Ciclo Clarice Lispector: capítulo II


«Se o leitor possui alguma riqueza e vida bem acomodada, sairá de si para ver como é às vezes o outro. Se é pobre, não estará me lendo porque ler-me é supérfluo para quem tem uma leve fome permanente. Faço aqui o papel de vossa válvula de escape e da vida massacrante da média burguesia. Bem sei que é assustador sair de si mesmo, mas tudo o que é novo assusta»

in «A Paixão Segundo G.H.», romance publicado em 1964, talvez o seu melhor livro. As iniciais G.H. referem-se a 'Género Humano', sobre o qual a autora discorre em todas as suas obras
"...uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente"...
«Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida»
Tudo o que Clarice escrevia tinha uma marca de água e era matéria para pensar. Até ao próximo dia 9 de Dezembro, data do 30.º aniversário da sua morte, a Grande Loja dedicará um ciclo à escritora brasileira, nascida na Ucrânia e que chegou a Maceió aos dois meses, tendo vivido a maior parte da sua vida no Brasil, com passagens pela Europa.
Escritora surpreendente, por vezes cortante na frieza das suas análises, aliava uma visão quase cruel da existência com um lado místico que chegou a levá-la a participar no Congresso Internacional de Bruxas, na Colômbia, em 1975.
Carlos Drummond de Andrade, um dos maiores intelectuais brasileiros do século XX, definiu-a assim:
«Clarice veio de um mistério e partiu para outro. Continuamos sem conhecer a essência desse mistério. Ou talvez não fosse essencial descobri-lo, pois o mais importante era Clarice viajar nele».
Para conhecer ainda mais sobre Clarice Lispector, pode consultar «http://haialispector.blogspot.com», um blogue de José António Barreiros exclusivamente dedicado à escritora.

Publicado por André 01:19:00  

1 Comment:

  1. José António Barreiros said...
    Bom dia.
    Muito obrigado pela referência. Tenho prosseguido, esgotado o tempo, a eternidade desta escrita invulgar.
    Um abraço
    jab

Post a Comment