A Guerra começou

Não gostei do primeiro episódio da Guerra. Tecnicamente, ou seja da montagem, não gostei por aí além. E substancialmente, ainda menos. Demasiado palavroso no discurso directo de alguns intervenientes, repetitivo, e principalmente sem acrescentar novidade ao enquadramento político, do ponto de vista do país- do nosso país- na época.
Além disso, as imagens não revelam nada de especial em relação ao que se conhecia. Ocupar tempo com Holden Roberto, a explicar o que poderia bem ser explicado por outros, é apenas um exemplo.
Veremos o que nos reservam os restantes oito episódios, mas o sentimento geral, é de falta de objectividade e com um sentimento difuso de hostilidade em relação ao regime de Salazar.
Ainda não é desta que veremos um documentário com um mínimo de imparcialidade e objectividade histórica.
Mas...de resto, porque haveríamos de esperar tal coisa, neste contexto e com estes autores- jornalistas que passaram estes últimos trinta anos acantonados a ideias tipicamente de esquerda?

Ontem no Prós e Contras, um militar, tenente-coronel aviador, Brandão Ferreira, tipicamente de uma direita que apoiou a guerra do Ultramar, com a justificação do regime e com motivos patrióticos, discutíveis, mas que se devem ouvir, por respeito democrático e de equilíbrio de opiniões, foi manifestamente apupado, por militares presentes, seus colegas.
Este fenómeno denota que ainda não será tempo para se debaterem estes assuntos com serenidade. Duvido que a opinião de alguém como esse militar, seja devidamente ouvida, com o respeito devido, no programa da Guerra de Joaquim Furtado. Veremos.

Publicado por josé 22:14:00  

13 Comments:

  1. a.leitão said...
    Brandão Ferreira foi apupado (lamentavelmente). Não recordo no entanto que um mencionado guerrilheiro(?) da FRELIMO depois de ler uns apontamentos com um extracto de algo que M.Caetano tinha(?) escrito e a rogo da apresentadora convidado a dar a referência o não tenha feito, nada foi comentado.
    Diz que ainda não será tempo para debater-mos estes assuntos e eu diria que já é tempo de perdermos complexos e de puxar as calças para cima.
    Luís Bonifácio said...
    Pelo que vi o programa parece uma tentativa de branquear o Hitler preto e a sua SS (UPA)
    100anos said...
    Ó José, não leve a mal, mas o meu amigo tem dificuldade em aceitar certas coisas, talvez fruto de não ter vivido a ditadura.
    Este regime em que vivemos não é grande espingarda e começa a assumir contornos pouco democráticos – mas não se compara à miséria que era antes do 25 de Abril.
    Nos últimos 10 anos de ditadura (já sei que o meu caro embirra com a palavra “fascismo” e até lhe faço a franqueza de a deixar cair) ser da oposição era quase o equivalente a ser “de esquerda”, porque a direita estava quase toda nos braços do regime – ser da oposição, dizia eu, era já praticamente uma questão de pura decência.
    Ver os quadros do regime a falar na televisão era um exercício de masoquismo – eram tão baixinhos, tão roskov, tão bimbos, tão primários, que até doía.
    A Pide era o que V. está farto de saber, escuso de insistir na ideia.
    A guerra colonial (sim, meu amigo, “colonial”, a expressão “guerra do ultramar” foi inventada à pressa por quem sempre tratou as colónias como... colónias – vide Acto Colonial da autoria de Salazar salvo erro nos anos cinquenta – e sabia jogar com palavras) – a guerra colonial era um suicídio colectivo sem razão de ser, desesperado, fruto da ignorância da História – qualquer pessoa que soubesse um mínimo de História contemporânea sabia que o aparecimento de movimentos de guerrilha anti-colonial era o princípio do fim do colonialismo (países bem mais poderosos que o nosso souberam preparar a descolonização décadas antes de aparecerem movimentos anti-coloniais organizados – Grã-Bretanha, por exemplo).
    Outros, poderosos mas obtusos, tentaram ignorar os ventos históricos e apanharam no terreno a maior trepa da vida deles – vide EUA e o que lhes aconteceu no Vietnam.
    A vida cultural era subterrânea e era quase toda dominada pela esquerda – a direita dita “inteligente” não existia era mesmo estúpida, pura e dura...
    Meu caro José, se V. tivesse vivido a ditadura não podia deixar de ser da oposição.
    Não se espante por muita gente olhar para aqueles tempos com hostilidade: hostilizar aquela miséria moral e humana era e ainda hoje é um exercício de pura decência.
    naoseiquenome usar said...
    Pois meus caros: para quem estava nas colónias, filhos de militares (crianças como no caso, ou mesmo adolescentes), por causa da desditosa pátria e ficou sem escola, sem comida, sem nada e regressou de Nordatlas, e depois também foi "apupado" pouco interessa da história construída, apenas da vivida.
    Nada sabiamos de ditaduras, guerras, intereses, ONU e demais coisas. Simplesmente vivíamos. Numa paz fraudulenta. Respirando uma liberdade inexcedível e indescritível, quase selvagem e verdadeira. Com todos, pretos, brancos, mestiços, monhés ou outros.
    Até um dia.
    Em que foi forçoso vir de NOrdatlas.
    E passou a ser forçoso respirar um ar viciado.
    josé said...
    100 anos:

    EU vivi sob o tal "fascismo", ou seja sob o que prefiro dizer Salazarismo/Caetanismo. Sob a ditadura.
    Lembro-me bem como era. Não gostava de não poder ler nem ver, nem ouvir certas coisas que sabia existirem lá fora, mas ainda assim, havia no regime um aspecto organizativo e de aprumo que me impressionava.

    Com o 25 de Abril exultei. Sim, exultei, porque vi o que era ter liberdade de aceder a certos bens e a uma certa facilidade de expressão.
    Mas, a bem dizer, foi sol de pouca dura.
    Logo a seguir, na semana a seguir, o PCP e o PS tomaram conta disto como se fosse uma feitoria abandonada pelo dono que era o povo.

    Tomaram literalmente conta, com o apoio expresso e a vigilância timorata do MFA, dirigido por certos progressistas que se descobriram de repente, comunistas. Foi o caso do Vasco Gonçalves que ora defendia o modelo sueco, ora o cubano é que lhe servia e aceitaria depois o russo se tivesse tempo para tal.

    O Otelo nem se fala, basta ler as entrevistas.
    O intectual Melo Antunes é que caucionava o MFA. Esse o o Vitor Alves.

    Com estes personagens de opereta, como é que poderia esquecer a imagem antiga do regime anterior em que havia uma ordem que se perdeu, e não me refiro à ordem da ditadura e do respeitinho, censurado?

    Para mim, isto é tão claro que nem percebo como é possível certas pessoas desfazerem no regime de Caetano que era de seriedade e direcção. Como nunca mais foi depois disso Portugal.

    A pena maior que tenho é que em democracia parece improvável que se consiga fazer o mesmo que em ditadura, no campo económico e até social.
    No campo cultural houve um salto de gigante. Mas para dizer a verdade aproveitou pouco ao PIB.

    Eu não sou saudosista do Estado Novo ou do Salazar. Sou saudosista sim, de uma certa forma de estruturar as instituições- e não me refiro ao corporativismo, embora isso pudesse conversar-se.
    Sou saudosista de um modo de encarar o ensino como nunca mais houve. O que tem havido são experiências, sufragadas por todos os governos mas inspiradas em ideias completamente erradas e tidas como progressistas.

    Eu custa-me explicar como é que tenho imensa pena que a democracia não tenha gerado elites capazes de governar de foram decente e tenha pelo contrário gerado oligarcas de algibeira que se acoitam nos partidos maioritários, anos e anos a fio, de tal modo que se julgam donos disto tudo.

    O PS e o PSD estragaram a festa, pá!
    josé said...
    Quando comento o que Vital Moreira escreve, não o faço só pela pessoa em si. Realmente nem o faço pela pessoa em si, mas pelo que ela representa.
    Porque representa quase tudo o que considero errado na sociedade portuguesa:

    O comunismo que nos perdeu durante anos e ficou plasmado na Constituição como verbo de encher, mas ainda assim impediu de facto o progresso económico até meados dos anos oitenta, com o apoio expresso e total do indivíduo.
    A revolução cultural que Portugal sofreu no mau sentido, que se reflectiu no ensino que conseguiram estragar quase completamente.
    Na atitude face às tradições de um povo, com características rurais e com atraso de desenvolviento económico mas rico culturalmente.

    Depois disso, o vira-casaquismo par a apanhar a onda do poder real dos partidos, neste caso de um dito de esquerda que nem sequer o é de todo em todo.
    A seguir, a manutenção dos velhos esquemas leninistas de imposição de ideias erradas ( a meu ver), e a postergação de costumes tradicionais e com hostilização constante da religião católica.

    Logo, o oportunismo em fazer pela vidinha de certo modo e feitio sempre ligado ao Estado e a xuxar na sua teta.

    Depois, a falta de ideias realmente consequentes de organização político-administrativa, que se afunda em simplex de diletantes com a mania que sabem o que estão a fazer.

    A opinião arrogante e altaneira a sobrelevar tudo isso.

    Arre!
    100anos said...
    Concordo que o bloco central estragou a festa.
    Concordo que os comissários políticos produzem um discurso abaixo de qualquer suspeita que mete nojo.
    Concordo que o ensino, como outras áreas, está um caos.
    Concordo que Sócrates tem tiques autoritários confrangedores e lamentáveis.
    Concordo que Luís F Menezes é uma anedota na oposição.
    Mas não é por isso - longe disso, credo ! - que acredito por um segundo que seja que o 24 de Abril era preferível.
    Nem é por isso que desculpabilizo aquela cambada de dromedários/loucos/criminosos que atrasaram este país 48 anos e impuseram o analfabetismo e a ignorância como uma face da moeda, estando na outra a Pide, Deus, Pátria e Família.
    josé said...
    Nem é por isso que desculpabilizo aquela cambada de dromedários/loucos/criminosos que atrasaram este país 48 anos e impuseram o analfabetismo e a ignorância como uma face da moeda, estando na outra a Pide, Deus, Pátria e Família.


    Não foram eles que atrasaram o país, no meu entender.

    Foram os vindouros. Com os erros que a Espanha, com os mesmos problemas que nós e ainda piores ( as autonomias foram e são um problema pior que a nossa guerra no Ultramar), conseguiu evitar.

    Foi efectivamente a mediocridade de quem se instalou no poder de bloco central.

    Foi o Mário Soares e a sua proverbial indolência para o estudo. Foram as partidarites que geraram um sistema que n~
    ao funciona bem na renovação de elites, porque quem tem como capitão um Jorge Coelho, não precisa de dizer mais nada, porque ele é o retrato deste PS.

    Foram os ministros de Cavaco, com destaque para os da Educação ( Filomena Mónica escreveu sobre isso recentemente e de modo avassalador) e para os que supostamente percebiam de estatratégias económicas e ideias para Portugal evoluir.

    Foram os atavismo da Esquerda que só em finais dos anos oitenta percebeu que nãp valia a pena insistir em Portugal caminhar para o colectivismo ( a esquerda dita democrática porque a outra, a comunista ainda hoje acredita na bondade intrínseca da aventura irresponsável das nacionalizações).

    Foi isso, caro 100.

    O regime anterior, de execrável, tinha o sistema de censura e o condicionamento da liberdade. Era muito, mas não era suficiente para impedir que Portugal crescesse economicamente a um ritmo alucinante.
    Mesmo agora, se formos a ver os grupos económicos, havia mais grupos antes do que agora e o mito da concentração monopolista e do condicionamento industrial não impedia que se tivéssemos seguido o mesmo rumo, hoje em dia estaríamos bem melhor do que a Espanha- porque já então estávamos.

    Contesta?

    Quando falo do regime anterior, procuro ver as suas virtualidades positivas que eram importantes, principalmente no que tinha de essencial, na organização e qualidde de uma certa elite que se transmitia ao povo em geral.

    Quem acabava os Cursos Gerais do COmércio ou os Cursos Técnicos Industriais, mesmo sem possuir licenciaturas, detinham mais saber teórico-prático que muito sengenheireiros hoje em dia. E isso era resultado de políticas concretas de governo.

    Quem seguia para as faculdades, sabia ler escrever e contar bem. Hoje em dia, não sabem e têm uma cultura inferior à média daqueles tempos. Isso nota-se e sente-se depois nos que vão para o governo, tomam conta dos partidos e dizem publicamente "vocês há-dem ver!"
    É apenas um síndroma, mas é um exemplo da realidade com que passamos a viver. E são esses medíocres que passaram a definir políticas, orçamentos de estado e grandes opções do plano.

    Dantes, havia medíocres, mas não chegavam tão depressa aos escalões superiores do mando público.

    Hoje temos a honra de ter um primeiro-ministro com um percurso académico que envergonha qualquer pessoa, e mesmo assim, é louvado publicamente pelos seus apaniguados comose fosse um exemplo.
    E como nada sabe, predispõe alguns milhões para pagar pareceres a técnicos que pouco sabem também- mas enchem os bolsos.
    O Simplex é um exemplo concreto. A aposta nas novas tecnologias é outro. As novas oportunidades são perdas de tempo e dinheiro do modo como estão.
    Mas é assim a vida, como dizia o outro medíocre que conseguiu enganar muita gente durante algum tempo.

    Não me venha com a cantiga do fascismo, porque estes exemplos que enumerei envergonham qualquer português.
    jbp said...
    muito bem dito, josé!
    100anos said...
    Caro José,
    Espero que tenha reparado que partilho o seu desencanto relativo ao regime dito democrático - nada a dizer, portanto, no que respeita à crítica aos políticos actuais, são mesmo do piorzinho.
    Mas isso não deve servir para branquear as responsabilidades dos que mandavam no 24 de Abril.
    Veja as diferenças com a Espanha: enquanto Salazar manteve Portugal parado e quedo durante décadas, na Espanha Franco deu um significativo impulso à industrialização e ao desenvolvimento económico.
    O fascismo espanhol soube ser bem mais esclarecido do que esta porcaria de ditadura clérico-fascista doméstica que nos calhou em sorte.
    Temos um problema de falta de qualidade que é constante: também o "nosso fascismo" teve menor qualidade, mesmo do ponto de vista estritamente fascista, que a ditadura espanhola; se isso aconteceu com a ditadura, claro que acontece por maioria de razão com a democracia.
    Saliento que concordo que os exemplos que enumerou envergonham qualquer um - mas defendo que os tempos anteriores ainda envergonhavam.
    100anos said...
    Peço desculpa, o último parágrafo do comentário anterior saiu truncado (uma gralha fascista terá aterrado no texto...).
    O que eu queria escrever era que
    Saliento que concordo que os exemplos que enumerou envergonham qualquer um - mas defendo que os tempos anteriores ainda envergonhavam mais.
    JPG said...
    Link para o Prós&Contras, 15.07.07:

    mms://195.245.168.21/rtpfiles/videos/auto/proscontras/pcontras_2_15102007.wmv

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    pandacruel said...
    O que é confrangedor é ver, nas horas ditas nobres, nos media, apenas, ou quase sempre, novelas anestesiantes, desporto profissional enrolado em intriga com fundamento e, de quando em quando, quiçá semanalmente, a tendência para a terapia colectiva, olhando as ruínas, os fragmentos em que cada um porventura se espelhe. Assim, o futuro não chega. Isso é serviço público de televisão? Estamos a fazer bem a algo, a alguém ou, ao menos, a nós próprios? Vou ali e já venho.

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