O trovador militante












Adriano Correia de Oliveira, 25 anos de morto, em 16 de Outubro. Um dos ícones da Esquerda que no início dos anos setenta do século passado, cantou contra o Estado Novo de Marcelo Caetano, juntamente com José Afonso, José Mário Branco, Fausto, Manuel Freire e muitos outros. Alguns foram baladeiros; outros, compositores, como José Niza, a quem a música popular portuguesa deve dezenas de canções de muita qualidade e significado; arranjos e composições de cantigas de festival e populares e que merecia uma homenagem só por isso.

Adriano cantou poucos anos antes de 25 de Abril, as canções de Manuel Alegre, no Canto e as Armas e é a poesia de Alegre que remete para Adriano: “ Quem poderá domar os cavalos do vento/ quem poderá domar este tropel/ do pensamento à flor da pele?
Quem poderá calar a voz do sino triste/ que diz por dentro do que não se diz/ da fúria em riste/ do meu país?
Estas letras cantadas pela voz única de Adriano, soaram antes e depois de 25 de Abril de 1974. Não eram proibidas, ouviam-se na rádio, embora pouco e no disco Gente de aqui e de agora. As músicas, na sua maioria, eram de José Niza. Este disco de 1972, será talvez o mais emblemático do “trovador militante”, no dizer de Vital Moreira ( no Público, nestes dias, que vai publicar sete cd´s acompanhados de livretos com a obra de Adriano Correia de Oliveira

O trovador militante, nos anos setenta, cantava a liberdade, enunciada pelos poetas, como Manuel Alegre e Manuel da Fonseca. Liberdade? Que liberdade? A que surgiu no 25 de Abril, certamente, mas com um grão de sal: uma liberdade condicionada a um modelo de sociedade inclinado à Esquerda que nessa altura era a socialista, mesmo comunista; em alguns casos de democracia popular.

O idealismo de referência marxista, sempre pautou os “trovadores militantes”, como Adriano. Mais de trinta anos depois e 25 a seguir à morte do trovador, onde pára a liberdade cantada? Na bancada do PS, do lado esquerdo afectivo? Manuel Alegre ainda lá está, no lugar simbólico, onde continuam a congregar-se todas as ilusões.

O programa do PS, colocou o socialismo numa gaveta sem fundo e retomou ideias alheias, mesmo liberais ( credo!) que os desvirtuam, mas os idealistas, mesmo com protestos, ainda por lá andam. A deputar, cantar e a comemorar o passado. Sem futuro, a não ser na memória musical, aliás de grande riqueza e sentido.

Nota: as imagens são da revista Cinéfilo de 6.4.1974, como se vê, fazendo uns toc´s. O artigo em que se diz "naquela noite, no Coliseu, senti-me", nesse I encontro da canção ( meses mais tarde viriam os cantos livres), foi escrito por Mário Contumélias.

Publicado por josé 22:15:00  

3 Comments:

  1. Luís Bonifácio said...
    Correia de Oliveira só o António
    rb said...
    Meu caro José,

    Aprecio muito o modo como consegue distinguir a qualidade musical e poética indiscutível da mensagem e carácter políticos do autor. É que há muito boa gente que não tem essa capacidade de abstracção e só tem a perder por isso.
    Parabéns pela posta e pela lembrança: vou comprar!
    Fernando Martins said...
    Ainda bem que faz referência aos CD's do Público - embora politicamente não tenha nada a ver com ACO e os cantores de intervenção, estes ainda são dos meus cantores preferidos...

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