, num regime híbrido, porquê, exactamente?
Ocorre perguntar, como é que isto funciona, assim, com tanto curso e tanta gente, ligada umbilicalmente à universidade pública, agregada ao mesmo tempo em associações privadas, com as características que se conhecem e a funcionar deste modo e nesta- há que dizê-lo- promiscuidade do público com o privado que pelos vistos é vituperada em relação a certas instituições e neste caso- moita carrasco?
Directamente, então: quem é que mais ganha com isto? Os alunos? A universidade pública? Os docentes? E quanto a estes, como é que se compatibiliza a sua especial natureza de funcionários públicos, pagos pelo Orçamento do Estado, com o pagamento de "honorários", obtidos deste modo?
Quanto a estes, escusado será dizer que a ampla margem de autonomia, permite a contratação de juristas que também são profissionais de outras áreas que não o ensino, técnicos de outras profissões, etc. etc.
Estará certo, isto? Será este o ensino público que se pretende, deseja e incentiva? Que diferença fazem, neste aspecto particular e organizativo, das universidades que concedem brindes aos alunos?
Ficam as perguntas, com a promessa de retornar ao tema. Depois de saber onde e quais são os protocolos. Porque de facto, mesmo procurando, não os encontrei. Podem mostrá-los?
O artigo é sobre as ordens profissionais e Vital Moreira expende considerações judiciosas sobre o estatuto e a conveniência em que o Estado estabeleça " um conjunto de regras comuns básicas sobre a organização, o governo e o funcionamento das ordens profissionais", para "definir de uma vez por todas as atribuições das ordens na regulação do acesso à profissão, pondo termo a abusos que não podem continuar."
Ora o que chama a atenção, é aquela particular qualidade de "presidente do CEDIPRE".
O que é o CEDIPRE? É um "instituto de investigação e pós-graduação da FDUC", na Universidade de Coimbra, portanto.
Para além disso, é uma associação de direito privado sem fins lucrativos, que se rege por estatutos e pela lei, com sede na própria FDUC, ou seja nas instalações da Universidade pública.
Como é que se relaciona esta associação privada, com a universidade pública?
Assim: por protocolo (!) que define a utilização de espaços, pessoas, instalações, equipamentos, e até a própria aquisição de livros. Além disso, toda a actividade académica da associação privada, deve ser aprovada previamente pela FDUC que também pode impedir actividades da associação, na escola. É também aí que se definem as contrapartidas da associação para com a escola pública. E que virão no protocolo.
Assim, a FDCU, manda nos espaços, no pessoal, no equipamento, nas instalações e nas iniciativas que a associação dispõe e exerce, no local que é da FDUC, ou seja, um local público, como é o de qualquer escola do Estado.
A Universidade de Coimbra, em face da lei, como os demais estabelecimentos públicos do ensino superior, tem uma amplo grau de autonomia, estatuária, académica, científica, pedagógica e naturalmente de autogoverno, com órgãos próprios.
É no exercício desta ampla e regalada autonomia que a FDUC e a Universidade, sustentam outras associações de direito privado sem fins lucrativos, em que participam uma boa parte dos professores da própria universidade.
Várias associações deste teor, apoiam e organizam quase dúzia e meia de cursos de pós-grauação, com duração variável e destinados a licenciados, em regime "pós-laboral", ou seja, nas últimas horas das Sextas-feiras e aos Sábados.
Quem frequenta estes cursos, de pós-graduações, paga bom dinheiro - a quem? À entidade privada ou à pública?- pela inscrição e pelas propinas.
Segundo as contas do CEDIPRE, por exemplo no ano de 2005, a maioria das despesas da associação, contabilizadas como "custos", foi para..."honorários" (sic). Isso, mesmo com altos patrocínios público-privados, obtidos por protocolo, de empresas com óbvias ligações ao Estado, como Anacom, ERSE, Banco de Portugal, Instituto de Seguros de Portugal e Instituto Nacional de Transporte Ferroviário.
Esta orgânica e esta mecânica de funcionamento dos cursos de pós-graduação, pode aparentemente estender-se às outras associações privadas que funcionam simultaneamente, nas instalações da FDUC, com pessoal da FDUC e com equipamento da FDUC, ao fim de semana e que ministram uma profusão de cursos e cursinhos de pós-graduação.
É certo que o propósito destes cursos e destas actividades é altamente louvável. Não é isso que está em causa, com esta exposição. São verdadeiras oportunidade de valorização cultural e profissional aquilo que oferecem. Mas...ainda assim, há anos que me intrigam. Cursos destes, em escolas públicas, num regime híbrido, porquê, exactamente?
Ocorre perguntar, como é que isto funciona, assim, com tanto curso e tanta gente, ligada umbilicalmente à universidade pública, agregada ao mesmo tempo em associações privadas, com as características que se conhecem e a funcionar deste modo e nesta- há que dizê-lo- promiscuidade do público com o privado que pelos vistos é vituperada em relação a certas instituições e neste caso- moita carrasco?
Directamente, então: quem é que mais ganha com isto? Os alunos? A universidade pública? Os docentes? E quanto a estes, como é que se compatibiliza a sua especial natureza de funcionários públicos, pagos pelo Orçamento do Estado, com o pagamento de "honorários", obtidos deste modo?
Quanto a estes, escusado será dizer que a ampla margem de autonomia, permite a contratação de juristas que também são profissionais de outras áreas que não o ensino, técnicos de outras profissões, etc. etc.
Estará certo, isto? Será este o ensino público que se pretende, deseja e incentiva? Que diferença fazem, neste aspecto particular e organizativo, das universidades que concedem brindes aos alunos?
Ficam as perguntas, com a promessa de retornar ao tema. Depois de saber onde e quais são os protocolos. Porque de facto, mesmo procurando, não os encontrei. Podem mostrá-los?
Publicado por josé 23:42:00
5 Comments:
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Anacolutos!
Sementes de valdevinos!
Almirantes de falua!
Bando de ratos!
No melhor pano cai a nódoa.A "massa" é que é a "mola" do interesse de tanta gente pela "cidadania" pois que na "sociedade civil" o pessoal não se safa.É mais compensador investir em trepar numa das belas tetas da porca.
Um escândalo o custo dum mestrado ou dum doutoramento.Nem quero imaginar os critérios de subsídio por parte do Estado e o que andam a subsidiar.Mas farto-me de ver psicólogos a intitularem-se "investigadores"
Com tanto estudo e investigação nas ciências sociais e ainda andamos na cauda das caudas?Ainda não conseguiram vender o "homem novo"?Aproveitem enquanto dura... sim porque vão ter uma abertura com as imensas massas dos alemães que estão por aí a começar a distribuir mas depois...
No melhor pano cai a nódoa.A "massa" é que é a "mola" do interesse de tanta gente pela "cidadania" pois que na "sociedade civil" o pessoal não se safa.É mais compensador investir em trepar numa das belas tetas da porca.
Um escândalo o custo dum mestrado ou dum doutoramento.Nem quero imaginar os critérios de subsídio por parte do Estado e o que andam a subsidiar.Mas farto-me de ver psicólogos a intitularem-se "investigadores"
Com tanto estudo e investigação nas ciências sociais e ainda andamos na cauda das caudas?Ainda não conseguiram vender o "homem novo"?Aproveitem enquanto dura... sim porque vão ter uma abertura com as imensas massas dos alemães que estão por aí a começar a distribuir mas depois...