O trovador militante
segunda-feira, outubro 15, 2007
Adriano Correia de Oliveira, 25 anos de morto, em 16 de Outubro. Um dos ícones da Esquerda que no início dos anos setenta do século passado, cantou contra o Estado Novo de Marcelo Caetano, juntamente com José Afonso, José Mário Branco, Fausto, Manuel Freire e muitos outros. Alguns foram baladeiros; outros, compositores, como José Niza, a quem a música popular portuguesa deve dezenas de canções de muita qualidade e significado; arranjos e composições de cantigas de festival e populares e que merecia uma homenagem só por isso.
Adriano cantou poucos anos antes de 25 de Abril, as canções de Manuel Alegre, no Canto e as Armas e é a poesia de Alegre que remete para Adriano: “ Quem poderá domar os cavalos do vento/ quem poderá domar este tropel/ do pensamento à flor da pele?
Quem poderá calar a voz do sino triste/ que diz por dentro do que não se diz/ da fúria em riste/ do meu país?
Estas letras cantadas pela voz única de Adriano, soaram antes e depois de 25 de Abril de 1974. Não eram proibidas, ouviam-se na rádio, embora pouco e no disco Gente de aqui e de agora. As músicas, na sua maioria, eram de José Niza. Este disco de 1972, será talvez o mais emblemático do “trovador militante”, no dizer de Vital Moreira ( no Público, nestes dias, que vai publicar sete cd´s acompanhados de livretos com a obra de Adriano Correia de Oliveira
O idealismo de referência marxista, sempre pautou os “trovadores militantes”, como Adriano. Mais de trinta anos depois e
O programa do PS, colocou o socialismo numa gaveta sem fundo e retomou ideias alheias, mesmo liberais ( credo!) que os desvirtuam, mas os idealistas, mesmo com protestos, ainda por lá andam. A deputar, cantar e a comemorar o passado. Sem futuro, a não ser na memória musical, aliás de grande riqueza e sentido.
Nota: as imagens são da revista Cinéfilo de 6.4.1974, como se vê, fazendo uns toc´s. O artigo em que se diz "naquela noite, no Coliseu, senti-me", nesse I encontro da canção ( meses mais tarde viriam os cantos livres), foi escrito por Mário Contumélias.
Publicado por josé 22:15:00
Aprecio muito o modo como consegue distinguir a qualidade musical e poética indiscutível da mensagem e carácter políticos do autor. É que há muito boa gente que não tem essa capacidade de abstracção e só tem a perder por isso.
Parabéns pela posta e pela lembrança: vou comprar!